O nome pode parecer desconhecido a muita gente, mas já quase todos viram algures a filmagem deste mercado. É aquele que é montado sobre a linha férrea e fica na Tailândia. E é mesmo especial.
Sai-se de manhãzinha de Bangkok, através de uma ligação ferroviária quase desconhecida, que tem origem numa estação obscura – Wong Wian Yai – perdida entre edifícios residenciais. É essencial fazer bem o trabalho de casa porque mesmo entre os habitantes da cidade não há muitos que conheçam esta estação. Dali segue-se até Mahachai, uma pequena cidade costeira onde é necessário apanhar um ferry para cruzar a foz do rio.
Do outro lado é preciso encontrar a estação de comboios atravessando um pouco da localidade. Algumas ruas são como um mercado, com imensos produtos empilhados e expostos às portas das lojas ou simplesmente colocados por pessoas que ali se instalam para ganhar o dia. A proximidade do mar faz-se sentir, com moluscos misteriosos e estranhos peixes ao dispor de quem quer que deseje adquiri-los.
Há poucos comboios para Maeklong. E os horários podem mudar. Talvez nem dê para ir e regressar, pelo menos se se quiser passar algum tempo no mercado e testemunhar a passagem da composição. Mas não há problema… pode-se ir de comboio e regressar de carrinha, o que é uma excelente alternativa para a aventura pegada que é fazer a viagem pela ferrovia desde a capital.
Espero pelo comboio na estação. Está calor. A Tailândia não só tem a capital mais quente do mundo mas estou por ali no pico anual de temperatura. Como os horários foram mudados o meu plano sofreu e tenho uma espera pela frente. Sempre vou vendo as traineiras, muito exóticas, que passam ali perto, de regresso ao porto.
Finalmente chega o comboio que me há-de levar a Maeklong. Mas a coisa complica-se. Parece haver um problema técnico. O pessoal atarefa-se, e o maquinista, em determinado momento, parece tomar uma decisão: pega numa chave inglesa e desliza sob a automotora. O ajudante acelera a máquina e não me parece haver nenhuma melhoria. O comboio volta a estar envolto numa nuvem de vapor. Mas a situação parece agradar o comandante e logo estamos em movimento.
A distância a vencer não é muita mas começo a compreender o tempo necessário… vamos a 15 km por hora. Por vezes tão perto de casas que, sentado nos degraus exteriores da carruagem, cruzo o olhar com tailandeses que nas suas habitações andam nas fainas diárias ou descansam simplesmente nas suas redes e esteiras.
Aproximamo-nos de Maeklong e o revisor vem-me chamar, convidando-me a segui-lo. Abre-me o compartimento do maquinista da carruagem de trás, que naquele momento está desocupado, e dali recolho as imagens e assisto à chegada, vendo como o mercado se volta a fechar sobre si à passagem do comboio.
Quando saímos da composição, logo ali à frente, é como se nada se tivesse passado. Estamos perante um mercado aparentemente comum. Só que os carris lá estão. Tudo é estudado em função do comboio. Os vendedores sabem as medidas exactas. As mercadorias que tem que ser retiradas à hora certa, até onde podem ficar, a que distância se devem reposicionar.
Damos por ali uma volta, tentando descobrir a alternativa ao comboio, que surge, com grande alívio. Afinal podemos ver a partida, observar de perto como os feirantes operam a sua magia, e depois simplesmente apreciar a cidade. Não que seja especialmente bonita mas… enfim, é uma cidade tailandesa, vale sempre a pena.
O comboio apita e inicia-se a dança. Há mecanismos que giram em calhas metálicas, um engenho notável que poupa esforços. Os toldos são recolhidos, os produtos movimentados em conformidade e quando a enorme máquina se aproxima, o corredor está aberto, deixa-a passar, imponente. E assim que a carruagem de trás passa, um movimento curioso parece engolir o espaço, como que a apagar todos os vestígios da passagem do monstro metálico. Em poucos segundos não resta traço dessa intrusão. É outra vez um pitoresco mercado tailandês.
Trata-se de um excelente passeio de dia inteiro, possível a partir de Bangkok. Os detalhes prácticos do percurso podem ser consultados aqui.