E assim foi. Passou-se aqui a última noite em Goa e se existia ainda uma pernoita na Índia, seria mais uma proforma para deixar o país e regressar a casa. Acordei em Panjim pela última vez. Contrariado. Claramente gostaria de prolongar a estadia. Fui feliz em Panjim e estou decidido a regressar, até com mais tempo, porventura ficar um mês por estas paragens, alugar um apartamento ou algo assim, sentir o viver, mais do que o viajar.
Mas para já restaria tirar o melhor do último dia em Goa. E que melhor forma de o fazer do que concretizando um projecto que julgava já impossível, o de visitar um velho forte português. Há-os muitos, mas não facilmente alcançáveis de Panjim, e estava convencido que as distâncias não permitiriam aproximar-me de nenhum deles. Mas quem melhor do que o Roy para fornecer uma solução?
Reis Magos, pois claro. Basta apanhar a barcaça que cruza, mesmo daqui de Panjim, rumo a Betim, do lado de lá do rio, e dali negociar um tuk-tuk até ao forte. Não pensei que pudesse ser tão simples, mas foi. Fácil a bastante agradável.
Depois do último pequeno-almoço no Abrigo do Botelho lá fomos, caminhando até ao cais. Tudo nas calmas. Logo partíamos a bordo da barcaça, uma travessia que trouxe uma experiência mais. Ia cheia de pessoas que regressavam a casa depois de tratarem dos seus assuntos na capital. A maioria a pé, alguns de motorizada. O inesperado passeio fluvial foi mesmo uma surpresa positiva, durando cerca de dez minutos.
Já do outro lado logo encontrámos um condutor de tuk-tuk disposto a oferecer o transporte pelo preço justo e em menos de nada estávamos frente ao forte. Ainda se encontrava fechado, mas faltavam apenas alguns minutos para abrir ao público. Assim sendo fomos dar uma vista de olhos ao cemitério que se encontra por detrás da igreja, ali próximo. Nada de especial, mas mesmo assim uma excelente maneira de queimar aqueles minutos.
E depois, ao ataque ao forte. Bilhetes comprados à simpática funcionária, folha assinada declarando que foram entendidas as regras e condições da visita e entrar. Era mesmo aquilo que eu queria. Tocar o passado português, presente naquelas pedras, inquinadas pela propagada indiana que reserva um par de salas do restaurado forte para se apresentar. É melhor ignorar.
Explorados todos os recantos da fortaleza dos Reis Magos, incluindo a sua ala baixa, quase ao nível do mar, saímos, fomos até à pequena praia ali defronte. É fácil de perceber o posicionamento estratégico do forte e as dificuldades que qualquer atacante teria em o conquistar.
É um momento de tranquilidade, mas agora já vão chegando mais visitantes. Ainda bem que fomos os primeiros a chegar.
Caminhamos até à povoação de Reis Magos, a uma boa distância do forte, e ali apanhamos um autocarro para Betim. Ali, uma má surpresa: parece que existe um problema com a barcaça, uma avaria. A multidão olha expectante para as águas do rio, ouvem-se informações contraditórias. Que não tardará a vir, que já não haverá mais ligações naquele dia.
Bem, resta recorrer ao autocarro, agora congestionado com a falta da travessia fluvial. Já há muita gente à espera e quando chega fica rapidamente cheio, mas conseguimos entrar. Como sardinhas em lata mas lá chegamos a Panjim.
Está no fim. Bebo dois sumos de cana, a despedida desta deliciosa bebida, aqui comprada a preços ridículos. Mais uma volta pelo Bairro das Fontaínhas. O derradeiro passeio por um lugar que não quero deixar. Mas tem de ser. A última caminhada até à estação de autocarros e encontrar facilmente a viatura que segue para Vasco da Gama. De lá, apanhar outro autocarro que nos deixa mesmo junto ao aeroporto. Simples.
O voo para Delhi é célere, chegamos ao pouso para a noite, de novo com o mesmo couchsurfer e mais uma situação alucinada. Continuamos sem o ver. Jantar pouco agradável num McDonald onde, não estivéssemos na Índia, a carne de vaca está banida. Noite passada num quarto num consultório de advogados. No dia seguinte, para o aeroporto, logo pela manhã cedo. E de volta a Portugal.