A cena passa-se no início do mês de Abril de 2014. Encontro-me num autocarro que faz a ligação entre Pnomh Penh, capital do Cambodja, e a cidade de Siem Reap, que funciona como base para a exploração das ruínas de Angkor Wat. A viagem vai sensivelmente a meio quando, ao atravessar uma povoação, uma quantidade enorme de veículos carregados de passageiros me chama a atenção.

Os são mulheres jovens, vestidas com cores garridas. Todo o cenário é intrigante. Qual será o sentido daquela aglomeração? Uma festa?

De súbito, apercebo-me que há sacos de água arremessados de um lado para o outro. As moças bombardeiam inclementemente tudo o que podem. A batalha não se limita às suas hostes. Transeuntes apanham o seu quinhão. Penso no nosso Carnaval. Entretanto o meu autocarro progride, pela estrada principal, e para trás fica o grosso daquele folclórico aglomerado. Há, mesmo assim, algumas viaturas que circulam. Duas delas, mesmo à nossa frente, trocam galhardetes aquosos.

Pouco depois o nosso condutor – por razões que só ele saberá – abre a porta do autocarro, e logo dois sacos de água se precipitam cá para dentro. O primeiro “explode” logo nos degraus de entrada. O segundo, vem cair aos meus pés, e apanho uma molha monumental.

Uns dias mais tarde tenho oportunidade de relatar o incidente ao meu anfitrião e pergunto-lhe se sabe o significado de tudo aquilo. Ele confirma uma das teorias entretanto levantadas: naquela localidade existe uma enorme fábrica têxtil. Quando acabam o dia de trabalho a multidão de trabalhadoras aligeira os seus humores regressando a casa em clima festivo, e os ataques com água fazem parte do divertimento. Muitas delas viajarão durante horas até chegarem às suas aldeias, para, no dia seguinte, reiniciarem o ciclo.

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