Esta foi daquelas viagens feitas pelo estimulo de um preço baixo – que no fim acabou por não ser assim tão baixo – que surgiu na forma de uma promoção Ryanair para uma série de destinos. Vistas as possibilidades, quedou-se Marrakesh, que há algum tempo me despertava curiosidade. Queria ver as diferenças em relação a Fez, e, afinal de contas, já fazia cinco anos desde que tinha estado em Marrocos. Como o tempo voa!
Compradas as passagens por 29 Eur a ida e a volta de Sevilha havia que esperar. Quando os bilhetes foram comprados havia ainda a viagem para Cuba de permeio. Isto de Sevilha é uma coisa boa que a malta do Sul tende a esquecer-se. Há uma mão cheia de destinos interessantes com a Ryanair e os preços costumam ser atractivos. Já não me lembro bem, mas dali fui até Malta por tuta e meia. E a mais locais.
Esta viagem teve uma pequena novidade: pela primeira vez viajei com uma mochila mais pequena, de 20 l em vez da de 40 l que costumo usar. Foi um luxo, sempre leve, sem carregos. Acabaram-se as possibilidades de ver a carga ir para o porão nos voos Ryanair, de ter que separar as coisas de valor para ir mandar a mochila para o ventro dos autocarros de longa distância. Foi um conforto que procurarei repetir no futuro.
Usualmente deixava o carro no parque tecnológico de Sevilha, uma área empresarial onde se vai encontrando lugares de estacionamento (se for ao fim-de-semana então é só chegar e escolher), de onde se apanha um autocarro para o centro, para depois passar para o do aeroporto. Mas desta vez fez-se diferente. Feitas as contas, duas pessoas a pagar autocarros – e o do aeroporto é uma roubalheira à espanhola, como o metro para Barajas em Madrid e custa 4 Eur para cada lado – e descobrimos que deixar o carro aos cuidados de um parking nas imediações do aeroporto iria custar apenas um par de Euros mais: 27 Eur para uma semana inteira.
E assim foi. Naquele dia 17 de Janeiro, com um amigo – o tipo que foi anfitrião em São Tomé e Principe mas que na realidade é chinês de Singapura – que passou no Algarve a visitar, partimos para Sevilha, nas calmas, pela manhã. A ideia era parar um pouco aqui e acolá, ainda do lado português, para mostrar algumas coisas ao KB. Fomos a Cacela Velha, a Castro Marim e a algumas praias da zona. E passámos a ponte, já estávamos em Espanha. Agora sempre em frente, para as instalações da Parking Vuela.
Esta deve ser a empresa mais organizada e profissional que conheço. A reserva foi feita no website da Parkvia, um agente de diversos negócios do género, tão eficiente como a própria Parking Vuela. Feita a reserva recebemos logo um caderno com indicações de como chegar desenhado de uma forma que não deixa margem para dúvidas. Se não quiser usar as coordenadas fornecidas, é uma questão de seguir o guião com fotografias e descrições que deixará qualquer um à porta do parque.
Chegámos e ainda não tinhamos as mochilas fora do carro já uma carrinha esperava para nos levar às portas das partidas do aeroporto. Eficiência! Foram cinco minutos e pronto. Lá estávamos. O KB ia ficar uma noite em Sevilha, despediu-se, queria ir dar uma volta para o aeroporto que utilizaria no dia seguinte para voar para Madrid. Quanto a nós, vimos logo uma pequena chatice a caminho: um atraso de pouco mais de três horas no nosso voo. Pronto, não é grave. Se tivessemos uma ligação a história seria outra mas como eram as coisas, nada de mais a não ser umas horas a vaguear por ali sem nada para fazer. Até agora o maior atraso num voo que tive.
Passou-se o tempo e não houve novidades. À hora prevista desde o primeiro momento partimos. Voar para Marrocos é algo de estranho. Vamos para um mundo tão distante, separados por mar e um oceano de cultura e ainda mal descolámos já estamos a apertar os cintos para a aterragem. É como ir até ali acima a Lisboa ou ao Porto. Uma hora de viagem para Marrakesh, menos para Fez e para outras cidades marroquinas.
A passagem pelo controle dos passaportes foi mais rápida do que esperava. Trocar dinheiro foi um sopro. E em menos de vinte minutos estávamos na rua a olhar pelo autocarro para a cidade, que vimos logo, como esperado, do lado esquerdo, a seguir à fila de táxis. É o 19, operado pela ALSA, a empresa de transportes públicos da cidade. O bilhete custa 30 Dirham, ou 50, se se optar por um de ida e volta. Neste caso, feitas as contas, cerca de 2 Eur e pouco. Há uma possibilidade mais económica que é caminhar até à avenida principal, a 400 metros, e ali apanhar o 21, que, sem a mordomia do serviço de aeroporto, vai custar apenas uns cêntimos. Opcionalmente pode-se ainda caminhar até ao centro. O passeio não é desagradável, há sempre passeios largos e bem mantidos e são mais ou menos 5 km.
Chegámos à paragem que serve a famosa praça Jemaa El Fnaa e dali encontrar o riade dos italianos que nos iriam alugar um quarto foi simples. Não seria ali que ficariamos, mas sim num outro riade, que muito recomendo. Tudo arranjado no AirBnB. Um dos italianos é um arrogante. Ou pelo menos assim me pareceu. Poderá ser efeito da barreira linguitsica, que o inglês dele não era o melhor. Mas a verdade é que os outros dois sócios eram cinco estrelas. Infelizmente o parvinho parece ser o responsável pelas comunicações pré-chegada. Recusou-se a dar-me direcções para chegar ao riade. Sempre a empurrar para o serviço de táxi deles, ou então para ligar quando chegasse à praça que um deles iria lá buscar. Ligar? Com roaming são quase 3 Eur. Se não custa, eu ligo, e depois dão-me um desconto equivalente na dormida, boa?
Foi uma batalha. Finalmente mandou-me um mapazinho por e-mail. Que era impossível explicar, que a medina era um labirinto. E é. Mas não para encontrar o riade deles, que esse caminho explica-se numa linha de texto como depois verifiquei. Se houver boa-vontade. Depois foi mais uma tourada, porque como o nosso voo se atrasou aquelas horas, havia a possibilidade de chegar depois de 22 horas, e nesse caso o italiano não deixava margens: teria que ir no táxi providenciado por eles. Isso é que era bom! Enfim, o que vale é que acabou por correr tudo bem. E como o nosso riade está em regime de auto-suficiência, não precisei de lidar mais com os italianos (e vá, os outros dois eram uma simpatia).
O Simone caminha conosco, vai-nos mostrar as instalações. E são excelentes. Adorei o quarto, num riade muito sossegado, a poucos minutos de caminho da praça principal e contudo sossegadinho, de tal forma que o silêncio à noite até fazia impressão. Bem decorado, devidamente mobilado, de forma atractiva, dentro do estilo local. A casa de banho era exterior, partilhada com apenas mais um quarto. De resto, em todo o riade havia apenas quatro quartos e ocupados por gente boa, tranquila e agradável. Este quarto é o local a ficar, se se fizer o necessário zen para lidar com o Alberto. Chama-se The Winehouse Room.
Ainda fomos à praça, para satisfazer a curiosidade. Na realidade tinhamos passado mesmo pelo meio uns minutos antes, à chegada. E é aquilo… um festival constante. Neste dia estávamos um pouco cansados, estava frio. Fomos apenas espreitar, logo regressámos para a primeira noite em Marrakesh.