10 de Março de 2022

Um dia em Nathia Gali, a charmosa – mas nada de extraordinária – zona de montanha não muito longe de Islamabad. Tinha hesitado sobre ficar aqui este dia, mas uma oferta irrecusável do proprietário da casa de hóspedes fez pender a balança para o “ficar”.

Acordei sem grandes pressas. Tinha o dia todo pela frente e apenas um objectivo: caminhar o Trilho do Pipeline, algo simples, uma distância modesta – cerca de 3,5 km para cada lado – num terreno basicamente sem subidas e descidas.

Tomei o meu pequeno-almoço despreocupadamente, apreciando a vista da minha varanda e depois fiz-me à estrada. Como prometido não demorou muito tempo até passar uma carrinha que sim, me podia transportar até Donga Dali, um dos pontos finais do percurso, no caso, o mais próximo de mim.

Não há muito a dizer sobre esta Donga Dali: uma série de chalets para gente abastada de Islamabad, alguns restaurantes, hospedarias e cafés e umas quantas casas locais, mais modestas.

Há que pagar um bilhete para entrar no percurso, muito mais caro para estrangeiros. OK, o costume. Bilhete pago e lá vou eu.

É uma rota agradável mas não excepcional. Não existem pontos altos, destaques. É um passeio ao longo de um trilho criado pelo exército inglês para aqui instalar tubagem para a passagem de água, daí o nome, “Pipeline Trail”.

Uma caminhada de passada descontraída, sempre com belas vistas para os vales e montanhas envolventes, tudo muito verde e tranquilo. É surpreendentemente popular e cruzo-me com diversos grupos de pessoas que fazem o passeio no sentido contrário.

O percurso segue basicamente à mesma cota mas há uma surpresa à minha espera: zonas mais sombrias que mantém a neve e o gelo do inverno, um branco inesperado naquele mar de verde.

Soube bem, esticar as pernas sem complicar. Um passeio bom, que acabou rapidamente. Do outro lado pergunto aos muito antipáticos guardas se posso sair do percurso só para comprar uma bebida e comer qualquer coisa sem ter que pagar bilhete para voltar. Não, não posso. E assim como assim, o bilhete é só válido para um percurso pelo que de qualquer modo tenho que pagar para regressar pelo mesmo caminho. A ideia é tão descabida que finjo que não percebi, viro-lhes as costas e início a caminhada de retorno. Ninguém me agarrou mas ouvi vociferar.

O regresso deu-se na mesma pauta. Passada fácil, ar limpo, tranquilidade. Num instante acaba. Afinal de contas não chegam a 4 km. Bem menos de uma hora a caminhar.

Ficou para trás o percurso. Tenho fome. Entro em alguns restaurantes mas ou não estão a servir comida ou não me agradam as opções. Acabo por comprar um kebab horrível a uns putos que estão ali numa espécie de roulotte. Era tão má que me afastei um pouco e discretamente a larguei num caixote de lixo.

Agora era esperar por uma carrinha. De novo um processo simples. Entrar, viajar, pagar, sair. Num instante estava de volta a casa. Não foi um dia mal passado. Diferente, para variar.

Mais um pouco de conversa com o meu anfitrião e umas boas horas desenvolvendo a mui nobre arte de não fazer nada. Apreciar o entardecer desde a minha varanda, ler, jogar xadrez, processar imagens, pensar nos próximos dias…

Por falar nisso, faltam cinco dias para partir mas não tenho para onde ir, não quero grandes aventuras. Tenho estado em comunicação com o Kamran e vou simplesmente abancar-me em casa dele e esperar que o tempo passe. Uma espécie de versão encurtada de Dhaka, um pouco mais agradável. Assim será.

 

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