Neste dia a noite não seria passada em Delhi. O dia sim. Todo. E pela manhã foi-se a um par de lugares de grande significado na história recente da Índia: a casa onde foi assassinado Gandhi e, não muito longe, a residência de Indira Gandhi, também ela abatida a tiro no seu lar.

Pela manhã, de novo, aquele percurso agradável, através de um bairro que fervilha de vida. Um autêntico museu da vida urbana na capital da Índia. A pé até ao metro, uns 15 minutos, que é como quem diz, cerca de 1 quilómetro, talvez mesmo um pouco mais.

De novo, viagem pacífica sem enchentes nem empurrões. Sair para o exterior noutra parte da cidade, uma zona moderna, de amplas avenidas e muitos espaços verdes. O céu está azul, a temperatura é amena e a mãe-natureza parece convidar-nos a caminhar. Com boa vontade o fazemos e rapidamente estamos na casa de Gandhi, a sua última residência, em cujos jardins perdeu a vida, quando se dirigia ao ponto onde habitualmente rezava com quem quer que o desejasse fazer na sua companhia.

Na casa existe uma exposição sobre a vida do líder indiano. Gostei especialmente de uma colecção de dioramas, muito bem feitos, algo idênticos ao que tinha vista num museu em Yogyakarta, na Indonésia. Fartei-me de fotografar aquilo. Todos eles.

No exterior podem-se ver uma série de memoriais. Há grupos de pessoas. Alguns estrangeiros, a maioria indianos. Ouço falar português. Não contando com Goa, claro, foi a única vez que ouvi português nesta viagem pela Índia.

A visita culmina no ponto onde Gandhi foi assassinado. A tiro, por um extremista hindu. Gandhi pagou com a vida os princípios que sempre defendeu. A tolerância para com os muçulmanos não foi tolerada e ali tombou, ferido de morte.

E que bonita dia estava. Luminoso, tranquilo. Os carros iam passando, mas o fluxo não era especialmente denso e a amplitude das avenidas como que desvanecia o ruído dos motores. De repente quase que parecia estar-se no campo, graças a todas aquelas árvores frondosas que ladeavam as faixas de rodagem. Foi portanto um prazer caminhar até ao ponto seguinte do programa, a residência da antiga primeira-ministra da Índia, Indira Gandhi. Foi ali, nos jardins, que foi assassinada por dois dos seus guarda-costas, quando passeava nos jardins. Tinha tomado uma decisão pouco diplomática ao ordenar, ou autorizar, o bombardeamento de um dos locais mais sagrados dos Sikhs. Algo que o seu pessoal Sikh não apreciou especialmente, como se imagina. Ora ter guarda-costas Sikhs, armados e por perto, era naquela altura um convite a uma desgraça, que acabou por acontecer.

A residência foi transformada num memorial, de resto, bastante interessante. A parte menos agradável é passar pelo apertado sistema de segurança, mais exigente do que os que encontramos nos aeroportos. Uma vez lá dentro encontramos uma série de salas com exposições diversas, ligadas à vida de Indira e da sua família, incluindo o seu pai, Nehru. Alguns dos compartimentos da casa foram deixados tal como eram quando ela ali vivia. Uma memória congelada no tempo.  E no exterior, o ponto exacto onde o crime ocorreu, à saída, a encerrar a visita.

Para a tarde uma tarefa que se adivinhava complicada mas que acabou por ser bastante simples: comprar os bilhetes de comboio que faltavam para o périplo pelo país. Alguns tinham já sido adquiridos para nós pelo gentil mas bizarro anfitrião. Faltavam ainda diversos outros e para os obter esperava encontrar o departamento para estrangeiros que existe na estação principal da capital indiana. Algo que de resto existe nas estações centrais das principais cidades indianas mas, segundo rezam os testemunhos de viajantes, o melhor mesmo é tratar das coisas em Delhi.

Encontrado o local foi só seguir as indicações dos funcionários, esperar um bocado e ser atendido por um mal-disposto mas eficiente individuo que em menos de nada me pôs nas mãos os três ou quatro conjuntos de bilhetes que me faltavam. Assunto resolvido em grande!

De volta a Connaught Place, centro funcional da nova Delhi. Era o final da tarde e a multidão enchia os relvados do centro daquele grande círculo. E as ruas. E as calçadas. Gente por todo o lado, mas não num sentido negativo, de asfixia. Pelo contrário, numa nota muito positiva, de actividade, vida, dinâmica. Amigos que se encontram, família que se reúne namorados que namoram.

Já não faltava muito para que a passagem por Delhi se concluísse. De regresso a casa, recolher as mochilas, relaxar um pouco e jantar (certo, de novo naquele restaurante agradável lá na rua). E depois, de Uber para uma estação ferroviária secundária, de onde partiria o comboio para Nawalgarh. Um nome pouco conhecido, eu sei. Não é Jaipur, nem Agra, nem Varanasi. Mas a isso lá iremos, no próximo artigo.

Para já a noite encontra-me numa estação de comboios rudimentar,  muito indiana. Muita gente espera os seus comboios. E agora é aguardar. Chega a composição. A bordo. Primeira viagem nocturna na Índia que na realidade não tem nada de especial. Já fiz disto em alguns países. Ucrânia. Tailândia. Vietname. Bielorrússia. Myanmar. Azerbaijão. São desconfortáveis e pouco agradáveis, fisicamente, interessantes para o observador do mundo.

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