4 de Fevereiro de 2023
Previamente aconselhados pelo anfitrião, saímos para a rua relativamente cedo. Objectivo: chegar a Bhaktapur, uma outra cidade histórica do vale de Kathamndu, também ela outrora sede de um reino independente.
As indicações tinham sido dadas de boa vontade mas eram obrigatoriamente vagas, porque é assim que as coisas são: chegar à estrada, mais ou menos num ponto indicado, e esperar pelo autocarro que haveria de passar com paragem em Bhaktapur. Adiciona-se à equação o facto de os nepaleses terem o seu alfabeto, ilegível para nós.
Mas lá se fez. Encontrar o caminho foi OK, e o número de pessoas e viaturas de transporte de passageiros a parar e arrancar revelou que tínhamos chegado ao ponto certo. Depois, foi fazer carinha de desprotegido em necessidade de ajuda e logo alguém nos indicou o autocarro certo que não demorou a passar.
A distância não é grande, sempre pela movimentada estrada que percorre o vale ligando os principais pontos. Saímos. Uma consulta ao mapa e a caminho.
Ao contrário de Patan e Kathmandu, em Bhaktapur os visitantes estrangeiros pagam uma entrada no centro histórico alargado e não apenas para a praça principal. Como iríamos ficar umas noites o investimento diluiu-se.
Bilhete adquirido, entramos através do principal portão da cidade e mais uma vez fico maravilhado com o que vejo. Que ambiente e que visão! O Nepal é mesmo um país muito exótico!
Atravessamos a praça – o Durbar – que se encontra logo a seguir à entrada, e dirigimo-nos ao pequeno hotel reservado para estas noites. É ali perto mas a chegada não foi grande coisa. Tal e qual como aconteceu em Patan. Primeiro não encontramos ninguém. Depois, aparecem dois jovens com clara falta de vocação para o seu trabalho. Um não fala uma palavra de inglês; o outro, mais ou menos. Ambos parecem não saber bem o que fazer.
Lá nos indicam o quarto que é… enfim, muito mau. Acho que estou a ficar velho para estas coisas, já quero um certo conforto, especialmente se não estiver à espera das inconveniências.
Depois de ferver e deixar sair o vapor, vou à procura dos jovens. Grande confusão para nos conseguirmos entender. Decididamente não vou ficar naquele quartinho minúsculo, sem uma janela e onde a ventilação deixa entrar um vento frio, como que um ar condicionado natural num local onde não é o calor o problema.
Por fim, depois de muitas palavras apurou-se que podíamos ficar noutro quarto desde que pagássemos a diferença. Sem dúvida. Vai-nos mostrar e…. oh maravilha, luxo. Espaço e uma vista de morrer para o principal tempo de Bhaktapur, mesmo ali, como se estivesse no quintal das traseiras. Há ar condicionado sim senhora, e aquece. Além disso o sol entra pela janela, sentindo-se logo um quentinho delicioso. É aquilo mesmo!
Ainda mais do que em Patan, um dos aspectos que fica na memória desta estadia é a sequência de eventos inesperados – no bom sentido – que ocorrem. Mais uma vez casamentos, grupos que tocam música sem razão aparente, cerimónias pagãs e outras, cujo significado nunca saberemos. Mas ao longo dos dias somos surpreendidos uma e outra vez por algo interessante, cheio de vida e cor, fotogénico.
Logo à chegada, depois de instalados e já na rua para ver com mais atenção o Durbar, um grupo de raparigas e alguns rapazes vestidos com trajes tradicionais dança. É um grupo de dança folclórica. O que pelo meio fazem umas quantos mulheres ocidentais é num primeiro momento uma dúvida.
Pouco mais tarde quando se despedem percebo que simplesmente decidiram dançar com as moças. Ficam elas, e os poucos eles, para trás, e posam para um retrato de grupo que aproveito para tirar também, à boleia.
Todo o Dubar é uma maravilha de se visitar. Os motivos já costumeiros mas nem por isso menos interessantes. São sobretudo templos, de madeira e tijolo. Há estátuas enigmáticas, algumas de cores vivas. Demónios e divindades.
Muita gente por ali, visitantes mas nacionais. Ora se muitos deles vestem roupas como nós, digamos, ocidentais, outros têm o seu melhor traje tradicional, emprestando ainda mais cor aquela praça fantástica.
Já fora da praça principal somos atraídos pelo som de música e encontramos uma estranha cerimónia. Um grupo considerável de mulheres, vestidas de vermelho e laranja, segue em fila e chega a um templo. Ali, sobem para um muro que rodeia a estrutura e vertem pétalas e um líquido sobre a cabeça dos rapazes e homens que, também em fila, circulam em redor do templo.
Exploramos a cidade um pouco mais. Passamos por ruas pictorescas, com comércio tradicional e muitas – mas não demasiadas – pessoas. Acabamos por chegar a uma praça, também ela fascinante que como que marca o final da cidade histórica.
Por alguma razão estranha, dada a distância ao portão e ao Durbar, parece ser o local mais turístico de Bhaktapur. Há ali umas pedintes persistentes, muito persistentes, e uma série de cafés e restaurantes claramente direcionados aos viajantes ocidentais.
Bebemos qualquer coisa num, sentando-nos na rua, a ver passar a vida local em frente de nós.
Descobrimos um grande depósito de água – ou será um lago sagrado? – junto ao qual num campo de futebol improvisado um sem número de rapazes jogam uma peladinha. Que cidade maravilhosa!