Um dia sobre o qual não será fácil de escrever. Foi bem preenchido. Limoges é linda, excelente para visitar, recomendável para um par de dias, talvez mais. Mas por outro lado foi um dia de turismo convencional. Poderia falar aqui das igrejas que vi, das pontes e praças históricas. Mas nestes diários não sou muito de abordar os detalhes históricos e arquitectónicos do que vejo. Sou um viajante que sente mais do que aprende. E no quarto dia em França, vi muito mas vivi pouco.
Depois de um breve pequeno-almoço, sair para a rua, para mais um dia muito agradável, com uma temperatura um pouco mais fresca que nos anteriores, a convidar para um longo passeio pela cidade. Estamos relativamente perto do centro, dá para ir a pé sem grandes trabalhos.
Depois de passar por algumas ruas relativamente desinteressantes, tirando um ou outro edifício com um toque mais histórico, chegámos a uma praça ampla, a partir da qual entrámos na zona dos talhantes. Zona medieval, onde se fazia o comércio de carnes. Toda ela parece ter saído directamente do passado. Cada casa ali tem séculos de vida. Aquela hora da manhã estava tudo muito morto, vazio, mas dava para perceber que com o correr do dia as coisas se animam. O comércio preparava-se, havia cargas de mercadorias, mesas que eram limpas, esplanadas montadas.
Calcorrear, descobrir padarias que vendem sandes de aspecto apetitoso por preços aceitáveis e kebab’s também com valores razoáveis. Fome não se vai passar. Continua-se a andar. Um novo bairro medieval, ou melhor, uma praça, que sobreviveu a séculos de reabilitação urbana.
Passado um bocado estamos em frente à Câmara Municipal, que é um edifício bonito de se ver. Há ali um jardim, com bancos e muitas sombras oferecidas por frondosas árvores. Ideal para sentar e descansar um pouco, retemperar energias.
A seguir vamos até outro ponto central, onde se encontra a catedral e um palácio magnífico, que nos dias de hoje alberga um museu de arte que me senti tentado a visitar… mas estava fechado. Dali, dos jardins do palácio, cheios de gente que vem até aqui relaxar um pouco a meio de um dia de trabalho, já se tem uma vista para o rio que corre pelo meio da cidade. Há uma fonte que faz jorrar água, uma visão refrescante numa tarde quente.
A catedral. Não sou pessoa de entrar em edifícios religiosos, mas fui espreitar. E fiquei fascinado. Um enorme órgão estava a ser afinado. Não havia ninguém no interior da imensa igreja. Frescura. Um interior imponente. Detalhes arquitectónicos, decoração religiosa. Um ambiente fantástico. Ouvem-se as vozes dos homens que trabalham no gigantesco instrumento musical. Trocam impressões. Mais uma tentativa e o som enche aquele espaço sem fim. Muito para ver. Uma infinidade de fotografias tiradas. Muito bom, recomendado.
Cá fora, outra perspectiva da catedral, do lado oposto. Ali colado existem os jardins botânicos, de entrada livre. Ficarão para mais tarde. Agora vamos dar uma volta nestes quarteirões mais junto à catedral, que prometem. E também quero visitar o Museu da Resistência, que tinha sido sugerido pelo Mathieu, nosso anfitrião.
Encontrado sem problemas, bilhete comprado. Mas decepcionante. A idea é boa, aliás, Limoges foi uma das cidades onde a Resistência francesa à ocupação alemã se fez sentir com mais intensidade. Mas para mim ficaram-se pelas boas intenções no que toca ao museu. É um espaço repartido por vários pisos de um pequeno edifício mas sofre de um problema: não tem colecção. O museu é apenas uma série de painéis informativo. Para mim aquilo não é um museu. Se eu quiser informação encontro na net. Sem problemas. Se venho a um museu é para ver algo mais. Objectos, conceitos museológicos de qualidade. Enfim, não recomendado.
Terminada a visita – salvou-se a exposição temporária, dedicada ao Jazz em Limoges no início do século XX – regressámos à zona da catedral, decididos a descer até ao rio e fazer um passeio ao longo das suas margens antes de regressar a casa.
Mais uma vez descobrimos recantos deliciosos de Limoges, ruelas com casas antigas, fontes e muitas flores. Vasos e gatos, crianças que brincam, pessoas que chegam a casa. Castiço e genuíno. Até que chegamos ao rio, que atravessamos, usando uma das diversas pontes medievais que em Limoges o cruzam.
Do outro lado do rio, um longo e agradável passeio. Pontes e mais pontes, todas elas charmosas. Pessoas que usufruem do espaço, que passeiam na sua cidade. Na cabeceira de determinada ponte há vários restaurantes e a fome tem vindo a apertar. Vêem-se preços que sendo mais altos do que em Portugal, são suportáveis. Um bitoque por 10 Euros, OK. Mas estamos fora da hora da refeição e nem pergunto porque de facto aquilo não tem ares de quem nos vai servir um almoço. Fica a merenda por um gelado Magnum e que se siga para a próxima ponte.
Uma casa ali à beira tem uma bandeira portuguesa hasteada. Ficamos a saber. E é um lembrete para o Mundial de Futebol que decorre. Não seria de resto a única que veria nesta volta pela França.
Refrescante passear junto à água, num dia quente. As sombras das árvores são bem vindas. Passa um barco a remos, impulsionado pela força conjunta de quatro pares de braços incentivados por um exigente timoneiro. O dia está a chegar ao fim. Ainda é relativamente cedo, mas a caminhada iniciou-se logo pela manhã e tem sido ininterrupta. Feitas as contas, ao chegar a casa, o GPS indicará mais de 20 km nas pernas.
Mas para já será necessário chegar à ponte mais próxima de casa, passando antes disso por uma outra, ferroviária, muito alta e antiga, que aliás, se vê das janelas dos nossos anfitriões. Atravessamos então a necessária ponte, já com o descanso à vista, mas antes há que fazer um desvio e encontrar um supermercado, assinalado na rua e confirmado no Google Maps. A fome está lá, saciada apenas temporariamente por aquele gelado. Mais um belo supermercado com tudo e mais alguma coisa a bom preço. Comprados mantimentos gerais e o que preciso para preparar um arroz doce para servir aos simpáticos anfitriões.
E por fim de volta a casa. Havia o projecto de sair ao serão para um festival de artes de rua que decorria precisamente nos jardins do palácio junto à catedral, mas já não houve coragem. E o serão foi como o anterior, de copo na mão, petiscos e muita conversa.