A Geórgia foi um dia definida pela Lonely Planet como o país mais bonito da Europa. É irrelevante a polémica acesa que se mantém quanto à sua natureza continental. Europa ou Ásia é um país extremamente belo, marcado pelas suas montanhas majestosas que fazem os Alpes e os Pirinéus parecerem brincadeiras de crianças. E foi nestas montanhas, lá para o norte da actual Georgia – e digo “actual” porque em 2008 a Rússia invadiu o país e amputou-o de duas regiões em disputa, a Ossétia do Norte e a Abkhazia – que encontrei esta igreja, da Santa Trindade.

Construída no século XIV não muito longe da aldeia de Gergeti, ergue-se a cerca de 2200 m de altitude, com uma parede montanhosa por detrás que nos faz sentir como se estivéssemos ao nível do mar. Era para aqui que, segundo reza a tradição, as relíquias nacionais – habitualmente mantidas na catedral da antiga capital Mtshketa – eram trazidas em momentos de perigo. Já no século XX, apesar da proibição soviética às actividades religiosas, o local permaneceu popular, especialmente entre os russos. Hoje, o carácter remoto que outrora lhe atribuía uma segurança adicional, tornou-se um verdadeiro obstáculo. Para perfazer os 90 km que separam o local de Tibilissi, foram necessárias seis horas ao volante.

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Mas valeu a pena. Por mais bem preparados que estejamos, por mais imagens que tenhamos vistos e não importando quantos relatos tenhamos ouvido ou lido, a primeira visão da igreja da Santa Trindade é sempre uma experiência de tirar o fôlego. Quando o veículo de todo o terreno ultrapassa o último obstáculo da ascensão desde a aldeia, marcada por enormes buracos, mares de lama, curvas apertadas e falésias de arrepiar, damos de cara com aquela vista e pensamos que aconteça o que acontecer nunca mais na vida vamos ver algo tão marcante. O vento sopra forte, como sempre o deverá ali fazer. Uma área relativamente plana separa-nos do edifício, e há uma manada de cavalos selvagens que pasta serenamente, mantendo uma prudente distância dos humanos.
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Por detrás da igreja, do lado de lá do vale onde se encontra Gergeti, vemos uma impressionante parede montanhosa que se eleva até ao infinito, cume perdido entre nuvens brancas como a neve que o sobre, numa massa visual que ofusca. Enquanto o nosso conduto leva o carro, andamos, deslumbrados, em direcção ao edifício. Está frio e o vento continua a flagelar-nos. A tarde já vai avançada e o arrefecimento nocturno está a chegar. Os cavalos afastam-se um pouco, deixando claro que devemos respeitar a sua distância de segurança.

Quando chegamos vemos com alguma surpresa que o templo está aberto. E há um grupo de jovens que o visita. Vieram por um trilho pedestre, desde a aldeia. Entusiasmados pela presença dos estrangeiros pedem-nos que tiremos fotografias com eles, antes de iniciarem a caminhada de regresso, desaparecendo num improvável trilho que desce para o vale. E ficamos por ali mais um bocado, com Gergeti aos nossos pés e a montanha sobre as nossas cabeças. Foi uma visita fugaz, mas que marcou. Ficou a memória do que será talvez o mais belo local que verei.

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