24 de Fevereiro de 2023

E chegou por fim o dia desejado, o final dos riscos na parede, da contagem para a liberdade. Finalmente vou sair do Bangladesh, seguir viagem. Com tanta ansiedade não é de espantar que muitas horas antes do necessário estivesse de mala aviada e pronto a seguir para o aeroporto. A última coisa que queria neste 24 de Fevereiro seria perder o avião e ficar em terra. No Bangladesh.

Chamei o último Uber, com tanta antecedência que por uma vez não senti aquela ansiedade de que nunca me consegui livrar na hora de ir para um aeroporto. Há pessoas que têm medo de voar. Seja da descolagem, seja do aterrar ou mesmo do próprio voo. Eu não, tenho é pavor de perder o avião. Mas neste dia a margem de segurança era tanta que sinceramente estava descontraído. Acho que podia até caminhar até ao aeroporto e mesmo assim chegar a horas.

Despedi-me do Rossi com um abraço e segui. Aquela sensação boa, um respirar fundo e o recosto no banco confortável do carro. Sem problemas até ao aeroporto e depois o curto voo até Calcutá, onde se fala a mesma língua que no Bangladesh. Um só povo separado pela Partição e pelos fundamentalismos religiosos que flagelaram a Índia nesse período conturbado.

Vinha um pouco contrariado porque a aterragem seria já bastante tarde. Não gosto de chegar à noite a locais novos. E de facto não foi totalmente pacífico. Como suspeitava, depois de quase um mês fora, o SIM que eu tinha da Índia estava desactivado. E no terminal nem uma loja de operadores móveis. Logo, nada de Uber.

No balcão de táxis oficiais do aeroporto dizem-me que não há nada disponível, talvez mais tarde. Talvez. Pergunto a uma mulher jovem que também procurava um carro quais seriam as minhas opções. Ela indica-me um quiosque no exterior, para onde também vai.

Chego lá e dão-me um preço daqueles à taxista de aeroporto. Inaceitável. Ela pergunta-me quanto me tinham pedido. Ao ouvir a resposta começa a flagelar o individuo com um raspanete monumental. Quando por fim termina, diz-me com uma face solene: “aquele ali leva-o pelo preço justo”. E assim foi. Obrigado jovem mulher, por zelares pelo estrangeiro!

A viagem até ao hotel reservado foi divertida. O condutor era um jovem simpático que me explicou os meandros do negócio de transporte privado em Calcutá enquanto voávamos pelas vias rápidas e depois pelas ruas de Calcutá.

Quis saber onde eu estava alojado para me dar um curso sobre as zonas em redor. Onde era seguro, onde não tanto. Onde devia comprar coisas e comer. Uma jóia de moço. Pedi-lhe para esperar um pouco enquanto ia à recepção. Disse que sim, claro, sem problema. Contaria com ele para encontrar uma alternativa se algo estivesse errado aqui. Mas não foi necessário. Despedi-me do rapaz comovido pela sua boa onda.

O hotel rasca onde fiquei foi uma solução ideal para esta passagem por Calcutá. A zona era de facto boa. Salt Lake City. Mesmo junto ao centro funcional do bairro.

Fiz o check-in, deram-me um quarto no último andar. Barulho da rua, nada. De quartos vizinhos, nada. O único inconveniente era o ruído do elevador. Mas a partir de uma certa hora aquilo parou e passei uma rica noite.

Estava uma noite quente. Saí para a rua. Queria aproveitar minimamente esta curta passagem por Calcutá e festejar ter deixado o Bangladesh para trás. Mesmo por trás do hotel havia um bar mas estava a fechar. Paciência. Fui até ao centro, encontrei um quiosque de rua aberto, comprei algo para comer e bebidas geladas.

Voltei para perto do hotel, fiquei um pouco na rua, sentado no lancil do passeio, a sentir a noite e a observar a vizinhança. Estava feliz.

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