Mindelo espera por nós, mas mais lá para o fim do dia. Com um voo marcado para o meio da tarde há que preencher a manhã por aqui, pela Praia. E a escolha recaiu sobre a Cidade Velha, já visitada mas sempre um local a regressar. Porque não? O Tarrafal fica demasiado longe e pela cidade, entre o que há para ver e as paragens um pouco arriscadas para cruzar, já está tudo feito.

Escrever sobre um dia assim é um pouco ingrato, porque as paragens já foram descritas mas chegam muitas fotos novas. Mais imagens do que texto, fica algo assim a modos que desequilibrado, mas vamos lá…

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Ao contrário do Sábado da véspera o mercado da Sucupira está ao rubro. Domingo é a loucura. A febre comercial transborda das paredes do mercado, a rua é invadida, num chuveiro de cor e animação. Há pilhas de roupa pronta a ser vendida que apresentam semelhanças com pirâmides onde se pode mergulhar, quase nadar, entre algodão e seda. Mas a passagem por aqui é circunstancial e inevitável. Queremos é o aluguer para a Cidade Velha, que lá está, no local do costume.

Sem problemas, aguardamos até encher e a viagem inicia-se, não tão animada e colorida como a da primeira expedição. Há uma paragem prolongada na estação da Shell em Terra Branca e depois, quase sem mais aventuras, directos à Cidade Velha.

É Domingo mas nada muda. Na praia trabalha-se, um grupo de rapazes recebe uma embarcação carregada de peixe chegada há pouco. Pescadores trabalham nas suas redes. Dois meninos transportam baldes de água quase do seu tamanho. Chuvisca. O tempo continua fraquito.

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Vamos pela rua da Banana. É mais um esticar de pés, um rever de casas já vistas. A variação vem a seguir. Morro acima pela estrada que prossegue para norte. É um caminho calcetado, está a chover. Por duas vezes abrigamo-nos sob copa de árvores frondosas com o engrossar das gotas. Passamos junto a um empreendimento de luxo que desconhecia, ali, tão escondidinho. Tenho a vaga ideia de alcançar as ruínas de um dos fortes antigos, mas não consigo. Creio que se encontra em terreno vedado, e da estrada nem há contacto visual.

Acabamos por regressar para trás. O passeio não foi mau, tão pouco desagradável, mas acho que consumiu demasiado tempo, já temos que pensar em regressar à Praia. Na Cidade Velha sentamo-nos numa esplanada à beira do mar, quase beijada pelas ondas que atacam os seixos negros que constituem aquela praia grosseira, enrolando-os com um som característico, rouco e abafado, como se viesse das entranhas da terra, como que a cada vaga se desencadeasse um pequeno tremor de terra privado.

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A cervejinha gelada estava óptima, mas por outro lado, para mim qualquer cerveja gelada bebida no calor desgastante de África é sempre excelente. Ainda lemos um pouco, só o suficiente para descontrair, e fomos até à praia, já que chegava outra embarcação, esperada em terra por um batalhão de ajudantes.

Das redes desenvencilhavam o peixe, atirando-o para uma pilha. Hoje não há vagar para peladinhas na areia escura, mas um grupo de estudantes em visita de “trabalho” vai ao banho, brinca na água. É a descontracção depois do trabalho. Momentos antes agrupavam-se em redor do padrão, escutando uma colega que apresentava o trabalho, ali, naquela sala de aula ao ar livre.

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No que resta da catedral os catraios fizeram o seu campo da bola para Domingo. Mais pequeninos que os adolescentes do outro dia na praia, jogam o seu desafio em grande alegria, muita risada, muito sorriso de orelha a orelha. Os golos sucedem-se, mais para este lado do que para o outro. Claramente a escolha das equipas não foi justa. É uma boa oportunidade fotográfica.

Já que ali estamos, uma passagem pela ruína moderna com vista para o mar e o dia da Cidade Velha chega ao fim. Resta descer até à praça, esperar pelo aluguer. No centro da espécie de rotunda a venda de frutas e outros bens está montada. Esperámos um pouco, veio a carrinha, que demorou eternidades a encher. Sem stress, ainda temos imenso tempo.

