Este livro caiu-me do céu, cruzou-se à minha frente precisamente na semana em que decidi visitar a Coreia do Norte. Não era, portanto, de hesitar. Já era bastante difícil encontrar obras sobre aquele país em inglês, e na nossa língua materna então nem falar.
Comecei a leitura e a coisa não se iniciou com bons augúrios. Senti ali uma condenação com perfume a preconceito que não me animou. E uma outra coisa que não suporto em alguns escritos de viagem, uma espécie de exacerbação da passeata, pintando-a com uma dificuldade que na realidade não tem para um viajante mais ou menos experiente. Afinal, boas notícias: uma e outra foram falsos alarmes.
A narrativa prossegue, a prosa é agradável. Não me surpreende que o autor se tivesse integrado numa tour em tudo idêntica à que eu próprio farei. Seria de espantar o contrário porque todo o estrangeiro que visita o país tem que o fazer. Tirando os casos excepcionais e isolados, a convite das autoridades locais.
Nunca tinha lido nada do José Luis Peixoto, um autor que não tem trabalhado o nicho da literatura de viagens, mas fiquei fã. Gostei da escrita mas mais importante que isso gostei da forma como abordou a questão Coreia do Norte. Com algumas excepções. No fundo ele sabia que quase nada do que via era genuíno e que a verdeira nação se manteve uma ilustre desconhecida, mesmo depois de quase dez dias de viagem. Do país real apenas espectros, desfilando pelas janelas do autocarro em que o grupo se deslocava entre cidades. E esse, sem autorização para ser fotografado.
Pessoalmente retirei bastante do livro. Afinal, foi uma espécie de deja-vu invertido, a sensação que aquilo que o autor viveu irá ser vivido por mim em breve. E não foi especialmente agradável. Já sabia que todos os passos do visitante são enquadrados por guias locais, mas tinha a ilusão de que existiria um pouco mais de liberdade e um tudo nada mais de verdade na experiência.
Será também de notar que as condições que José Luís Peixoto experimentou há 3 ou 4 anos já foram um pouco alteradas. As autoridades estão mais permissivas, por exemplo, actualmente já se podem levar telemóveis e perante um pagamento razoável pode-se até ter internet móvel.
Uma palavra final: um livro a ler pelos interessados em visitar a Coreia do Norte. Para os outros não existe muito nestas páginas. A viagem do autor não teve nada de excepcional, foi pré-formatada como todas as outras, logo não conta nada que não exista por blogues por esse mundo virtual fora. José Luís Peixoto, de forma que considero muito responsável, absteve-se de grandes considerações pessoais. Honesto. Porque não há muito a considerar numa viagem estéril. Apenas a narrativa seca do vai sucedendo. Ele fez uso dos seus reconhecidos dotes literários e apesar de se limitar à narrativa, temperou-a com boa prosa.