A cena tem lugar no deserto jordano de Wadi Rum, o mesmo que serviu de pano de fundo para o eterno filme Lawrence da Arábia, e actualmente explorado com grande tacto para fins turísticos. Chegámos logo pela manhã, procurámos a família de guias que nos mostraria o deserto e em cujo acampamento passariamos a noite. E foi logo ali que expliquei o que era o “Geocaching” e o quanto importante seria visitar os quatro ou cinco locais com “caches“. Um deles tem uma história curiosa: um outro “geocacher” tentou explicar ao seu guia o jogo, mas numa sequência de informações “lost in translation” acabou por ser conduzido a este local, onde não existia cache alguma, mas sim uma marcação talhada na rocha para um jogo beduíno ancestral de regras crípticas, que se poderia considerar aparentado com as nossas “damas”.
Ora não encontrando lá a tão desejada “cache” este outro viajante ficou tão entusiasmado com o que viu ali que decidiu, ele próprio, deixar lá uma, para que vindouros visitantes pudessem descobrir o local. E foi assim que o nosso jovem guia conduziu a viatura todo o terreno até ali. Mas a tentação era demasiada. Depois de encontrarmos o “tesourinho” que em primeiro lugar tinha chamado a minha atenção para aquele sítio, pedimos ao rapaz para nos ensinar a jogar. Ele sorriu, um sorriso tímido com o era, anuiu, e iniciou a preparação, que consiste na recolha de um certo número de peças espalhadas pela natureza. O jogador com as brancas procurará pedrinhas daquela côr mais ou menos das mesmas dimensões; já quem está destinado a jogar com as pretas, terá que encontrar fezes ressequidas de cabra, que têm a vantagem de serem de tamanho e dimensão homogénea.
Preparado o tabuleiro escavado na rocha desde tempos imemoriais, foi começar as explicações, complicadissimas. Claro que o nosso jovem amigo ganhou todos os jogos, sem grande esforço, mas ficou o momento, de pura aprendizagem, de serenidade, de estar ali, apenas com o silêncio do deserto como testemunha das nossas expressões de divertimento.