A partida de Faro. De autocarro, para Sevilha, numa tarde assim tristonha de um Outubro que se pintou de Inverno. A ligação custa 18 Eur. Mas o pior é a duração da viagem. Junto à marina de Faro, enquanto faço tempo para a horada partida, ligo o GPS. A casa do meu amigo Alfonso encontra-se a precisamente 175 km. Para vencer essa distância, que por estrada não é assim tão superior, são precisas quase cinco horas. Um pouco menos do que o tempo de voo até São Tomé e Principe. O problema é a elaborada rota, que intercala idas à auto-estrada com troços na “nacional” e as paragens em estações onde ninguém entra nem sai, como,desta vez, foi o caso de Olhão. E depois há aquela paragem para descanso em Huelva, que põe mais vinte minutos no total.
À chegada a Sevilha sinto logo um calor asfixiante. Já estamos no Outono, mas mesmo em t-shirt chego a casa do Alfonso empapado em suor. Entretanto a noite caiu por completo. Sou esperado para jantar.Já conheço este amigo há uma série de anos, mas nunca estive em casa dele. Costumo bater dois dedos de conversa com ele, tipicamente em frente ao seu escritório, onde por vezes deixo o carro quando parto numa viagem a partir de Sevilha. Desta vez foi diferente.
Depois do jantar, já com o resto da família recolhida, fomos dar uma volta a pé. Apesar de serem onze horas, Sevilha não está a dormir. As ruas não estão no seu climax, mas mesmo assim há gente, há agradáveis cafés e bares, relativamente desafogados, mas mesmo assim com clientela.
Alfonso mostra-me alguns aspectos de Sevilha. Paramos junto a uma farmácia instalada num edíficio centenário, com a loja decorada em mosaicos fascinantes e os dois andares de cima ainda ocupados pela familia que há décadas inaugurou o estabelecimento.
Passamos junto a um dos sítios onde os locais vão quando querem sentir a festa do flamenco. Andamos por ali, a ver se a anunciada chuva começa a cair mas nada. Tenho que acordar às 4:30, por isso abreviamos a passeata, e chegamos a casa depois de nos determos por duas vezes junto a amigos do Alfonso. Tomo nota do ambiente familiar do bairro.
O despertador toca. Levanto-me, visto-me e caminho os cerca de 1200 metros até à paragem do autocarro para o aeroporto, na rua fronteira à principal estação de camionagem de Sevilha, aquela de onde parte e onde chega a camioneta que faz a ligação com Faro. O processo levou-me menos tempo do que o planeado: precisamente 17 minutos após acordar estava lá. Apanho o das 5 da manhã, chego ao aeroporto sem novidade, tudo decorre dentro da normalidade.
Roma, o caos. As pessoas acotovelam-se para passar à frente nas filas para os autocarros. O meu, da Terravision, tarda em chegar. São 10:15 quando me afasto do aeroporto. Mais à frente, o trânsito intensifica-se. Quando estamos a 6 km, em linha recta, do centro, já se percebeu que algo vai terrivelmente mal. Dali não anda. As pessoas começam a abandonar o autocarro. Hesito mas acabo por as seguir. Será uma boa caminhada.
Correu bem. Apesar da distância já estávamos no centro, e assim o passeio desenvolve-se por avenidas clássicas, até chegar à zona histórica. Dou uma espreitadela no coliseu, ando por ali, vejo coisas que não imagino o que sejam, mas que certamente estão carregadas de significado histórico (considerando os magotes de turistas que circulam em seu redor). Passo por uma zona muito agradável, feita de estreitas ruas de ambiente intimista, quase dentro do género da nossa Alfama. E acabo por encontrar o Vaticano, que espreito de fora, sem grande interesse em entrar. Depois subo a um monte adjacente, de onde se tem uma vista notável sobre a cidade. O dia foi passando, já começo a olhar para o relógio. Devo apanhar um comboio às 19:02 para o bairro do meu anfitrião. Ainda tenho quase duas horas para percorrer os 3 km que faltam, mas como piso terreno desconhecido e como já levo 17 km nas penas – com carga completa – a vontade para continuar a explorar é reduzida.
Desco o monte pelo lado oposto. Atravesso o rio. Venço alguns problemas para adquirir o bilhete e encontrar a entrada certa mas lá estou eu a postos, ainda a tempo de apanhar o comboio anterior.
Parco Leonardo é um empreendimento recente, marcado pelo enorme centro comercial e pela curta distância apo aeroporto de Fiumicino, o principal de Roma e o maior de Itália. O meu futuro amigo está algo atrasado, envia a namorada ao meu encontro. Depois chega. Como quase sempre são precisos alguns instantes para quebrar o gelo mas passado um bocado está tudo a correr nos eixos. Vamos jantar com um amigo dele. E, por fim, descansado, num confortável sofá onde me preparo para recuperar das três horas de sono temperadas com 20 km de marcha com mochila às costas. Durmo bem.
Acordo a tempo de me despedir do Maurizio que sai para o trabalho. A namorada, que é enfermeira e inicia o turno depois do almoço, ofereceu-se simpaticamente para me levar ao aeroporto. Poupei a incrivel quantia de 8 EUr para fazer 2 km de comboio.
Tomámos o pequeno-almoço em casa, e entre conversa e preparação da mochila, chega a hora. Seguiram-se duas surpresas, e ambas agradáveis.
Primeiro, a eficiência deste aeroporto, onde tudo flui de forma eficiente e com rapidez. A verificação de segurança, por exemplo, é ajudada por longos tapetes rolantes, e por um sistema que vai colocado cestos vazios de forma semi-automática. Assim os passageiros têm tempo de preparar o material para inspecção e quando chegam à sua vez as coisas são mais fáceis. Mas isto é apenas um exemplo. Todo o aeroporto está bem organizado e dá mostras de um funcionamento exemplar. E daqui passo para a segunda surpresa, que foi um igualmente agradável serviço por parte da Pegasus. Esta low-cost turca tem métodos muito pouco low-cost: lugares marcados (o que me desagrada), bagagem de porão até 20 kg, monitores no habitáculo com a habitual informação sobre o voo e o seu desenrolar… nota positiva para a companhia, e se isto foi uma surpresa, muito se deve ao caos e total inoperacionalidade do seu website. Esperava problemas e não tive nenhuns. Ia até receoso com o peso da bagagem de cabine, limitada a 8 kg, mas ninguém se importou com nenhuma verficação.
A chegada abalou-me um bocado. Não esperava pagar visto e afinal tive que largar 15 Eur. Pedriram-me 40 Eur por um SIM turco. Nem pensar! Depois, perdi o autocarro, estava a chover. Desagradável. Muito trânsito a caminho da cidade, auto-estradas e auto-estradas cheias de infindáveis carros, parados ou em marcha lenta, durante 20 ou 30 km. Os suburbios são tristes, fazem-me lembrar que estou a entrar numa cidade de 20 milhões de habitantes. Já no centro, está um frio imenso. Pelo menos parou de chover. Encontro o metro, as coisas correm relativamente bem. As comunicações vão ser um pesadelo nesta viagem. São 2 Eur por min e 0,50 Eur por SMS. Largo logo 2,50 Eur para combinar com o meu amigo o encontro. Mas pronto… finalmente estou em casa. A reunião de amigos que ele tinha organizado, e que eu esperava que fosse divertida, saiu exactamente ao contrário. Passar 5 ou 6 horas sentado ao computador enquanto sete marmanjos falam em turco não serviu para me levantar a moral.