19 de Janeiro de 2024
6:30. Toca o despertador. 7:00. O Fatih chega. Vamos a caminho do Vale dos Reis, considerado por muitos o sítio arqueológico mais relevante do mundo. Túmulos de monarcas, sucessivas gerações deles, ao lado das suas mulheres, noutra zona, com outra entrada, o Vale das Rainhas.
Procurava-se o deserto para criar um espaçamento para os salteadores de túmulos que anteriormente devassaram estes espaços criados com rigor para oferecer uma vida para além da morte com todas as comodidades que o sangue real mereceria.
Ali de onde eu estava a ficar, já na margem ocidental do Nilo, até ao Vale dos Reis, são uns 6 km. Tive alguma pena de não os percorrer a pé mas não estou no meu melhor momento físico. O percurso é pictoresco, com campos verdes do lado direito, alguns vestígios arqueológicos dispersos.
E, aquela hora, os balões de ar quente que se elevam, já a servir o segundo passeio do dia. Vejo-os no horizonte mas logo depois passamos junto à sua base.
Próximo do centro de visitantes do Vale dos Reis está um desses balões já no chão, aterrou ali, o que acho estranho. É enorme. O seu cesto, ainda cheio, tem umas vinte pessoas. Não é mesmo uma coisa para mim.
O bilhete para o Vale dos Reis custa 600 Libras. Cerca de 18 Euros com o câmbio oficial, mas muito menos se me referenciar pelo câmbio que tive no mercado paralelo. Além disso comprei um bilhete extra para o túmulo Ramses V / VI. Mais 200 Libras.
À saída do centro de visitantes há uns carrinhos eléctricos para os mais preguiçosos – que pelo que vi são basicamente todos – que percorrem uns 200 metros até ao portão de acesso ao complexo dos túmulos.
Aquela hora ainda há pouca gente. Relativamente pouca gente. Podia ter vindo mais cedo mas também não queria chegar ainda de noite. Mas mesmo assim a visita fez-se bem. O bilhete principal apenas dá acesso a três túmulos, à escolha do visitante e exceptuando os “premium”, claro.
Fui preguiçoso e basicamente segui o guião que encontrei num artigo recente de um blog de viagens e ali recolhi os três túmulos recomendados pelos autores que tinham visitado tudo.
Suponho que tenha sido uma boa escolha, apenas não gostei que um deles tivesse os elementos murais cobertos por vidro protector, o que não sucedia nos outros. Pelo caminho apanhei um pequeno susto: ao chegar ao segundo túmulo escolhido não encontrei o bilhete. Sem bilhete não há mais túmulos. Revirei os bolsos e nada. Tinha-o mesmo perdido. Fui andando até ao primeiro visitado e ali estava ele, caído no chão.
Deixei o túmulo pago à parte para o fim. À medida que o tempo avança chegam mais pessoas e os que são pagos têm menos visitas. A estratégia é começar pelos mais próximos do portão e deixar os “premium” para o fim.
Apreciação geral da experiência: como já escrevi noutra página, as maravilhas da civilização Egípcia não são para mim. Testemunhos de um passado bem distante também não são das minhas preferências em viagem. Dito isto, o que vi era agradável. Apesar do aumento brutal dos preços continuam a ter um custo razoável considerando a significância do local. Se me arrependo de ter usado o tempo e o dinheiro no Vale dos Reis? Behhh está lá mesmo no meio.
Portanto, dali, como combinado, fomos à casa onde viveu o arqueólogo inglês Howard Carter, porventura a figura maior do imaginário da Egiptologia, o homem que encontrou quase por acaso o túmulo de Tutankamon, intacto, raro sobrevivente não caído às mãos de salteadores.
A residência foi transformada numa casa-museu, e isto sim, é do que eu gosto. De sentir, fechar os olhos e imaginar o que aquelas paredes viram na altura. Cá fora um painel vai logo avisando que o recheio da casa não tem nada a ver com o que existia na época. Tudo foi perdido, mas reuniu-se o espólio possível para recriar o ambiente. A visita foi um pouco decepcionante porque os guardiões são chatos, não largam, com as suas explicações expectantes. E para piorar as coisas ia eu a meio chega uma excursão de asiáticos que encheu a casa. Pelo menos os outros deixaram-me em paz. Mas não me demorei muito.
A última paragem foi nos Colossos, duas estátuas enormes que se encontram junto à estrada, de acesso livre. É coisa para se ver em poucos minutos e assim fiz.
O que tinha combinado com o Remih era o regresso a casa, mas como sabia que ele vivia na cidade fiz-me convidado para uma boleia. Tinha que comprar o bilhete de comboio para Assuão no dia seguinte. Pois o bom homem não só me levou como esperou por mim na estação e depois deixou-me no embarcadouro do barco para a margem ocidental. E pelo caminho parou num multibanco para me trocar Euros por Libras Egipcias a um valor muitissimo bom para mim. Vamos ver, no multibanco 100 Euros dão-me 3.300 Libras e mais 3 Euros de taxa de levantamento. O meu anfitrião deu-me 3.500 Libras por 100 Euros. Mas Fetih deu-me 4.500 Libras. É uma diferença imensa. É mais 1/3.
Quanto ao bilhete, super simples. Estrangeiros não compram na bilheteira mas no escritório de informações. Eles têm lá uma folha com o preço e os horários, é só escolher e pagar, obrigatoriamente com o cartão de crédito. Paguei cerca de 15 Euros pelo bilhete em segunda classe de Luxor para Assuão.
Voltei para o meu lado do rio, sentei-me num café junto ao rio, com o meu livro, um chá de menta e um arroz doce. É o primeiro café restaurante de todos, já o tinha referenciado em Portugal. À minha frente um senhor alto vestindo roupas tradicionais, com lenço completo, anda para trás e para a frente, quase em movimentos de louco. Há ali umas crianças, devem ser netos. Mais tarde, foi a ele que paguei a conta, foi ele que me tentou sacar um pouco mais de dinheiro. Será provavelmente o dono do café.
E foi isto. Os dias de Luxor estão a acabar. Muito mais agradável do que esperava. Toda a gente tinha feito descrições de grande pressão dos vendedores de rua. Não achei nada de especial. Por outro lado os processos operacionais – usar Careem, encontrar comida, comprar bilhetes para as atrações, para o comboio – achei-os excelentes, tudo simples. E também o alojamento que escolhi, excelente. Gostei imenso de passar estes dias em Luxor.
Para fechar, já de noite, saí para jantar no mesmo local onde comi tão bem no primeiro dia. Desta vez não foi tão emocionante, havia vários clientes, não tive tempo para conversar com o dono. A comida estava boa mas apressei aquilo e voltei a casa para a última noite em Luxor.