Tinha-o já visto por duas vezes, e desta feita estava decidido a não o deixar escapar. Primeiro, de Amman para o grande deserto de Wadi Rum, passámos por ele e só depois, naquela fracção de segundo que leva a olhar para trás é que o vimos. À vinda já estava fisgado, mas apesar de o vermos melhor não conseguimos avistar o acesso a partir da “auto-estrada”. Agora tudo seria diferente. Tinha estudado o plano com o auxilio do Google Earth e pensava que a batalha estava vencida. Mas enganava-me! A seu tempo o objecto seria conquistado, mas não sem antes uma pequena emoçãozinha: quando me apercebi que o acesso planeado não seria possível compreendi que só uma inversão de marcha nos levaria até ele… na “auto-estrada”… e à nossa frente rolava um carro de polícia. De repente, mesmo na altura certa, fazem pisca… vão inverter a marcha, logo, significa que há ali um ponto de viragem. Errr… não… voltaram para trás sim, num sítio com um enorme sinal de proibição de inversão de marcha. E nós, no momento de loucura, já confiantes na benevolência daquele povo maravilhoso, no qual os agentes de autoridade não eram excepção, fizemos o mesmo!
Por uns instantes parámos de respirar. Iriamos ver as luzes azuis acenderem-se em nossa honra? Não. Seguiram caminho e logo ali encontrámos o esperado desvio. Estávamos lá. O forte era nosso!
Em redor não se via vivalma. Caía a tarde, com a rapidez com que sempre ali acontece. O sol já ia pintando de dourado as superfícies que tocava. A medo, rodeámos a fortaleza, esperando ver o portão de entrada trancado. Mas… não! Estava entreaberto, como que nos convidando a penetrar naquele espaço misterioso. Tinha lido que normalmente o acesso se encontra barrado e, na melhor das hipóteses, o zelador surge para nos franquear passagem, merecendo depois uma gratificação.
Mas neste fim de dia apenas um rebanho de cabras a umas centenas de metros nos observava. E foi então que se fez magia. De repente este não era apenas um forte junto à estrada algures na Jordânia. Num instante apenas quase 40 anos de tempo são rebobinados e volto a ter 12 anos, e estou a brincar com um forte da Airfix, onde alinho soldadinhos de plástico da legião estrangeira, que disparam as suas armas imaginárias contra hordas de beduínos atacantes. Estou ali, no “meu” forte Airfix, que tantas horas de brincadeira me preencheu. A sério! Foi certamente em al-Qataneh que os “designers” da empresa britânica de modelismo se inspiraram para conceber aquele artigo que se comercializava nos anos 70. Só que apenas eu sei disso. Imaginam a minha euforia, a pisar com os meus pés aqueles recantos, como se tivesse entrado no mundo dos brinquedos, numa espécie de Toy Story privada?
Quando a hora de partir chegou, percorridas as muralhas, espreitados todos os recantos, penetradas todas as divisões, o sol já se punha. E assim, ficou gravado um daqueles momentos que dá sentido ao viajar. É nestas alturas que se esquecem canseiras e despesas, enervamentos e dores. Por um minuto assim, tudo vale. Bendito sejas Suleiman o Magnífico, grande lider dos Otomanos, por no ido ano de 1531 teres mandado construir esta edificação. Os peregrinos que aqui encontraram a segurança que lhes faltava agradeceram-te a seu tempo. Eu, lamento, mas só agora tive oportunidade de o fazer.
Coordenadas: 31° 14.510’N 36° 2.370’E
E agora, sim, encontrei… quantos de vocês, rapazes da minha geração, se lembram disto…
[googlemap src=”https://mapsengine.google.com/map/u/1/embed?mid=zNOznzg60HhA.k4v8XywbXngE” width=”400″ height=”300″ align=”aligncenter” ]