O segundo dia no Chipre ficou assim mais ou menos planeado: de manhã, explorar melhor a parte histórica do sector turco e à tarde, depois do almoço, encontrar com o anfitrião e irmos juntos até ao sector grego.

E assim foi. Ele deu-nos boleia até uma casa museu a meio caminho, que era a residência de um médico militar turco que ali vivia com a família. A casa foi atacada por activistas gregos (coloca-se a hipótese, mesmo entre os turcos, que a acção tenha sido na realidade desencadeada pelos próprios turcos para inflamar os ânimos) e a família do doutor foi assassinada. Fez-se ali um pequeno museu do trágico incidente, com a descrição detalhada do que se passou, fotografias, artefactos.

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Caminhamos para a cidadela, a área entre muralhas de Nicosia, que é de um tamanho considerável. Equipados com um mapa encontramos coisas que não tinhamos visto na manhã da chegada. Ruas antigas, fragmentos da guerra civil e da intervenção turca…. vimos, a alguma distância, aquilo que outrora foi um hotel e hospeda agora o pessal do contingente das Nações Unidas que se encontra ainda entre gregos e turcos. Parece-me ser uma tolice. Não há ali potencial de agressão, as populações de ambos os lados convivem alegremente, visitam-se mutuamente todos os dias.

Há uns anos houve um referendo sobre a reunificação. O “Não” ganhou, mais claramente do lado grego. Mas isso não significa que se justifique a presença de forças da ONU, até porque não são força alguma, não têm armas. São mais observadores, digamos. Que já nem observam muito. A torre de vigia que se encontra montada naquilo que foi um campo de futebol, hoje partido ao meio, bancadas e tudo, não tem ninguém.

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Acabámos a manhã no café do mercado, a descansar os pés, a tomar umas bebidas bem servidas pelo senhor de aparência castiça cujas folhas do jornal se evadiram quando o apanharam a servir-nos a encomenda, esvoaçando por todo o mercado. Foi uma doce memória, como o foram, genericamente, todas as destes dias de Chipre.

O nosso amigo juntou-se-nos para explorarmos juntos a parte grega. Os do sul, como ele dizia. Atravessar a linha de separação tornou-se algo simples há poucos anos atrás. Especialmente para nós, portadores de um passaporte da Comunidade Europeia, porque o Chipre é membro e logo temos entrada facilitada. Contudo, é bom lembrá-lo, ainda há pouco tempo a linha de separação estava encerrada, não havia trânsito oficial de pessoas.

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A parte grega da cidade é aquilo que imaginava no Chipre: uma palhaçada pegada para turistas muito mainstream, um desfilar de restaurantes e lojas de preços inflacionados, uma espécie de Albufeira a uma escala superior. Tudo isto envolvido pelas zonas residenciais. Desinteressante? Por definição!

Mesmo assim, como a companhia era boa e a disposição também, a tarde foi apreciada. Andámos uns bons quilómetros e às tantas estava mesmo cansado e pronto para regressar. Descobrimos vestígios da antiga linha de caminhos-de-ferro, tivemos sede mas descobrimos que não tínhamos… Euros. O nosso amigo mostrou-nos o que resta do antigo aqueduto que servia de água as quintas da cidade.

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Quando nos aproximávamos da “fronteira” a noite ia caindo e as esplanadas recebiam jovens cipriotas gregos que assumiam a sua hora mais social. A última memória é positiva. A única assim. Uma imagem feita de gente bonita, com o futuro pela frente, debatendo essas coisas entre si, vivendo sem o saber o que deverá ser o melhor das suas vidas.

Para o jantar comemos um kebab numa tasca de um velhote. Achei caro, muito caro, para o que é e para a localização. Não me custa a dar 5 ou 6 Eur por um Kebab, mas chateia-me um bocado quando penso que por metade desse preço os como de muito mais qualidade num restaurante muito mais “upscale” algures em Varsóvia.

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