Sibiu é por si uma encantadora cidade da Transilvânia. É na Roménia mas até há pouco tempo a população era maioritariamente alemã. Após a queda do Muro de Berlim, usufruindo dos apoios que o governo de Bona concedeu, a maioria destas pessoas optou por se mudar para a Alemanha. Quase todas eram romenas por cidadania há gerações, famílias estabelecidas por ali durante centenas de anos. E foi assim que de um dia para o outro a cidade perdeu uma fatia considerável da sua população. Mas sobreviveu. É bela, cheia de atractivos, entre eles o magnífico Museu Etnográfico ou, usando a designação em inglês, o open air museum. Este tipo de espaços é muito popular na Europa Central e de Leste, quiçá por uma ligação a costumes ancestrais que se foi perdendo por cá.
Localiza-se na periferia de Sibiu que, não sendo uma cidade grande, estende-se mesmo assim o suficiente para transformar uma caminhada até lá num empreendimento desagradável, especialmente se for de ida e volta. Recomenda-se talvez uma solução equilibrada: para lá, que se apanhe um autocarro. E depois, ao regresso, já com uma ideia mais definida do que a energia para o dia poderá render, opte-se por um passeio a pé de volta ao centro.
O Museu é enorme. Este tipo de espaços costuma ser amplo, assim o exige a natureza da exposição, mas o de Sibiu é especialmente grande. Localiza-se na floresta Dumbrava, ocupando uma área de cerca de 1 km quadrado. É muito terreno para ser palmilhado por um visitante maravilhado. Na essência um museu deste tipo exibe estruturas tradicionais do país, algumas originais, transferidas para o seu terreno, e outras construídas a partir de planos e fotografias. Normalmente dividem-se por regiões. Se o museu for escrupuloso, para além dos edifícios, tenta replicar o meio natural e paisagístico das regiões em causa, mas nem sempre isso é possível.
No caso de Sibiu são mais de trezentas casas e oficinas. Ali, um moinho que labora por detrás de um oceano dourado de cereal. Acolá, a réplica da igreja que pode ser encontrada na aldeia perdida do país profundo. É um primor ver as quintas tradicionais, as casas lacustres assentes sobre estadas, as alfaias agrícolas, as oficinas de ferreiro. Em alguns pontos existem figurantes, devidamente vestidos, às vezes operando equipamentos e ferramentas. Muitos dos edifícios estão abertos e o visitante pode ver aquilo a que chamaremos exposições interiores. Réplicas de ambientes de outros tempos e de outros espaços.
Perdidos na floresta, à beira de um dos trilhos da extensa rede – são mais de 10 km de caminhos – encontramos abrigos de pastores, que surgem do desconhecido como elementos do imaginário, envoltos em mistério, com aquela luz filtrada que só encontramos nos bosques mais cerrados.
E depois, há a cor. A intensa cor que reveste alguns destes edifícios, que pinta a natureza que nos envolve. Os dourados da folhagem de outono alternam com o azulão das paredes para nos deliciar. Mas existem outras cores… vermelho na porta daquele celeiro, e a multitude nos ícones religiosos junto à igreja ortodoxa. O verde dos musgos no telhado de colmo, o azul esverdeado das águas do lago. O branco do cal passado nas paredes interiores, o castanho das madeiras em bruto que se encontram por todo o lado.
Por vezes é possível alugar um barco a remos para usufruir de um momento de quietude no centro das águas do lago. Recomenda-se.
Na época baixa o ambiente transfigura-se. Desaparecem as multidões, muitas das casas estão fechadas, o restaurante encerra. Mas ganha o visitante uma paz de espírito que lhe permite usufruir do espaço de uma forma mais genuína, sem a distracção das correrias dos pequenotes, das conversas dos muitos que acorrem ao museu, usando-o como parque para passar algum tempo de qualidade com os seus.
Os elementos que implicam mecanismos são sempre dos mais populares neste tipo de museu, com destaque para os moinhos de vento e de água. Quando a exposição se encontra devidamente enquadrada cada um destes pontos é por si mágico, individualiza-se, ganha vida e corpo. Daí a necessidade de espaços enormes, para que as casas não se encavalitem umas nas outras, para que, pelo contrário, sejam encontradas de forma casual pelo visitante, como se as avistasse durante um passeio pela floresta romena, simplesmente ali, por mero acaso.
Para apreciar devidamente o Museu Etnográfico de Sibiu – também conhecido por ASTRA Museum devido à designação da associação que o criou e o gere – convém levar duas coisas consigo: tempo e energia. Porque há tanto para ver e é preciso caminhar de forma tão prolongada. De qualquer modo, a variedade previne a monotonia. Em alguns museus clássicos o visitante inicia a visita com toda a concentração e ao fim de umas quantas salas já anda a passo ininterrupto. Aqui não. As surpresas que se escondem a cada centena de metros alimentam permanentemente a curiosidade. São diferentes, pictorescas… surpreendem.
Horário: O museu abre de Terça-feira a Domingo, entre as 10 e as 17 horas. No Verão mantém-se aberto até às 18 horas.
Preço: 10 Lei para adultos, 2 Lei para crianças; gratuito na primeira Quarta-feira de cada mês.
Transportes: Autocarro 13 que parte da estação ferroviária