E quem diria, depois de uma chegada tão tristonha, que Puebla se viria a tornar um dos pontos favoritos de toda esta viagem? São os milagres que fazem noites bem dormidas e mudanças de dias escuros para banhos de luz.

A manhã estava sorridente. Acordámos muito cedo, decididos a explorar a cidade, e os raios de sol alegraram-me. Do outro lado da rua, Einstein dava-me as boas vindas, como que uma oferta de paz por parte da cidade.

Peubla, uma encantadora cidade pela manhã

Puebla estava vazia, como se dormisse ainda. Apenas o sol espreitava por entre folhagens, enquanto se levantava, fazendo brilhar o pavimento pedregoso.

Foi um dia de muitas andanças, e estas voltas são difíceis de colocar em palavras sem ser entediante. Fomos até à extremidade da área que queríamos cobrir, marcada pela histórica ponte de Ovando, um ponto que, soubemos depois, marca o final da zona mais segura da cidade e o início de uma área onde é melhor não vaguear durante as horas escuras do dia. Mera coincidência.

Um mural magnífico

Mesmo ali, deliciei-me com um mural fabuloso, cheio de fantasia e cor e fantásticas combinações que ultrapassam a mera pintura, incluindo elementos tridimensionais na composição.

Nos Sapos, uma área que se estende de modo vago em redor do Callejon de los Sapos, encantámo-nos com a feira de velharias que ali tem lugar nas manhãs de fim-de-semana. Muito pitoresca, genuína.

Toda aquela zona é belíssima, transpirando história, adornada com belas casas da era colonial, mantidas de forma impecável e pintadas de cores quentes e vivas.

A Biblioteca Palafoxiana

Agora que são nove horas, vamos até à Biblioteca Palafoxiana, um lugar fabuloso com referências ao imaginário incontornável do universo Harry Potter, no qual este tipo de espaços tem uma presença tão intensa.

Faz lembrar a biblioteca da Universidade de Coimbra, com uma diferença desde logo: aqui podem-se tirar fotografias livremente, o que para mim é sempre uma mais valia. Já agora, a entrada é gratuita. Só há que esperar a chamada e, se já existir um elevado número de pessoas aguardando, ir preparado para ter que alongar o período de espera.

Uma rua de Puebla

Seguiu-se no programa da manhã uma actividade que gosto de fazer de forma comedida: uma tour, melhor, uma free walking tour, que correu bem. Ali fiz travei um conhecimento que ainda hoje está em contacto, um alemão do mundo das viagens com muito em comum comigo.

Pois lá se foi, com um guia que de início não inspirou muito mas que se revelou uma personagem à altura para o trabalho, com as esperadas histórias paralelas e um um roteiro bem estruturado, pela variedade e pela extensão geográfica e temporal.

La Churreria

Pelo caminho, enquanto o grupo visitava a biblioteca onde já tinha estado, aproveitei para uma incursão a uma popular pastelaria onde comprei uma espécie de queijada. Nada má. Recomendo o local, e depois é escolher o que parecer cair no goto. Trata-se de La Churreria.

O passeio prosseguiu com mais explicações, ora sobre a cozinha mexicana, ora sobre um ou outro edifício de relevância histórica. A hora do almoço entretanto aproximava-se e sentia-se um certo cansaço no grupo. Estava na hora de concluir. E lá se foi, cada um para o seu lado.

Um dos quartos da Casa Alfenique

Passou-se para a hora das visitas. Primeiro à Casa Alfenique, uma bela casa-museu de visita obrigatória para quem venha a Puebla. As exposições são interessantes e o primeiro andar é uma reposição dos ambientes da classe média alta de finais do século XIX, incluindo a cozinha e a capela privada da família. Muito bem conseguido!

Seguiu-se o Templo de São Domingo, uma bonita igreja no centro histórico cuja fama entre os turistas se deve à capela do Rosário. Esta é um dos locais mais impressionantes que já vi. A sua memória perdurará até ao fim. Visitá-la foi um daqueles momentos inesquecíveis de quem anda por ai, a cruzar mundo. E tudo isto pela riqueza da decoração, toda em ouro, com um fausto e um detalhe impossíveis de descrever por palavras.

A Capela do Rosário

A entrada na igreja é gratuita. Talvez pelo COVID é contudo controlada e há que esperar pela vez. Havia uma fila considerável, algo que em circunstâncias normais me dissuadiria de visitar, mas por alguma razão senti que aquela tinha mesmo que visitar… e tinha mesmo. Depois, para aceder à capela, é pedida uma “doação”, um valor simbólico, bastante bem empregue.

Neste dia já não se fez muito mais. Ainda era cedo. Umas quatro da tarde. Mas muita cidade tinha sido calcorreada, e apesar de não apetecer recolher, o corpo assim o exigia. Nem sei quantos quilómetros caminhei, muitos. Mas todos por uma boa razão.

Um detalhe de Puebla

Puebla é encantadora. A mim encantou-me, pelo menos. Esperava uma cidade muito turística. Afinal, é um dos locais classificados pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade, e a sua proximidade à capital e localização na rota de quem vem do sul para o norte do país, deixavam-me antever multidões de estrangeiros. E afinal não. Bem pelo contrário.

O apartamento alugado também contribuiu para a construção das memórias doces. Perfeito. Tirando uma americana que estudava espanhol no apartamento ao lado. Mas chegava tarde, só estudava um pouco e dormia cedo. Um incómodo menor num alojamento perfeito, bem localizado e confortável.

Artista de rua em Puebla

Contudo, ao fim deste primeiro dia completo na cidade já sentia que não haveria muito mais a ver e fazer. Até porque o melhor tinha sido o ambiente descontraído de fim-de-semana. Num dia normal de trabalho as coisas seriam provavelmente diferentes.

E foi assim que passámos o serão a relaxar mente e corpo e a estudar alternativas para os dias que se seguiriam.

Uma qualquer igreja em Puebla

É que havia dias disponíveis e poucos candidatos para o seu preenchimento. A questão principal era Oaxaca. No fundo tinha um palpite de que seria uma aposta falhada, mas depois de ler não sei quantos artigos com os mais altos elogios também sentia que se não fosse até lá ia ficar a matutar se teria perdido algo. Ficou decidido ir, dali a dois dias. E foi uma escolha infeliz.

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