13 de Janeiro de 2023
No primeiro dia completo na Índia não se passou muito. A noite tinha sido mal dormida, por causa dos cães de rua, sempre aguerridos, mesmo debaixo da nossa janela, nas suas batalhas territoriais sem fim. Deu para descansar da viagem louca em três voos da véspera.
A vista do quarto ainda está lá. Não foi um sonho. O lago Pichola e o seu hotel-palácio e todos os infinitos detalhes da cidade antiga, em seu redor. É a Índia e o ruído é incesante. Os cães recolheram-se mas agora é tempo de uma outra batalha, a da religião: mesquitas e templos budistas entregam-se a uma lua fratricida cujas armas exclusivas resultam em decibéis. Quem fizer mais barulho nas suas celebrações de fé, ganha.
Uma boa parte deste dia foi feita de pequenos falhanços. Explorada que estava a Udaipur mais central (na anterior visita), procurei coisas um pouco mais afastadas. Queria ir a um templo no alto da montanha mas caminhar até lá estava fora de questão.
Acertadas as coisas com um conduto de tuk-tuk lá fomos, apenas para descobrir que fosse como fosse teríamos que subir a montanha já que não existia uma estrada viável até ao topo. Isso ou o teleférico, mas não gosto muito daquelas caixinhas que sobem sem parar.
Estávamos agora noutra parte do lago. Ali perto um parque. Decidimos regressar ao ponto de partida, mas a pé, sim, já que não tinhamos ido ao templo, pelo menos para regressar ao centro haveria energia.
Antes disso perguntámos por um barco que nos levasse de volta, seguindo a sugestão do nosso anfitrião, mas parece que não existia tal coisa. E portanto, pés ao caminho.
A margem do lago é uma sucessão de espaços apalaçados, mas aparentemente todos eles estáo ligados ao palácio central, ainda hoje utilizado pela família real de Udaipur. Assim que atravessámos o simpático parque onde tínhamos iniciado o caminho de regresso, encontrámos uma entrada para o complexo palacial que ainda não conheciamos. Comprámos um bilhete para os jardins com a promessa que poderíamos sair pelo outro lado, já muito próximo de casa.
Uma multidão de visitantes vai entrando, um caudal ininterrupto de gente, mais um sinal das alterações que tiveram lugar na Índia após a pandemia: as pessoas ganharam o gosto de viajar no seu país.
A partir de determinado momento entramos em zonas já conhecidas. Da outra vez tínhamos entrado pelo lado oposto e ido até ali. Agora chegámos de outra direcção.
As pessoas organizam-se para o passeio de barco que parte dali do palácio. No hotel de luxo integrado no complexo – que no filme 007 Octopussy serviu de alojamento a um James Bond interpretado por Roger Moore – há um evento qualquer.
Por um instante perdemos o rumo para atingir a saída pretendida mas logo um simpático funcionário nos indica a via correcta.
Passamos junto à parte do palácio convertida em museu e a saída é logo a seguir. Estamos muito próximos de casa. Decidimos espreitar um templo. Um dos muitos que existem ali. Pareceu-me mais tranquilo. E de facto lá em cima, no interior, há uma calma surpreendente. Um indiano alimenta uma família de macacos, numa cumplicidade que se adivinha de longa duração.
Bem, estará agora na hora de descansar. O dia tem sido exigente. Quente, com jet lag e alguma caminhada. Mais uma vez apreciar as vistas do quarto.
Até ao pôr-de-sol seria um doce não fazer nada. Preparar para o espectáculo. Não o do astro-rei mas o de danças tradicionais. Em 2019 queríamos ter ido mas não havia bilhetes disponíveis. Desta vez, comprados com antecedência, tivemos mais sorte.
E foi um serão em grande. A primeira agradável surpresa foi a baixa densidade de turistas estrangeiros na audiência. Uma realidade bastante diferente do que teríamos encontrado há quatro anos atrás. E depois, o espectáculo. Cheio de cor, ritmos misteriosos e beleza dinâmica. Dura uma hora e em dias de mais pressão fazem-se dois, um a seguir ao outro.