Vera Cruz, terra de má fama, uma taxa de criminalidade alta mesmo para os padrões mexicanos. Já um taxista daqui que nos levou noutra terra tinha avisado… de Vera Cruz tinha saído e não planeava regressar. A última vez que tinha vindo de visita à família teve problemas, foi seguido, suspeitou de tentativa de roubo do carro e saiu de lá no dia seguinte logo pela manhã.

Bem, não ia então muito seguro e a chegada não melhorou os meus receios. Mas comecemos pelo principio do dia.

Conseguimos tomar o pequeno-almoço no hotel antes de caminhar para a estação de autocarros. Correu tudo bem. Não chovia e a distância foi vencida à laia de passeio matinal. Num instante íamos a caminho de Vera Cruz.

Foi uma viagem atribulada. Diversos postos de controle ao longo da estrada. Quase sempre para verificar apenas o veículo mas umas quantas vezes foram também pedidos os documentos dos passageiros. Muita polícia nas estradas, muito aparato. Acho que só na Síria encontrei uma presença militar e policial mais forte do que ao longo deste trajecto no México.

Numa das paragens o agente perguntou-me quando me ia embora do país ao que respondi com toda a naturalidade que dali a cerca de três semanas. Ah pois é, diz-me ele, mas aqui o seu passaporte indica que só pode permanecer mais três dias.

Como!??? Parece que o agente de fronteira se esqueceu de um número. Em vez de colocar 180 dias no período em que estava autorizado a permanecer, escreveu 18. Um stress momentâneo. Depois de me sugerir atravessar para a Guatemala e regressar, ao que respondi que a Guatemala não era propriamente ao virar da esquina, ele encolheu os ombros, pediu-me de novo o passaporte, saiu e voltou…. deu-me o documento… já com o zero que faltava. Falsificou um documento, a bem da justiça. Agradecido.

Chegamos a Santa Cruz e o táxi que apanhamos à saída da estação ADO é conduzido por uma louca do volante. Um espetáculo, ao mesmo tempo fascinante e assustador. Mas chegámos em segurança ao nosso hotel, mesmo no centro, na rua contígua à praça principal. Se eu fosse um tipo esquisito diria que a escolha de alojamento não tinha corrido bem: nas fotografias vê-se um terraço que nos dizem ser reservado para eventos. Cabelos e outros lixos no quarto. Sem ar condicionado quando era suposto tê-lo. Mas foi barato e não é desconfortável. No stress.

Vamos então sair a passear por Santa Cruz. O mar está mesmo aqui. Foi a Vera Cruz que chegou Cristóvão Colombo quando tocou o continente americano. A tradição marítima tem-se mantido desde então. É ainda hoje uma das principais bases da Marinha Mexicana e pesca-se muito por aqui. Além disso conta com um dos maiores oceanários da América Latina.

Passeamos junto ao porto. Muita gente, muita animação. Também algumas personagens suspeitas. Vera Cruz é conhecida pela alta taxa de crime e de facto há algo aqui que me deixa intranquilo.

Vamos andando pelo passeio marítimo. Muitas barraquinhas de vendas. Mas há algo estranho. Está um dia agradável, é fim-de-semana, teoricamente está desenhado o cenário perfeito para uma enchente, mas afinal não ainda assim tanta gente por ali. A multidão inicial dissipou-se à medida que nos afastámos do centro, mas contudo os vendedores não. É como que uma feira, de barraquinhas praticamente ininterruptas.

Passámos pelo farol, um dos principais marcos da cidade. Depois chegámos a uma praia. Aqui sim, de novo muita gente. Vê-se que as pessoas usufruem. Famílias, mesas postas, comida e bebida a rodos.

Eventualmente chegámos até ao oceanário. Acede-se por uma espécie de centro comercial. O bilhete custa cerca de 6 Euros. Penso que para além do velho Aquário Vasco da Gama, em Lisboa, nunca tinha estado num oceanário. Valeu o dinheiro do bilhete, que foi pouco, mas nada de espectacular.

Ao princípio, demasiada gente. Depois o espaço vai-se aligeirando O final é no recinto dos pinguins. Está feito. Estou cansado e tenho fome. Tentamos um restaurante ali próximo, que tinha marcado à ida. A varanda, com mesas, parecia-me animada e com boa música mexicana. Mas o empregado que nos atende é tão chato, mas tão chato, que nos fez mudar de ideias. O homem não deixava respirar. Para começar, recitou o menu inteiro, palavra de honra, e estou a falar de umas 40 opções. Ainda se aguentou. Depois de nos sentarmos, não deu qualquer espaço. De caneta e bloco em riste a debitar sugestões sem fim. Não deu, pedimos desculpa, mudámos de ideias. E fugimos dali.

Fomos parar mais à frente, numa tasquinha tranquila com umas três mesas na rua. Ali sim, esteve-se bem, com uma bebida como restaurador de energia. A tarde já ia longa e tinha-se andado bastante.

Tempo de regressar ao hotel, com uma pequena variação que nos trouxe por uma rua interior durante um bocado.

Depois de um período de descanso, já com a noite como pano de fundo, saímos. Na praça central, mesmo ali ao lado, havia festa, com palco e tudo. Fomos jantar numa esplanada deliciosa, claramente o café antigo de Vera Cruz, onde a velha escola ainda acorre e com paredes decoradas com fotografias do local noutros tempos. Muito interessante. E foi isto.

 

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