Os Invernos irlandeses não são famosos pelas excelentes condições metereológicas, e o de 2006 não foi diferente. Durante uma semana de Fevereiro o sol não se mostrou e nem uma nesga de azul veio alegrar o céu cinzentão. Mas há locais que ganham uma atmosfera especial em dias assim. E os círculos de pedras celtas pedem mesmo esta luz, mística, para melhor impressionarem o viajante.
Estava em Cork e quis conhecer o círculo de pedras de Drombeg. Tinha nas mãos um carro alugado, que permitiu a deslocação até aquele ponto perdido nos verdes campos irlandeses. As fotos que vi mostravam multidões de turistas descarregados de autocarros. Decididamente, não era o ambiente que desejava. Assim, fomos logo pela manhã, muito cedinho, aos primeiros raios de luz de um dia de semana. O estratagema resultou em cheio. O parque de estacionamento, que mais não era do que um círculo de terra sem erva, foi encontrado vazio, A aproximação é feita da melhor maneira, porque se caminha por um caminho rural e de repente tem-se aquela visão. Aquela que é a fotografia de hoje, o Ciorcal an Droma Bhig, como é chamado em gaélico, de um ângulo ligeiramente elevado. E ninguém, ninguém para macular o momento.
As dezassete enorme pedras, com uma altura de cerca de um metro e oitenta, ali estão, e é fácil imaginar druidas imundos, de faces marcadas pelo tempo e cobertas de cicatrizes rituais a dançar por entre os megalitos. De olhos fechados visualizo o pote contendo os restos mortais de um adolescente, que foi encontrado no centro do círculo quando o monumento foi descoberto para a ciência em 1957. Qual seria a história do infortunado jovem, que ali repousou para o que os seus contemporâneos pensaram ser a eternidade? Foi ali deixado, cerca do ano 800 aC, embrulhado num tecido grosseiro. E agora, ali estava eu, um intruso, numa manhã fria e húmida de Inverno, caminhando por entre as pedras do local fúnebre de uma sociedade cultural e temporalmente tão remota.