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À chegada o mercado estava tão animado que não resistimos a uma passagem. Os “alugueres” nem tinham acesso aos seus pontos de partida habituais, estava tudo entregue aos vendedores, aos clientes e aos passeantes. Tomar nota: melhor altura para visitar o Mercado da Sucupira é ao Domingo à tarde.

Fomos até casa, arrumámos as coisas, deixámos alguns abastecimentos guardados para a futura passagem pela Praia, saímos para a rua. Apanhar um táxi é fácil, é sempre fácil. Há imensos e na minha experiência os condutores são relativamente honestos e não levantam problemas. E por regra são baratos. Excepção feita à golpada do aeroporto. São apenas 3,5 km mas mesmo durante o dia dificilmente se consegue um preço abaixo dos 800 Escudos. Cerca de 7,50 Eur, uma diferença abismal para os trajectos urbanos, que para distâncias equivalentes se fazem por 200 ou 250 Escudos.

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O primeiro taxista que encontrei era um rapaz “muita dread”. Quanto era para o aeroporto? “Pode contar com 1000 Escudos”. E eu… “Ah OK, obrigado, vou a pé então”. E ele, logo muito agitado, como quem diz, ai meu deus estraguei o negócio: “700 Escudos!! 700 Escudos!!”. Ah bom, está bem.

Cinco minutos depois chegávamos ao Aeroporto Internacional Nelson Mandela, que para nós não seria internacional naquele dia. Era apenas caso de um voo doméstico inter-ilhas, que demoraria cerca de uma hora a chegar ao Mindelo.

Logo percebi em primeira mão porque é que o nome popular para os TACV é Transportes Atrasados de Cabo Verde. Foi olhar para os monitores que indicavam as partidas e ver um atraso de mais de duas horas para este voo. Um mal menor, considerando que a ligação da noite estava cancelada. Foi esperar, que mais fazer… esperar e beber uma Coca-Cola e comer um bolo yummy, pagos pela companhia, para compensar pelo atraso.

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Pelo menos não houve mais surpresas. À hora estabelecida já estava dentro do pequeno avião. O meu primeiro voo num avião a hélice. Aeronave impecável. Tirando o atraso toda a experiência foi excelente. Pena os vidros estarem embaciados entre si, não deixando apreciar as vistas do pôr-do-sol.

A chegada foi normal. Já tinha caído a noite e o taxista pediu um valor muito razoável, já nem me recordo quanto, mas abaixo do que tinha sido indicado por uma moça que vinha conosco no avião e a quem perguntámos qual era o preço do transporte para a cidade. Talvez 700 Escudos.

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Apesar de ainda estar no mesmo país senti aquela excitação de chegar a um lugar novo, de avião… tudo é diferente, o que me aguardará…?

O taxista conhecia o hotel, deixou-nos mesmo à porta. A rua vai numa loucura. Tanta gente. A cidade fervilha, há um ambiente de festa. Isto é o Mindelo, já me tinham dito. A capital cultural de Cabo Verde, o local onde há sempre algo a acontecer. E é verdade. O lugar de pernoita foi uma bela escolha. Tomei um duche quente, um luxo de pura pressão, já me tinha esquecido de como era. E depois, para a rua!

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As primeiras impressões são muito agradáveis. O Mindelo é lindo. Tem um palpitar de cidade portuária, com os seus bares e restaurantes perto do mar, um toque britânico no estilo, que se dilui na inevitável influência portuguesa. Há muitas casas coloniais, pintadas em cores garridas, muitos cafés atractivos. Mas pela negativa, muitos turistas e, pior, muita gente “estranha” a rondar. Nunca me senti confortável no Mindelo e no fim isso arruinou-me a experiência e não me deixou vontade de regressar. Mas para já estava tudo bem.

Chegámos a um ponto em que já havia pouca gente e de facto quis regressar. Acabámos a beber um delicioso ponche de coco num quiosque que recomendo vivamente na praça principal, onde se usufrui de Internet gratuita, se for necessário.

P.S. – Esqueci-me das fotos do mercado. Vão a seguir:

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