Uma visita a Marrocos não estará completa sem uma incursão ao deserto e uma exploração adequada do vale do Draa e dos seus castelos e aldeias encantadas. A melhor base para abordar a região será Ouarzazate, uma pequena cidade de montanha localizada no Atlas, a cerca de cinco horas de autocarro de Marrakesh. Poderá voar até lá, quer num voo doméstico, quer, mais recentemente, em voos low cost da Ryanair desde Bordéus, Marselha ou Madrid (as rotas são muito dinâmicas por isso quando ler este texto esta opção poderá já ter deixado de existir).

E onde ficar em Ouarzazate? A resposta é simples: no Dar Rita. E porquê? Bem, primeiro, porque se reúne ali o melhor de dois mundos. Encontra-se no seio de um bairro tradicional, muito pitoresco e genuíno, Tassoumaat. Mas, uma vez no interior do Dar Rita, sente-se uma subtil alteração na atmosfera, há como que um toque português. E não é de espantar, porque os proprietários são os irmãos, João e Rita Leitão. Abriram o Dar Rita em 2011. E são os conselheiros ideais para ajudar a planear os dias de Marrocos ou para orientar nas deambulações exploratórias de Ouarzazate e da região envolvente.

As áreas comuns estão dotadas de um inconfundível espírito marroquino. Junta-se ali a realidade ao imaginário que quase todos transportamos. No piso térreo localiza-se a principal sala de estar, ladeada por alguns dos quartos de dormir. É ali que nos dias frios de inverno a lareira, a um canto, crepita. Enche a sala de calor terno, proporcionando serões reconfortantes, melhor passados com um bom livro e um copo de chá fumegante. Pela manhã o hóspede encontrará ali um rico pequeno-almoço, com muitos produtos locais, podendo regalar-se até aos limites do seu desejo.

Sala de estar comum

A cozinha fica também ali ao lado. É dali que provêm os deliciosos pratos de gastronomia regional, preparados a pedido, que se recomendam vivamente. Por mais anos que passem nunca esquecerei o gosto da refeição que me foi servida, depois de chegar, tarde, já perto da meia-noite, cansado e faminto. E das outras, as que se seguiram, durante os dias que por aqui fiquei.

Os quartos são confortáveis e, pela noite, oferecem uma repousante noite de repouso num silêncio quase absoluto.

No terraço encontra-se um espaço aprazível, ideal para relaxar, quem sabe, trabalhar um pouco, passar umas quantas páginas de um bom livro. Dali avista-se uma boa parte da cidade e num dia ameno podem-se ali passar horas a fio.

Um dos quartos do Dar Rita

É sempre um prazer sair e andar por aquelas ruas, cheias de detalhes muito locais, gentes interessantes, estórias por contar. Ao virar da esquina, a mesquita da comunidade, de onde emanam os característicos chamamentos para as orações diárias. Na estrada principal apanham-se com facilidade os autocarros que levam ao centro de Ouarzazate ou, se assim preferir, um táxi.

Em suma, os dias passados no Dar Rita em Ouarzazate foram uma doce memória que se gravou na minha mente. Há aqueles momentos. O delicioso jantar tomado na solidão da noite, depois de chegar tarde e mesmo assim ter aquele prato quente à minha espera. Os passeios pelas ruas envolventes, as conversas com a Rita e com o João, a simpatia do pessoal de serviço que me adoptaram quase como um membro da casa, as idas e vindas aos diversos pontos de interesse da cidade e os longos períodos que passei a usufruir da tranquilidade do Dar Rita, a trabalhar, a ler ou simplesmente a descansar.

Gostei especialmente de visitar os estúdios de cinema. Apanhei um táxi para cima, para baixo encontrei um autocarro local, cheio de mulheres, e meti-me nele. Das viagens mais divertidas que me lembro. No centro, gostei de deambular à toa e parar para comer uma deliciosa pastilla de pombo num restaurante ao acaso. E a partida foi gloriosa, a pé, do Dar Rita ao aeroporto, 3,5 km, a meio da madrugada, para apanhar o primeiro voo da manhã. Não que não fosse possível apanhar um táxi. Apeteceu-me. Foram dias felizes em Ouarzazate.

 

O exterior, revelando muito pouco dos encantos interiores, como é costuma na cultura local

 

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