Depois de ler o clássico A Volta ao Mundo em 80 Dias consegui finalmente pôr as unhas num livro de Michael Palin, de que tanto tinha ouvido falar e logo, coincidência das coincidências, no seu Around the World in 80 Days.
Creio que foi o seu primeiro livro, escrito na sequência de um desafio que o actor e comediante britânico, ex-Monty Python, recebeu da BBC: replicar a viagem fictícia de Phileas Fogg como descrita por Jules Verne.
As condições estão lá todas: o ponto de partida, o tempo – 80 dias – concedidos para concluir uma viagem em redor do mundo… só que Michael Palin vive e viaja numa outra época, onde tudo é mais fácil (ou quase tudo, porque nos dias que correm o transporte de passageiros por via marítima é raro) e além disso conta com o apoio da hercúlea BBC.
O livro é portanto uma narrativa da sua viagem, mas sinto-lhe uma enorme falta de chama. Como autor e viajante Michael Palin desperta-me simpatia. É modesto e deixou o preconceito em lugar bem remoto. Gosta de aventura, não se queixa de nada e encara todas as contrariedades com a paciência de um santo. Mas um livro não nos conquista com simpatia mas com qualidade e nessa matéria fiquei bem decepcionado.
A prosa pareceu-me monótona e passei semanas de volta deste livro, com dificuldades em o acabar, lendo pouco de cada vez, com fastio. Falta aquele jeitinho que nos faz passar página atrás de página. Apenas numa fase, quando Michael navega num dhow desde o Dubai até à Índia as coisas se animam um pouco. Aliás, essa travessia inspirou um trabalho posterior, em livro e programa BBC, que vai reviver a viagem procurando umas décadas mais tarde os tripulantes daquele navio que tanto acarinharam Michael e a equipa de filmagem.
Eventualmente o nosso Phileas Fogg do século XX (ele fez a viagem em finais dos anos 80) termina a sua volta ao mundo, e quando isso sucede o leitor pode bem sentir uma onda de alívio: o livro está prestes a acabar. Enfim, vou tentar dar uma segunda chance a este autor, quem sabe não terminarei um segundo livro seu com outra opinião. Espero que sim.
Este livro encontra-se actualmente disponível no mercado português, numa edição da Bizâncio, que pode ser comprada, por exemplo, aqui na FNAC Online. Pessoalmente li-o na sua versão original, em língua inglesa.