1 de Fevereiro de 2023
A noite passou-se, fria, mas não tanto quanto cheguei a recear. De manhã a casa está gelada. O pequeno-almoço está incluído, mas não tenho vontade de ficar ali mais tempo. Quero sair e explorar e fugir daquela humidade de dentro de portas. Como qualquer coisa, uma versão simplificada do que poderia ser a refeição da manhã, e saímos.
É-me difícil colocar em palavras tudo o que vi e vivo. No Nepal, de forma geral, e em particular neste primeiro dia a sério no país. Para onde quer que olhe vejo um motivo de fascínio, um tema para uma fotografia. As pessoas, as casas, as ruas, as lojas, os veículos as pinturas murais, os vestígios do grande sismo de 2015, os templos. É tudo pictoresco, uma cultura diferente de tudo o que conheci até então. Exótico, mas sendo-o, fácil de encarar e de experimentar. A combinação perfeita.
O dia passou-se a caminhar. Tanta rua, tanta praça, tanta coisa para ver. Os motivos religiosos encontram-se por todo o lado. A cada dobrar de esquina surge um pequeno templo. Ou um altar. E nos espaços mais amplos, templos maiores. A madeira é dominante nestas construções, madeira de aspecto centenário, envelhecida por tantos verões e invernos, rija, resistente.
Há também pedra. Para pilares, para representações de divindades, para as plataformas onde se ergueram os templos. Os tons de laranja e amarelo são dominantes nestes espaços. É a cor das pétalas das flores depositadas, da cera das velas queimadas.
Há portas lindas, feitas de madeira elaboradamente talhada. Vendedores ambulantes circulam com as suas lojas andantes. Frutas e vegetais que emprestam ainda mais cor aquelas ruas de Patan.
A qualquer momento pode acontecer algo de mágico. Essa foi uma constante na permanência nestas cidades nepalesas. Poderia ser um casamento, uma procissão, a execução de uma tradição pagã ou qualquer cerimónia misteriosa aos nossos olhos.
Ao virar de cada esquina poderíamos encontrar um instantâneo da vida quotidiana da comunidade. Uma senhora que recolhe água de uma fonte ricamente decorada, um país que lava alguidares com uma mangueira sobre o olhar atento da sua descendência.
À tarde visitámos o Durbar de Patan. Durbar é a designação – por todo o país – de uma praça urbana central, geralmente o núcleo histórico da cidade, autênticos museus de história ao ar livre. No Nepal há três Durbar classificadas como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO: Bhaktapur, Kathmandu e Patan.
No caso de Patan há que pagar uma taxa de cerca de 7 Euros para ter acesso à praça. Isto só para os visitantes estrangeiros.
Apesar da devastação causada pelo grande sismo de 2015, cujos traços são visíveis um pouco por todo o lado, este é um dinheiro bem empregue. Se as cidades nepalesas já são naturalmente interessantes, nestas praças consegue-se viajar no tempo. Em muitas perspectivas nada ali mudou nos últimos séculos.
Visitámos o Templo Dourado, uma visita paga que sem dúvida vale cada cêntimo. A riqueza daquele templo ficará na memória, assim como os infinitos motivos fotográficos. Os detalhes são infinitos e apesar de ser um espaço relativamente pequeno manterá o visitante atento ali preso durante um longo tempo.
Em redor o padrão urbano é sobretudo residencial, e mais arejado, diferente das ruas de prédios altos e muito juntos que mantêm uma sombra perpétua sobre o espaço onde nos deslocamos.
No fundo os nepaleses funcionam como as plantas, segundo o que me foi explicado pelo anfitrião: cada um tenta subir mais que o outro em busca da luz e do calor que a incidência solar propícia. E assim vão construindo andares atrás de andares, numa longa competição por este valioso bem. E eu que o diga: no fundo o frio que passo naquele quarto é o resultado disso.
Esquadrinhando as ruas de Patan vamos encontrando motivos de interesse. E neste dia percorremos quase tudo.
Acabámos já depois do sol posto, comprando alguns abastecimentos na área junto ao Durbar. Há uma multidão nas ruas. É a hora de ponta nepalesa, muita gente a pé, as faixas de rodagem cheias de motociclos e alguns carros.
Compramos fruta numa loja especializada, atendidos por gente simpática. Iogurtes e coisas mais comuns para nós num pequeno supermercado caro, limpo e luminoso. Bolos num quiosque também especializado. E depois, para casa, ligar o aquecedor, que cumpre bem a sua função, e relaxar.
O dia passou-se assim, e apesar de ter sido um dos melhores dias de viagem de que me lembro não há muito para contar, não houve experiências individualizadas, momentos verdadeiramente alto Como num desporto colectivo, valeu no seu todo. E é uma memória acima de tudo visual.