Acordo à vontade, em paz. São nove e pouco. O dia lá fora está tristonho. Tanto melhor, é uma confirmação do repouso que desejava. Não vou sair de casa. Continuarei a cura de águas com mais uma ronda de quatro garrafas de litro e meio.
A senhora que faz a limpeza virá, mas não importa. Todo o dia é relaxado. Ponho algum trabalho em dia, vou preparando a chegada ao Irão. Arrumo calmamente a mochila, de forma muito organizada. Mas há uma notícia que despoleta uma reacção bem negativa. Descubro que já não existem autocarros a partir do aeroporto de Teerão. Só mesmo táxis. Tem de ser táxis. E eu detesto táxis, por tudo. A frustração acumulada por dezenas de pedidos de “couch” para o Irão sem efeitos práticos ganha asas para voar com esta novidade.
Já sentia alguma falta de vontade de ir ao Irão e de repente dou comigo a desejar ir para casa. Que se lixe o Irão e os iranianos e os couchsurfers de treta. Que se lixem os táxis. Vou para casa. Vejo que posso voar já amanhã de Istanbul para Madrid por 100 Eur. Hesito. Naquele momento só tenho a certeza que não quero ir para o Irão. E logo 19 noites. 19 noites das quais tenho “couch” para apenas quatro. Quinze noites que terei que ficar a pagantes, uma despesa com que não contava e que certamente não desejava, agora reforçada por mais 40 Eur para táxis.
Procuro as ligações possíveis de Madrid para casa. A via aérea está fora de questão, o preço é ridículo. Há algumas ofertas blablacar. Para Lisboa e para Huelva. O tempo passa, tenho que tomar uma decisão. Outra possibilidade é usar aqueles 19 dias para visitar outros locais da Turquia. Podia ficar em Kayakoy com o meu amigo Sehmi, que foi o anfitrião de 2013. Só sei que não quero o Irão. Ainda não cheguei e já não posso com os iranianos. Já lidei com mais de seis dezenas deles através do Couchsurfing e o balanço é bem negativo. E não quero gastar tanto dinheiro.
Mas acabo por decidir à última da hora. Tão à última da hora que sei que posso perder o avião. Será uma decisão entregue às mãos do destino. Saio para a rua depois de me despedir da Mine (e do Emre, pelo telefone). Chove. Já vou a bordo do autocarro do aeroporto quando o tal destino toma uma decisão que me surge sob a forma de um SMS que anuncia um atraso de 50 minutos no voo devido ao trânsito intenso em Istambul. Pois será o Irão.
Chego ao terminal do aeroporto. Um explosão de gritos. Incha Benfica, que o Galatasaray marcou. Passo pelo controle de segurança. Segundo golo do Galatasaray. Ao intervalo, Galatasaray 2 Benfica 1.
Vou chegar a Teerão às 3 da manhã. Tenho muito tempo para ter a certeza absoluta de que não há alternativa aos malditos táxis e vou matutando nas formas de escapar do país. Descubro que hoje mesmo o Irão reabriu o tráfego ferroviário com a Turquia. E se me pirar logo de Teerão para Tabriz e de lá para Van, já na Turquia, regressando a Istambul com a Pegasus? É uma ideia.