Dias 11 e 12 de Fevereiro

A estadia a Bandipur foi preenchida por uma questão quotidiana: o que fazemos, ficamos ou vamos? E todos os dias chegávamos ao pé da senhora da casa e pagávamos mais uma noite e ela ria-se muito e guardava o dinheiro com boa disposição.

A vontade de prosseguir viagem não chegou nunca. Prosseguir para Pokhara trazia o fantasma do desconforto do trajecto de autocarro até Bandipur. É que depois, para voltar para Kathmandu, o percurso seria ainda mais longo. E o preço dos voos estava interditivo.

Por outro lado, não descobria nenhuma alternativa para usar aqueles dias que faltavam. Então fomos ficando, dia após dia, até que assumimos que não iríamos a mais lado algum. Ficaríamos simplesmente a relaxar, lendo, observando, fazendo pequenos passeios.

Idas e vindas ao “bazar”, nome dado à rua principal, que outrora teria lojas diversas, de bens relevantes para os habitantes locais, e que agora está dedicada a coisas de turista quase a cem por cento. E contudo, não sei se será da altura do ano (dizem-me que não, que estamos em plena época turística), raros são os estrangeiros que ali andam.

Experimentamos restaurantes, cafés. Voltamos algumas vezes ao primeiro, com aquele terracinho com uma vista fabulosa. Mas agora o terracinho está quase sempre cheio, as duas mesas ocupadas.

Passamos a clientes regulares de um outro, onde se come um pouco de tudo, mas de onde trago na memória os brownies acabados de sair do forno. Estava quase sempre lá um grupo de espanhóis que passava ali horas a fio.

No dia 12 de Fevereiro voltou-se a Ramkot. Porque não, quando se sente que todo o tempo do mundo é nosso…

Mais uma vez um passeio agradável. O mesmo percurso, as mesmas observações. Na aldeia havia um qualquer encontro de mulheres, como se debatessem algo, considerando o barulho que vinha de lá e o grande número de participantes.

Descobrimos uma ave falante e um cartaz de recrutamento dos Gurkhas. E vi novas ruelas, um jovem homem que explicou o sistema de arrefecimento das casas, com chaminés de circulação de ar. Uma forma antiga de ar condicionado, como ele definiu aquilo.

Num destes dias fomos até uma espécie de planalto junto à aldeia. As vistas são excelentes. Observa-se o vale, lá em baixo, muito verde. Todas as crianças que chegaram no mesmo dia que nós estavam lá, como se fosse uma colónia de férias. Os monitores desenvolviam actividades. Jogos e desportos. Algumas pediram uma foto, despertámos curiosidades. Infelizmente penso que perdi as fotos deste dia.

Voltámos todos os dias ao café eternamente vazio – que tinha também uma casa de hóspedes – com mesas com uma vista incrível. O chá nepalês fez-nos ali companhia, num cantinho ideal para a leitura.

Percorremos as mesmas ruas, descobrimos algumas outras, afastando-nos do centro. Encontrámos a escola e por lá havia um evento. Disseram-nos as anfitriãs que era uma celebração escolar e que o menino da casa ia actuar – danças tradicionais – e que podíamos ir assistir. Não me senti à vontade para ser uma carta tão fora do baralho e deixei passar.

E assim se passou o tempo em Bandipur. Um pequeno paraíso, ideal para descansar, para uma paragem a meio de uma viagem longa. Viemos para um dia, ficámos cinco noites.

 

 

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