Este é o livro de viagens, puro e duro, a narrativa de uma odisseia, um diário de aventura. Em 1999 dois jovens australianos propuseram-se a atravessar de bicicleta recumbente (aquelas em que se vai deitado de barriga para o ar) a Rússia, desde a fronteira com a Finlândia até à Mongólia, e depois, até à China, de onde regressariam a casa. Os “putos”, de 22 anos, teriam pela frente mais de um ano de viagem pela frente.
Como parte do projecto produziriam um video e escreveriam um livro, este. Trata-se de um trabalho feito a duas mãos, com Tim e Chris intercalando as suas perspectivas nos capítulos, um para cada um, do principio ao fim. E como resulta? Bem, a parceria literária tem as suas vantagens e desvantagens: é interessante ir alternando os autores mas por por outro lado ao fim de um bocado começa a ser confuso e, reconheço, acabei o livro sem saber exactamente quem era o Chris e quem era o Tom. Um já tinha experiência com este tipo de veículo, o outro não; um era um caminhante habituado ao norte da Europa, o outro não; um tinha uma namorada à espera que se revela um factor de destabilização ao longo de toda a viagem, o outro não. Mas entre Chris e Tom, Tom e Chris, não sei qual era qual em nenhum destes pontos.
E o livro, lê-se bem, é porreiro? Não sei. Tem momentos. Pela negativa, para mim, enquanto persona individual, aborreceu-me: os aspectos técnicos – mecânicos – relatados por vezes em detalhe; as picardias constantes entre os rapazes… gente, se eu tivesse um amigo assim, certamente não me metia numa viagem com ele; a monotonia global da narrativa… entra em aldeia, sai da aldeia, dorme, come, entra em aldeia, sai da aldeia, come, come, dorme. E assim se passa toda a viagem, da Finlândia à China. E porquê que não estou já a desancar o livro? Porque também contém aspectos agradáveis. Há momentos mágicos ali descritos. Alguns, simples descrições da natureza, muito bem colocados pelos autores. Outros mais focados na experiência humana, na interação com as pessoas que vão encontrando. E ainda bem que ambos aprenderam russo. Seria tudo muito mais complicado sem a ferramenta comunicacional.
Encontrei uma certa assimetria nas partes do livro, com o meio a ser mais dificil de ler, mais aborrecido, e depois, à medida que a travessia da Rússia se aproximava do fim, tal como eles, sentindo o fim, também eu acelarei, tendo achado a leitura… “sempre a descer”, ou seja, mais fácil de fazer.
Portanto, o leitor já sabe com o que conta. Os rapazes não são escritores encartados. É mesmo assim surpreendente a facilidade com que escrevem. Os problemas só se colocam quando se olha para o que é feito numa perspectiva alargada. Porque a prosa, apenas por si, é sempre boa. Agora, quem gosta de seguir estas aventuras on the road tem aqui um livro a considerar.
Creio – mas não estou seguro – que este livro nunca foi publicado em Portugal. Resta o recurso à versão em inglês, que, sendo o original, será sempre melhor.