28 de Janeiro de 2023
O dia começou com o pequeno-almoço no alojamento, naquele agradável espaço exterior, um alpendre equipado com ventoinhas – essenciais para o calor – e decorado com um estilo que criava um ambiente elusivo, que dava a sensação de toda a propriedade ser mais antiga e abastada do que realmente era.
Tuk-tuk para o centro. Na realidade para o centro de dança Khatakali, uma expressão artística tradicional, muito antiga, muito apreciada pelos turistas e quase apenas pelos turistas nos dias que correm.
A ideia era comprar bilhetes para o espectáculo do serão e a missão foi cumprida sem problemas. Agora era vaguear um pouco. Queria visitar uma prisão histórica, “Jail of Freedom Struggle”, construída pelos ingleses primordialmente para encarcerar agitadores políticos que apelavam à rebelião contra o controle britânico da Índia.
A prisão foi encontrada mas parecia estar fechada. Fomos perguntar ao posto de polícia, mesmo ao lado. Disseram para esperar que o guardião devia estar a regressar. Mas não regressava. Reparei que o portão estava fechado mas não trancado e aventuro-me. Apenas para encontrar o tal guardião descansadamente na sua portaria. Oh well. Foi uma visita interessante mas curta. A prisão é pequena e não há muito para ver.
Depois não sabíamos exactamente o que fazer. Andámos por ali, vimos uma multidão a adensar-se. Certamente haveria algo a acontecer ali mais para a frente. Mais barraquinhas de vendas, agora com muitos clientes em todas elas. Grupos de pessoas. E depois percebemos: era o cais do ferry.
Explorámos um pouco a zona, plena de detalhes, de pontos de interesse. Um homem pescava, sentado num pontão, aparentemente abstraído do mundo que o rodeava, só ele, a sua cana, o mar, o pescado.
Aproximava-se o ferry. Leva carros, muitos motociclos, e passageiros. Assistimos a tudo. A atracagem, as motoretas que saem como vespas, depois as pessoas, numa massa compacta, e os carros, mais pesadões, lentos. De seguida o inverso, a nova carga, que atravessa no sentido oposto. E a partida. Lá vai ele.
Recolhemos informações. Vai para Fort Vypin. Já me tinham falado deste Fort Vypin. O bilhete custa cêntimos e a embarcação vai e vem sem parar, é um percurso rápido. Decidimos apanhar o próximo.
Pelo caminho fomos conversando com uma família que vinha a passeios, regressava a casa agora. Gente muito interessada em nós e na nossa experiência na Índia.
Do outro lado… gostei. Tenho uma série de boas memórias de travessias assim, espontâneas, em ferries que ligam grandes cidades com subúrbios. Foi Rangoon, foi Havana. Agora, Cochim.
Se a cidade é bastante tranquilo para os padrões indianos, Fort Vypin é um oásis de calmaria. Ali em redor há um terminal de autocarros, sem grande azáfama. Muitas lojas, restaurantes, padarias, cafés. Compramos uns bolos – bastante bons, aliás – a uma senhora numa destas lojas, ficamos um pouco sentados com uma bebida a carregar baterias. E levamos mais uns bolos para mais tarde.
Partimos à exploração, sem saber bem para onde, seguindo apenas o Google Maps. Fort Vypin parece-me ser um subúrbio para uma classe média alta. As casas não tinham nada de pobre e aquela tranquilidade deve valer uma fortuna.
Descobrimos com surpresa outra “bateria” de redes chinesas. E uma igreja, defronte da qual um grupo de meninos jogava futebol. As casas ali são antigas. Algumas. Há um edifício lindíssimo mas em ruínas. Um senhor explicou-me o que era. A antiga igreja.
Andámos bastante, um passeio agradável, sereno. Vimos uma casa com uma bandeira portuguesa. Fãs da nossa Selecção. Num muro, mais à frente, veremos uma bandeira portuguesa pintada juntamente com uma inscrição: “Força Portugal”.
Vamos por um passadiço. Dois grupos de cães envolvem-se numa disputa territorial que não nos diz respeito. Passam algumas pessoas. Uns jovens indianos trazem amigos estrangeiros ali. Talvez um intercâmbio universitário?
No regresso sente-se ainda uma tranquilidade maior. Um casal de namorados está sentado junto a uma das redes chinesas. Voltamos ao terminal e logo estamos a voltar a Fort Kochi. Foi uma experiência recomendável.
Do terminal voltamos ao local onde chegámos, à praça Vasco da Gama. O pôr-do-sol aproxima-se e o ambiente está fabuloso. A praia está cheia de gente que vem assistir ao espectáculo do grande astro.
Há de tudo. Mulheres trajadas a rigor nos seus saris coloridos molham os pés na água salgada. Um jovem ocidental está sentado numa atitude de poeta, joelhos flectidos, virado para o mar. Um casal prepara o casamento tirando fotos com fotógrafos profissionais. Um grupo de jovens de ambos os sexos senta-se numa estrutura de madeira, poses de cortejamento, ambiente quente. Dois meninos aventuram-se na água, mãos dadas numa atitude de encorajamento mútuo. Dois amigos de uns sessenta anos estão sentados num tronco, lado a lado, cada um de volta do seu smartphone. O sol toca na água e o mundo parece suspenso. É o grand finale do espectáculo anunciado.
Caminhamos até ao restaurante Canvas, passando pela atarefada Princess street, o epicentro da actividade turística na cidade. Um bom jantar, antes de voltar para casa.