São Tomé, Novembro de 2012. Saimos da cidade de manhã, passámos a Conde, para norte, tomámos uma longa estrada esburucada em direcção à costa que nos levaria a Micolo, um pictoresco local da ilha. Dali, por um estradão de terra batida, prosseguimos até Fernão Dias, uma antiga roça feita local de martírio onde em 1953 milhares de africanos perderam a vida, vítimas de maus-tratos e de execuções sumárias naquilo que ficou conhecido como o Massacre de Batepá. Visitámos brevemente o local e prosseguimos em direcção a Morro Peixe, onde se encontra um centro de incubação de tartarugas marinhas cuja visita poderá interessar a alguns viajantes.
E foi ali que o vi, este menino aqui mantido em fotografia para a posteridade. Eu conduzia devagar o Suzuki Jimmy, a estrada era complicada, muito irregular. E ele estava de costas, observando a mota que também é protagonista nesta imagem. Talvez fossem os cromados, talvez as cores vivas. E de tão fascinado que estava que não sentiu a aproximação do carro. Sentindo que tinha ali uma fotografia com algum potencial, parei. Lancei a mão à câmara, e neste momento o gaiato apercebeu-se da minha presença e apanhou um susto tão grande que quase juraria que vi os seus pezitos levantarem-se do chão, como fazem os gatos em pânico.
Por alguma razão, não falei, sorri-lhe e levantei a câmara pondo na face uma expressão interrogativa, perguntando sem palavras se lhe podia tirar uma fotografia. Ele riu-se também, fez que sim, timidamente, e como menino envergonhado que era esboçou uma posse discreta – ao contrário de tantas outras crianças são tomenses que, vendo-se com uma objectiva pela frente, ensaiam posições teatrais.
E pronto, ficou assim. Chamo-lhe “Menino de Batepá” pela proximidade do dramático campo de morte que ali perto escureceu aqueles dias de 1953.