7 de Março de 2023

Não sei bem como mas convenci o Arsalan a aventurar-se numa visita a Takht-i-Bahi. Trata-se de um local classificado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade e fica a cerca de uma hora de carro de Peshawar. O combustível ficava por minha conta, o carro, a condução e a companhia, seriam dele.

Combinámos um ponto de encontro não muito longe do ponto onde tinha chegado a Peshawar na véspera. Na realidade fui mais cedo para o centro da cidade. Queria calcorrear um pouco a pé aquelas ruas, sozinho, sem a pressão de uma companhia. Vaguear um pouco ao sabor do vento, fotografar sem preocupações.

Mas Peshawar acorda tarde. Aquela hora a vida da véspera não se encontrava por ali e a maior parte do comércio estava encerrado.

Lá me encontrei com o Arsalan e partimos. Uma viagem interessante. Boas estradas, campos que poderiam ser em Portugal, uma paisagem rural muito parecida. A tempos passávamos por uma banca de venda de produtos agrícolas. Num cruzamento parámos para beber um sumo de cana, delicioso. Dos melhores de que me lembro.

Prosseguimos. Entrámos na aldeia que serve de portal a Takht-i-Bahi. Fascinante. É um outro Paquistão, remoto, rural. E mais pobre. Atravessamos as ruas um pouco às cegas. Na cartografia online não é claro por onde se faz o acesso mas o meu companheiro seguiu o seu instinto e com bons resultados.

Eventualmente chegámos ao vasto parqueamento – vazio – do local. Ah! E o que é Takht-i-Bahi? Um conjunto de ruínas relativamente bem preservadas de um convento budista fundado no século I. Como tantas vezes me acontece interrogo-me sobre o valor do local. Não é mais do que tantos outros sítios maravilhosos que visitei, mas a verdade é que foi integrado pela UNESCO na sua preciosa lista.

O complexo é amplo, está bem apresentado, com indicações sobre os espaços existentes. As vistas são fabulosas e há uma tranquilidade imensa. Poucos visitantes, todos paquistaneses. Um grupo de rapazes fica fascinado com a minha presença. Mais tarde, já à saída, conversamos um pouco com dois jovens, também eles surpreendidos com a presença de um estrangeiro.

Dali vê-se todo o vale e a aldeia lá em baixo. Compreende-se a escolha do local. Há uma espiritualidade no ar, está-se mais próximo do céu. E do “céu”.

Visto ao longe, do topo de um pico adjacente, o convento parece uma aldeia, tal é a sua complexidade e extensão.

Eventualmente chegou a hora de regressar. Mas com o Arsalan os dias são longos. Como na véspera o tempo foi esticado para render ao máximo. Levou-me a mais um tour de carro, passámos frente à universidade. A zona académica aberta – onde se encontram as residências, centros de estudos – é enorme. Um bairro inteiro, com longas avenidas. E depois o campus, guardado, vedado. Tentámos entrar mas, claro, a minha aparência deu problemas. Barrados no portão. O Arsalan negociou uma visita rápida, acompanhada pelo guarda… em troco de uma gratificação não mencionada, claro. Foi pena. É um campus fascinante, adoraria passar ali muito tempo, sem o guarda. Num cenário perfeito mas irreal mesmo sem o Arsalan. O ambiente é académico ao máximo: faz-se desporto. Cricket para uns, futebol para outros. Os relvados estão cheios de pequenos grupos de colegas, eventualmente debatendo matérias, trocando ideias. Tocou-me, aquela atmosfera que há muito se perdeu numa Europa estagnada onde pouco se passa em termos intelectuais.

Os edifícios são lindos, históricos, antigos. Mas só houve tempo para um par de fotos rápidas e de regressar, com o guarda a caminhar bem à nossa frente, com as rupias no bolso já tendo perdido o interesse em zelar pela segurança da universidade.

Jantámos de novo antes desta grande companhia me deixar na casa de hóspedes.

Estava um serão plácido, quente, agradável. Saí para um pequeno passeio nas imediações. Depois de umas centenas de metros mais calmas entrei numa zona cheia de vida, com muitas tascas, pequenos supermercados, gente. Fiz compras, abastecimentos para o serão e para levar comigo. Voltei. Tinha sido um bom dia. Como na noite anterior tive que esperar que o pessoal de serviço se recolhesse para ter um pouco de silêncio, mas fora isso foi uma estadia positiva.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui