Se Valladolid e Campeche foram igualmente decepcionantes, pelo menos esta segunda revelou-se bastante fotogénica de manhã cedo, antes da vida começar na cidade.
Ao fim de sete dias o jetlag ainda subsistia, apesar de ligeiro, o que significa que foi sem problemas que nos levantámos com o sol e saímos para as ruas para fotografar. Um belo dia, que mais tarde se revelaria abrasador.
Inicialmente as ruas estavam completamente desertas. Nem os habitantes da cidade que se esperaria ver rumando aos seus locais de trabalho se avistavam. Infelizmente os muitos carros estacionados nas ruas do centro histórico de Campeche iam impedindo melhores fotografias, mas mesmo assim foi-se fazendo alguma coisa. Até porque a principal rua, basicamente a única onde não é permitido estacionar, ainda não estava repleta das esplanadas que depois se mantêm durante o dia, substituindo as viaturas como empecilhos para a recolha de imagens.
Boa luz, bonitas casas, muita cor. E assim se foram passando os minutos, e enquanto o tempo avançava a vida começava. Vi os primeiros turistas. As esplanadas começavam a ser montadas.
Havia que tomar o pequeno-almoço. Tarefa difícil: o que estava disponível tinha preços ao nível da Europa. E não exagero. Não ia pagar 6 Euros por uma sandes. Nem me interessava aquele tipo de estabelecimentos, talhados para reunir os estrangeiros na refeição matinal. Com a fome a apertar satisfiz-me mesmo numa Subway, onde comi uma bela baguette preparada com amor por um rapaz simpático. Soube-me bem.
Um grupo de russas em viagem tipo “girls only” tirava fotografias, ficando uns dez minutos em cada ponto, para desespero da guia local. Aparentemente sabiam dizer duas palavras em espanhol: “amor” e “diñero”. Mais tarde voltei a encontrá-las, exaustas, esbaforidas com o calor, à sombra de uma muralha enquanto esperavam o seu transporte.
Mais uma volta. A manhã ia chegando a meio. Havia que decidir o que fazer. O vago plano previa duas noites em Campeche mas não me imaginava ficar mais um dia. O serão anterior tinha sido um pouco traumático, não gostei mesmo nada de Campeche “by night”. Agora de manhã, não tão mau, mas sentia que já estava tudo visto e não era local onde me apeteceria ficar a recuperar energias. Demasiado turístico, demasiado maquilhado, demasiado caro.
Sentámo-nos num banco de um parque, perto da principal igreja da cidade. Foi mesmo ali que comprámos os bilhetes para o autocarro ADO que nos levaria ao próximo destino, Palenque, que escolhi para visitar as únicas ruínas pré-Colombianas que seriam visitadas nesta viagem.
Ainda havia tempo para sentir um pouco mais desta cidade. Teríamos que ir ao hotel buscar as mochilas, que tinham sido devidamente preparadas para que o pessoal, caso não ficássemos mais uma noite, as guardassem na arrecadação. Assim não precisaríamos de passar por lá antes da hora normal para a partida.
Assim, decidi visitar um dos bastiões disponíveis e abertos a visitantes. Paguei um valor simbólico pelo bilhete, esperei um pouco, já que o número de pessoas no interior estava limitado devido ao COVID e subi. Não há assim muito para ver, mas valeu a pena. Tive uma perspectiva diferente da cidade, vista de cima. Mas o sol começava a ser demasiado forte. Não me demorei.
Fomos então recolher as mochilas. O patrão não estava no hotel, apenas as funcionárias que faziam a limpeza e um ajudante. Pedi à senhora para me chamar um táxi, já que a Uber em Campexe não é especialmente fiável.
Passaram-se os minutos e nada de táxi. Comecei a ficar nervoso. Insisti com ela, que voltou a ligar, disse-lhes que as pessoas estavam a ficar desesperadas (esqueci a expressão em espanhol, mas era engraçada). O senhor foi para a rua ver se encontrava outro táxi mas mesmo às últimas apareceu o que tínhamos pedido por telefone.
Para a central de autocarros ADO para mais uma viagem relativamente longa. Penso que 5 ou 6 horas, até Palenque. Mais um Harry Potter dobrado em castelhano para me atormentar.
No destino a estação de autocarros é mesmo central e a um par de centenas de metros da principal rua de restaurantes e alojamentos onde iríamos ficar.
A primeira impressão de Palenque foi positiva. Na entrada da cidade observei pela janela um ambiente rural que não tinha ainda visto. Homens de sombreros, alguns a cavalo. Carrinhas estereotipadas do agricultor mexicano, muito velhas, muito usadas. Pensei que ia ser bom. Não foi. Mas pelo menos o serão foi agradável.
Apesar de muito turística a zona não era desagradável. Afinal, era esperado. Aceitável. Boa escolha de restaurantes e cafés. Tomámos uma bebida tradicional maia num local agradável e voltámos para descansar. Estava bem-disposto com aquela chegada a Palenque.