A viagem iniciara-se na véspera, pela manhã, com um percurso de comboio entre Loulé e Lisboa. Um pequeno passeio a pé pela zona do Parque das Nações, para queimar um pouco de tempo até se fazerem horas de apanhar o metro para o aeroporto. O voo 1787 Ryanair aguardava-me. Para Frankfurt Hahn. Ali passei a noite, de forma razoavelmente confortável. O timing foi perfeito, porque ao acordar teria tempo para explorar, pela segunda vez (a primeira foi em 2007 e está documentada aqui) os vestígios da base da USAF (United States Air Force) que durante a Guerra Fria esteve instalada no que hoje é o aeroporto internacional de Frankfurt-Hahn, operado quase em exclusivo pela Ryanair, e um dos HUB’s mais importantes da companhia.
A aventura não foi especialmente interessante, sempre limitada à proximidade da estrada, e evoluindo sob um céu escuro e um ambiente muito húmido, com alguns aguaceiros fracos. Vi uns quantos hangares, mas apenas por fora, que todos estavam bem trancados. E mais uns edíficios de natureza indefinida, e pouco mais. Bom, seja como for, terá sido melhor do que ter aguardado sentado no terminal pela hora do voo para Tampere.
Pouco passava das cinco e meia quando aterrámos naquele pequeno aeroporto, perto da cidade de Tampere e, já agora, de Nokia, onde tudo começou para o gigante da electrónica que foi (e para muitos ainda será) o orgulho económico da Finlândia. O aeroporto internacional Tampere-Pirkalla, como sucede com tantos outros onde a Ryanair concentra as suas operações, tem um passado militar, sendo ainda utilizado pela Força Aérea Finlandesa, que ali mantém uma esquadra a operar F-18’s (magistralmente camuflados – não é possível detectar no Google Earth a sua presença ou edíficios de abrigo). Estranhamente, é o segundo aeroporto na Finlândia. E digo “estranhamente” porque é de facto pouco mais do que um par de barracões, sem movimento algum. Quando chega um voo, há um autocarro que espera os passageiros para os levar para Tampere, de onde poderão prosseguir para Helsinquia e pronto, terminado esse pequeno pico de movimento, o sossego regressa ao aeroporto.
Inicialmente tinha considerado passar uma noite em Tampere. Mas quando encontrei problemas para encontrar um sítio onde dormir (isto é, por preços aceitáveis), aconselhei-me com o meu anfitrião em Helsinquia, que me disse que assim como assim também não havia nada de notável para ver ou fazer, e convidou-me para seguir logo para sua casa. Comprei um bilhete de comboio no website dos caminhos-de-ferro finlandeses, que me saiu bastante barato (14 Eur). Aqui, como em tantos outros países, os preços não são fixos. Variam consoante a hora do comboio e a antecedência com que se compra, e tive sorte, fiz um excelente negócio. A partida era às 20:07, exactamente o que me convinha, para precaver qualquer problema com o autocarro de ligação. Se tudo corresse bem, teria tempo para uma visita breve à cidade, se corresse mal, tinha margem de manobra que deveria ser suficiente.
Correu tudo bem. A passagem pelo terminal foi breve e quando saí já tinha o bilhete para o autocarro que arrancou pouco depois de me sentar. Em breve chegava a Tampere. O tempo estava relativamente frio mas havia céu azul e apenas algumas núvens.
Dei uma volta pelas imediações da estação, tive o primeiro cheirinho de Finlândia. Encontrei um simpático bairro, com casas que deveriam ser relativamente antigas. Dei uma vista de olhos a uma majestosa igreja ortodoxa que tinha espereitado pela janela do autocarro. Acabei por me recolher na estação de comboios antes de tempo. Tinha frio e estava cansado.
O comboio que me levou para a capital foi, por assim dizer, o melhor comboio que já usei. Vejamos, completamente silencioso – é quase impossível saber quando está em movimento, com tomadas eléctricas e internet gratuita, cadeira super-confortável, climatização ideal, e vizinhança educada e sossegada. Foi uma viagem que me soube como um tratamento em “spa”. Revigorante, depois da noite mal dormida e das deambulações diurnas. Altamente recomendado para quem esteja a planear uma viagem assim.
Saí uma paragem antes da final, porque iria apanhar um comboio suburbano no sentido contrário para ir para casa do anfitrião. Preocupei-me um pouco, porque era já tarde e estava exausto, e não tinha a certeza que era ali… perguntei a umas quantas pessoas e, surpreendentemente e contra a sua fama, o inglês delas era pouco ou inexistente. No último segundo uma rapariga disse-me que sim, que devia ser possível apanhar ali o comboio que eu precisava. E era. Lá fio até ao subúrbio de Kannelmakki. A casa dele era a poucas centenas de metros da estação, mas não a encontrei. Tive que o contactar por telefone e esperar ser recolhido mais ou menos onde estava. E afinal era ali tão perto, literalmente ao virar da esquina.
Ia partilhar a hospitalidade do Niko com uma viajante sul-coreana. Estivemos um bocado a falar, naquele primeiro momento de “amabientação” que por vezes é algo bizarro. Depois ela foi dormir e nós passámos para o quarto. Foi já metidos nas respectivas caminhas que o paleio animou e sem dar por isso, conversa puxa conversa, eram duas da manhã e já tinhamos abordado não sei quantas mãos cheias de assuntos. Tinha mesmo que descansar! Passava das duas da manhã