Lembrei-me deste artigo de repente, e pensei… “nah… toda a gente conhece isto”. Mas depois ocorreu-me que no fundo ninguém nasce ensinado e que se não me restam dúvidas que viajantes mais experientes estão fartos de saber o que são free tours, nem toda a gente o é e muitos poderão estar interessados.
O que se passa é que alguém teve esta ideia: é-se novo (ou não)… não se tem nada imperetível para se fazer no dia a dia, gosta-se de lidar com pessoas, tem-se uma paixão pela cidade. Então, porque não oferecer visitas guiadas gratuitas, não dizendo que não a uma gorjeta no fim do passeio? Toda a gente ganha. Os viajantes – muitos deles malta jovem e sem grandes orçamentos, vão dar uma volta, vêem as coisas com outros olhos, aprendem, podem até fazer amigos. Os guias, também quase todos muito jovens, basicamente fazem o mesmo… e algum dinheiro para levar para casa no fim do dia.
Não sei quando tudo isto começou mas um dia passou-me pela vista. Se calhar num blogue assim como o Cruzamundos, não sei. Mas sei que achei logo um conceito genial. Mesmo eu, que não gosto de visitas guiadas – nem de borla – acabei por me render e experimentei a Free Tour de Vilnius. Foi engraçado. Apenas engraçado. Mas se fosse cliente usual de guias, acho que teria achado fenomenal.
O melhor ponto de partida é o nosso amigo Google. Pesquise-se lá algo como “Krakow free tours” ou algo que contenha a o nome da cidade que vai visitar e a expressão “Free Tours” e veja os resultados. Nos dias de hoje já é rara a grande cidade que não tem alguém a oferecer este serviço e em muitos casos a variedade é enorme e torna-se uma questão de escolher a proposta que nos é mais apelativa.
As condições estão lá. O que importa: onde é o ponto de encontro? Quem é o guia? Como e quando nasceu o projecto? Quanto tempo demora e quanto é esperado que se vá andar? Talvez porque são visitas teoricamente gratuitas – na realidade ninguém espera que se vá embora sem deixar algum dinheiro no fim – muitas vezes o percurso não é revelado. Talvez seja melhor assim. Fica a surpresa.
Algumas free tours são organizadas apenas por uma pessoa. Outras fazem parte de redes de free tours, à laia de franchising (quando vivia em Praga cheguei a ser convidado para organizar uma free tour por lá sob a alçada de uma destas organizações). Algumas funcionam o ano todo. Outras, só na época mais turística. Algumas garantem que todos os dias há passeio, outras avisam que em determinados meses convém confirmar por e-mail se vai aparecer alguém para liderar a visita. São sempre informais, de ambiente jovem, mas não recusam ninguém.
Quase todas são feitas em inglês, e se houver excepções – raras – estarão indicadas no website dos organizadores. No final uma nota de 5 Euros (ou equivalente em moeda local) será considerada uma quantia adequada. E é geralmente dinheiro bem gasto.
Alguns exemplos:
- Free Tours na Polónia – Varsóvia, Cracóvia, Wroclaw.
- O Neno mostra Sarajevo.
- Num país caro como a Islândia as free tours são uma benção. E com uma alternativa.
- E em Portugal? Também há. Imensas. Fica apenas um exemplo.
Existem em algumas cidades variantes das populares free tours. Em Paris existe uma, os Greeters Paris, alimentada por voluntários que oferecem passeios individuais completamente gratuitos. Os candidatos a uma tour inscrevem-se, os elementos vão para uma base de dados e os voluntários escolhem o que lhes interessar.
Em Hanoi descobri uma organização estudantil – os Hanoi Kids – que proporcionam passeios de meio-dia completamente gratuitos, liderados por estudantes locais desejosos de conhecer estrangeiros, practicar inglês ou qualquer outra língua acordada e conversar e aprender sobre o mundo. Em troca dão o seu tempo, levam o viajante a locais onde poderiam não ter acesso, explicam o que se lhes perguntar, mostram uma face do Vietname mais intimista, mais pessoal. Tive a sorte de me ser atribuido um jovem estudante. Apareceu no hostel e fomos. Como guia era péssimo. Acabei por lhe explicar onde era o autocarro que precisávamos e levou-me a um sítio muito turístico, precisamente o que tinha dito por e-mail que não queria. Mas humanamente foi uma grande experiência. Acabámos o passeio a comer uns petiscos na rua, criou-se ali um ambiente engraçado com a dona do lugar e isso com a ajuda do meu amigo e da sua tradução. Explicou-me todos aqueles petiscos e foi um momento memorável. Na foto em baixo, o Cruzamundos e o guia vietnamita de volta dos pitéus.