Excitado com a exploração das ruínas de Palenque e com a possibilidade de deixar os turistas para trás embrenhando-me nos trilhos da selva tropical e encontrando os vestígios mais remotos, acordei cheio de energia.

A noite não tinha sido mal passada. Surpreendentemente, considerando que o alojamento era um bocado do tipo hostel, relativamente barato e com muitos viajantes jovens. Além disso estava mesmo no centro da acção nocturna, mas nada disto se revelou um problema.

Bem, então havia que ser dos primeiros a chegar para usufruir da visita às ruínas principais com o menor número de pessoas possível.

Pequeno-almoço tomado num simpático restaurante, mesmo em frente ao terminal de autocarros ADO. Foi a única coisa boa do dia.

O transporte para as ruínas apanha-se na rotunda ali mesmo, também em frente à estação de autocarros. É simples. Passam com boa frequência, talvez de 15 minutos, e dizem ruínas. Não há que enganar. Deixam os passageiros no centro de visitantes onde há que comprar os bilhetes e depois prosseguir até ao sítio arqueológico, uns 1500 metros mais à frente. Há duas opções: caminhar ou esperar pela carrinha seguinte e voltar a pagar um bilhete inteiro.

Era o segundo da fila. A bilheteira abriria em breve. Ingressos adquiridos, agora seguir até às ruínas. E aqui foi onde o plano de ter o local quase só para mim falhou: os grupos e os visitantes com guia privado têm viatura própria. Eu não. Ou seja, apesar de ter sido basicamente o primeiro a chegar, quando caminhava pela estrada ia vendo passar as carrinhas e autocarros cheios de grupos. Já se está a ver o filme.

Entretanto passava uma carrinha pública e apanhei-a, porque não….

Chegados às ruínas, o fluxo de pessoas parecia a entrada de uma estação de metro à hora de ponta. Tudo lá para dentro.

O céu tornava-se escuro, as nuvens adensavam-se. Passei rapidamente pelas estruturas principais do local arqueológico. Totalmente decepcionantes. Uma multidão, não nos podemos aproximar das ruínas e são de facto uma sombra do que vi noutros locais, na Guatemala e no Belize.

Bem, restava agora encontrar os tais trilhos e, porque não, fazer uma pequena caminhada pela selva usando um percurso demarcado para o efeito. Isto é, se o pudesse fazer: as autoridades decidiram que era OK ter uma multidão sem fim, quase ombro com ombro, a olhar para as ruínas mais “imponentes” mas seria um risco para a saúde pública, leia-se, COVID, deixar as pessoas irem às estruturas perdidas no verde imenso. E tão pouco se poderia fazer o passeio pedestre.

Como se o cenário não se tivesse já tornado o mau suficiente, começa a chover. E mais, e mais. E torna-se claro que não é apenas um aguaceiro de passagem. Os vendedores de quinquilharias alusivas à vista começam a cobrir a mercadoria. Pouco depois, conhecedores da meteorologia local, recolhem os produtos e vão indo, dão o dia ou pelo menos a manhã como perdida.

Seja como for, também já tinha visto o que era para ver, estava azedo e despachado. Paramos num café-restaurante já no parque de estacionamento. A ver se para de chover, pode ser que ainda encontremos algum trilho viável para explorar um pouco a floresta. Mas não. A chuva mantém-se impiedosamente estável. Bebemos um sumo e seguimos.

Logo encontramos uma carrinha que vai para a cidade. E foi isto, Palenque, o pináculo da fase mais negativa da viagem, aquele momento em que pensamos que se calhar deveríamos limitar as perdas e comprar um dispendioso bilhete de volta a casa para o dia seguinte.

Nesta encruzilhada no México tinha estado na mesa a hipótese de divergir para o interior, ou seja, em direcção à Guatemala, e ver uma das ruínas mais recônditas e grandiosas do México. Com um custo considerável, em tempo, longas viagens de autocarro e dinheiro. Depois desta experiência ficou fora de questão. Havia agora que ver qual a melhor forma de prosseguir sem grandes esticões de autocarro. E Villahermosa, capital do estado de Tabasco, foi a escolha.

Villahermosa é unanimemente considerada desinteressante. Mas estava mesmo ali, na rota para norte, com ligações directas daqui e para a paragem seguinte. Então assim foi. Depois de grandes estudos de possíveis opções Villahermosa foi a escolhida. Bilhetes comprados e autocarro ADO depois do almoço.

Chegamos já ao fim da tarde. Da estação local até ao hotel marcado são pouco menos de 2 km. Vamos a pé. Um pouco nervoso, porque o México é o México e rapidamente se passa de uma área segura para partes menos recomendáveis.

Chegamos ao hotel e é quase de noite. Chove. Este hotel, a fechar, foi a segunda coisa boa desta jornada diária. Não diria do dia porque já chegamos de noite. Um oásis de tranquilidade e qualidade, económico mas com padrões europeus. Quarto confortável, pessoal simpático e uma vista imensa para a cidade.

Room with a view

Trata-se de um hotel de rede, é um One. One Villahermosa Centro. 33 Euros por um quarto duplo. E escrevi isto no comentário de avaliação:

“Location couldn’t be any better, staff was super friendly and welcoming, very quiet even being right on the hottest spot in town, modern, well equipped, very clean, acceptable breakfast, good lights in the room, awesome views, stable and fast wi fi. Amazing price for what I got. Can’t see how could be any better. Very happy I picked this hotel for my stay in Villahermosa. In such way that I ended up extending my stay for a second night.”

Ah pois é. A localização. Mesmo no centro. Saía e estava numa praça cheia de vida local, e lojas e comida de rua. Fascinante. Comi ali uma sandes de carne que foi uma coisa fabulosa. Aquilo a que se chama no México uma torta. Torta al Pastor no caso. Ainda hoje sinto o sabor bom na boca. Ali, sentado num muro, a ver a “fauna” local.

É de noite mas a vida na cidade está ao rubro, fervilhante. Passeamos um pouco pelas ruas calcetadas. Muitas lojas, muita gente. Uma surpresa agradável, esta Villahermosa, que pouco mais tem para oferecer do que ser genuína.

Chegamos à praça da câmara municipal e a uma ponte que cruza o rio. Um grupo de polícias encontra-se postado à entrada, apenas a ver quem entra no tabuleiro. Talvez porque é uma ponte longa e um ponto com uma segurança potencialmente precária.

É a nossa dica para regressar. A ideia era passar uma noite aqui e seguir viagem, mas visto isto decidimos passar o dia seguinte inteiro aqui e abalar mais tarde, pela manhã.

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