Conhecendo razoavelmente São Tomé e Principe, especialmente a ilha maior, já por lá pernoitei em locais magníficos que darão uma boa série de artigos nesta rubrica destinada a estadias fabulosas.

Começo por uma casa onde fiquei duas noites em 2019. Em Novembro, na época que recomendo para visitar o país. Eu sei, a palavra corrente é “época seca”. Mas que querem, prefiro esta meia estação, quando chove umas horas, refrescando a terra e o ar, limpando a visibilidade, trazendo um azul carregado ao céu.

Ali, na costa oeste, a seguir a Pantufo e Santana de quem vem da cidade de São Tomé, há um pequeno refúgio escondido no verde sem fim desta vegetação tropical. Deixa-se a estrada principal, entra-se por um lugarejo de casario pobre e segue-se até onde não se puder continuar.

Encontra-se a recepção que serve um grupo de casas paradisíacas. Partilham uma área comum mas uma vez acomodados não teremos mais nenhuma sugestão de proximidade humana. E que não haja mal-entendidos: não se trata de um pequeno resort feito de módulos montados em série. Nada disso. Falamos de três ou quatro habitações, todas diferentes, cada uma com a a personalidade que o criador lhes deu, feitas de madeira em terrenos conquistados à mata tropical.

Recebeu-me uma jovem. Bonita, de olhos plenos de vida, uma boa disposição sem fim. Acertámos tudo. Recebi a chave, as instruções necessárias. Esclareci-me sobre um ou outro ponto, paguei. E encomendei o jantar e, para já, uma “nacional” fresca. Ou seja, uma cerveja de fabrico são tomense. Rosema é a marca, e prepara-se para os lados de Trindade, o povoado mais industrial do país.

Descrever aquela cabana à beira do paraíso é difícil, como sempre o é quando queremos falar de um sonho onde a perfeição finta a palavra escrita.

Está em parte sobre um socalco obtido a partir de uma encosta que cai, quase vertical, sobre o mar. Parte da estrutura assenta em estacas que suportam o terraço. O duche é num espaço exterior, e lavo-me com vista para o azul do Atlântico, muito denso, muito forte.

Tudo é madeira. Madeira e branco. Um conjunto perfeito para realçar o omnipresente verde e a cor do mar. Cada uma destas casas tem uma disposição diferente. Umas são maiores, outras oferecem melhores acabamentos. A minha era simples e pequena. Tão simples como eu gosto e do tamanho de que necessitava. Uma sala, um quarto e uma terraço onde cabe o paraíso.

Ali encontrei a perfeição, um refúgio onde poderia passar eternidade a criar, uma musa inanimada. Ainda saí um bocado, antes de regressar para o final da tarde naquela quietude, um livro na mão e a paisagem, de cortar a respiração.

Lá em baixo, nas ondas que rebentam longe da costa, há meninos que ensaiam uns movimentos de surf montados em toscas placas de madeira cortadas de forma improvisada. Aparecerão mais vezes, com um aceno e o branco dos dentes que à distância dispensam um sorriso feliz.

Cai a noite e chega o jantar, servido no terraço. Confesso que não foi a melhor refeição da minha vida. Nem dos meus tempos em São Tomé. Mas a experiência valeu tudo.

No dia seguinte repetiu-se a fórmula. Revisitar aquela parte da ilha, voltar a casa para usufruir da cabana maravilha.

Mesmo ao lado, numa praia semi-privada, o mar não dava descanso às areias. Estava bravo, zangado, com uma maré bastante alta. Esta ira conferia-lhe uma beleza que se quedou impressionada na memória daqueles dias.

E depois, estava na hora de partir para um outro lugar de sonho. Uma história para uma próxima ocasião. Fica também gravado o luar fabuloso que uma abertura nas nuvens noturnas nos ofereceu. O silêncio torturado pelos seixos que rolavam sem parar, movidos pela ondulação, como uma fábrica ininterrupta de areia, mais areia, a ser extraída daqueles calhaus. O silêncio e o farol, lá em cima, desenhando a branco, sobre o breu das águas.

Veja aqui a ligação para o anúncio AirBnB da propriedade. À data da redacção deste texto encontrava-se desactivado, mas estavam disponíveis algumas das outras casas do Yves, o francês (penso eu) que investiu neste projecto.

Para terminar, gostaria de deixar bem claro que não recebo qualquer compensação monetária por estas linhas que aqui vos deixo. Nem uma noitezinha por conta da casa. 

Fic

 

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