Dias 21 a 23 Janeiro de 2024
E este foi o dia em que as coisas começaram a entortar. Acordei a sentir-me cansado e pouco disposto a grandes passeios. Pensei que talvez estivesse a ficar um pouco deprimido, atacado por uma vaga de energia negativa. Tomei o pequeno-almoço no terraço. Muito bom, espectacular. O pequeno-almoço e o terraço. Quem o serve é um jovem que fala numa espécie de inglês que dá para perceber uns cinco por cento, mas com um sorriso e uma boa disposição sem fim. Ao longo dos cinco dias que aqui estive habituei-me à sua alegria contagiante pela manhã. Ficará na memória.
Depois deixei-me estar naqueles sofás maravilhosos, li umas boas páginas do Pamouk que me entretém estes dias. Senti necessidade de sacudir a inércia, peguei na câmara e saí para uma volta na ilha, fui até à segunda aldeia, voltei por outro caminho, passei pela mesquita, por aquilo que me pareceu uma espécie de centro de dia para idosos machos.
Quando cheguei ao meu quarto estava tão cansado. Comecei a preocupar-me. E com alguma razão. A verdade é que passei as 72 horas seguintes no estaleiro. Quer dizer, nada de radical. Simplesmente nos três dias que vieram a seguir estive tão mas tão cansado que no pico nem me conseguia levantar sem um esforço enorme. Nunca saberei o que se passou ali. Uma pequena infecção? Tenho a ideia que não deixei ferver uma água com que fiz um chá. Talvez. Não sei.
Ao serão ainda fui experimentar o restaurante do lado. A refeição foi boa, a sobremesa também, o chá soube-me maravilhas. E no fim, o dono pediu autorização e sentou-se a conversar comigo em bom inglês, e esse momento foi dos melhores dos dias de Assuão.
Falámos da sua vida – passada em navios de cruzeiros e resorts no Mar Vermelho. De política egípcia, de Portugal e do Al-Andalus, do negócio de hospitalidade, das minhas experiências no seu país e planos para o resto da viagem, da sua família e futuro dos rebentos, de história do Médio Oriente. E de tanta mais coisa. De forma que quando saí, uma hora depois de ter terminado a refeição, me tinha esquecido do meu mal-estar. Temporariamente.
No segundo dia, o pior, pedi para me trazerem um termómetro. Sem febre. Trouxeram-me tanbém duas garrafas de água e um cobertor extra. Sentia tanto frio. Talvez normal, depois do sol posto Assuão ficava muito fria. Estive sempre na cama, a ler, a jogar xadrez, a fazer nada. A tentar entreter-me. A procurar informação sobre hospitais em Assuão. Ao serão encontrei forças para visitar o meu amigo do restaurante e comer uma tangine vegetariana que me soube melhor do que esperava,
Ao terceiro dia senti-me melhor de manhã. Mas de manhã, depois de dormir, tinha-me já sentido melhor anteriormente. Mas veio a hora do almoço, e depois a tarde, e aquele cansaço brutal acompanhado de dor nos joelhos não veio. Ao serão tinha quase como certo que o problema estava ultrapassado. E era verdade. De qualquer forma, por não me apetecer e por precaução, passei este dia mais uma vez a descansar. Só saí para comer uma bela omelete com um sumo de manga. Voltei para casa, vi o Sporting ser ingloriamente derrotado pelo Braga numa excelente partida de futebol. Li, vi um filme no Netflix. Adormeci a pensar que viria um novo dia. Sem problemas físicos.