O dia cinco foi pouco entusiasmante. De novo acordar com o cinzentão lá fora. Desagradável. Sem grandes pressas saimos, caminhámos durante meia-hora até chegar ao centro. O mercado estava fechado. Perguntámos a uma pessoa pela localização da feira de antiguidades, e conseguimo-la encontrar, mais à frente, junto ao rio. Seguiu-se uma hora de desorientação… tinhamos fome mas não encontrávamos nenhuma opção agradável para resolver esse problema. Demos três voltas e meia pela baixa de Ljubljana, sempre pelas mesmas ruas, enfrentando o vento frio que as percorria. A casa de chá que nos tinha enchido o olho na véspera estava encerrada. Dia descanso semanal. Tudo isto foi um momento que simbolizou na perfeição a ideia geral que trouxe da Eslovénia: desagradável, negativa.
Por fim lembrámo-nos que em frente à feira de antiguidades havia uma padaria que emanava um cheiro delicioso. Fomos lá e em boa hora. Ao balcão um jovem que devia falar um pouco de cada língua do Universo, incluindo, claro, português e espanhol. Enchemos dois ou três sacos de bolos e pastéis enquanto nos divertiamos com a boa-disposição contagiante do inesperado interlocutor e, no fim, a conta não foi assim tão má.
Sentámo-nos cá fora a petiscar e a observar as pessoas que iam passando. Estávamos nisto quando sucedeu um pequeno milagre: o sol deixou-se ver, enchendo tudo aquilo de uma luz surpreendente. E assim se mudou a disposição taciturna, primeiro pelo momento agradável na padaria, e depois pela chegada do amigo-sol. Decidimos logo ir lá acima, ao castelo, ver aquilo com a luz do dia.
Na subida, um grupo de jovens brasileiros caminhava à nossa frente e fez-nos sorrir com a sua conversa bem-disposta, convencidos de que ninguém os entenderia. E uma vez lá em cima a impressão positiva da organização do castelo confirmou-se. Aquilo é um espaço cheio de vitalidade, procurado por todos para uns momentos de lazer. Famílias e grupos de amigos, namorados e turistas. Muita gente com muitas opções. Bom de ver.
Na descida, parámos para carregar baterias e aceder à Internet num bar de exterior simpático. Era mesmo só o exterior. Mau serviço, ambiente desagradável. De novo, a Eslovénia. O nosso anfitrião passou por lá para nos deixar as chaves do apartamento, a caminho do seu treino de escalada.
No resto da tarde não fizemos muito mais. Vagueámos um pouco, fora do tradicional centro, como sempre gosto de fazer em viagem para sentir o verdadeiro pulsar da cidade. Achei-a muito vazia, deserta. A disposição sorumbática regressou. As faces mal encaradas da multidão, o cinzento de novo, o frio, o trânsito bárbaro. Felizmente chegou a hora de regressar a casa. O Miki tinha ficado com uma lista de compras para o nosso jantar. Eu iria preparar huus e arroz doce, e ele, um risotto.
O jantar foi de longe o melhor do dia, como o Miki foi de resto o melhor da Eslovénia. O Miki e as outras pessoas relacionadas com o Couchsurfing que encontrei naquela país. Passámos um serão em grande, a cozinhar primeiro, com excitada troca de receitas e de truques gastronómicos. Depois, chegou o irmão dele, acabadinho de vir de umas pequenas férias em Paris, para ajudar a deitar abaixo a enorme quantidade de comida que preparámos. Foi mesmo muito bom, estava tudo delicioso e comi como já não comia há muito tempo.