E mais um dia nesta cidade maravilhosa. O programa da manhã iniciava-se com uma visita ao museu Soumaya. E que experiência. Não sou grande fã de museus, especialmente se não são focadas nas minhas áreas de interesse, mas o museu Soumaya é fabuloso.
Trata-se de uma iniciativa privada, de visita livre. Mas mesmo antes de se iniciar a visita já uma pessoa está fascinada pela arquitectura do edifício.
A colecção é uma coisa linda. Foge ao estereótipo do museu de arte, apesar de ter peças de grande valor, de autores intemporais. Há Picassos, há Van Goghs, há Rodins. Mas também há expositores com peças que fazem sorrir, como uma colecção de telefones, instrumentos musicais, marfim talhado na China e até peças da Goa Portuguesa.
Tirei fotografias como se não houvesse amanhã. Sim, porque não há qualquer impedimento – para além da natural proibição de usar flash – quanto à recolha de imagens no interior do museu.
Os espaços são incríveis. Não é só por fora que o edifício do museu é uma obra de arte per se. Os interiores são também eles espectaculares.
Entrei no Soumaya a pensar que iria gastar uma horita na visita e passaram-se umas três horas, um tempo que correu com a naturalidade com que sempre foge o tempo que amamos.
Saí com um grande sorriso. Cá fora o dia estava lindo. Esta é uma zona moderna, com edifícios de escritórios, centros comerciais, muito betão e vidro. Sente-se isso nas pessoas, na forma como vestem, na sua atitude. É um bastião de uma classe média sólida, requintada, cosmopolita.
Ali defronte há uma zona de comida de rua. É hora de almoço. Muitos dos que trabalham ali por perto estão a comer qualquer coisa e eu próprio compro um delicioso copo de horchata, uma bebida comum no México que se pode descrever de forma simplificada como arroz doce liquidificado.
Deitamo-nos num relvado a aproveitar a sombra e um muro quando um estridente apito se faz ouvir. Parece um comboio. E de facto ali em frente existem uns carris… parecem desactivados mas… afinal não o estão. A composição passa, devagar, um longo comboio de vagões de carga.
Terminado o repouso, chamamos um Uber, vamos para junto da entrada do centro comercial mais perto. É hora de ponta para este tipo de serviços. Há um corropio de Ubers que param ali para recolher ou largar passageiros e eventualmente chega o nosso.
Umas horas a descansar no hotel e uma nova saída. Vamos para o centro histórico, o amplo centro histórico. A ideia é visitar o Zócalo, sem a maratona da Cidade do México. Mas a grande praça central parece estar destinada a fugir-nos. Hoje é um mega comício político do presidente do país. Toda aquela área está vedada. Sente-se a pressão da massa humana nas ruas envolventes, caminhamos quase ombro com ombro com a multidão.
Já que não há zócalo então visitamos um pequeno museu, o Museo del Estanquillo, num edifício histórico ali próximo. Mais uma visita gratuita. No México o acesso a museus e outras atracções ou é gratuito ou custa um valor simbólico.
Tinha encontrado um artigo algures na net sobre os cafés históricos da Cidade do México. Alguns eram ali perto. Passámos em frente a um, não nos convenceu, pareceu completamente descaracterizado. Seguimos.
Muito mais atraente nos pareceu o Cafe de Tacuba, fundado em 1912, um pouco mais à frente, muito próximo da estação de Metro dos maníacos das lentes, Allende. E se atraente era por fora, igualmente bonito se revelou por dentro. O seu interior mantém todo o esplendor de outros tempos, o menu é extenso, o serviço é apurado. Aconselho.
Tomada a bebida, voltámos à rua. O dia aproximava-se lentamente do fim. A luz perdia o seu fulgor e havia mais gente por ali, um sinal da chegada da hora de ponta.
Fomos andando. Vimos o exterior da Casa dos Azulejos, muito bonita, e uma manifestação que passava ali defronte. Escusado será dizer que numa cidade histórica desta dimensão se encontra uma maravilha escondida por detrás de cada esquina.
Ali perto descobrimos um mercado do livro. Vimos o exterior do Museu Nacional de Arte e do Palacio das Bella Artes. Passámos junto ao Museu da Tolerância e já que estávamos ali fomos até ao Paseo e… já que estávamos ali continuamos a andar e fomos até casa. Não me tinha ocorrido que podíamos vir à zona mais central da cidade a pé. Pensei que fosse perigoso, desaconselhado. Mas não. Tudo muito pacífico.
Foi um passeio descontraído, interessante, valioso enquanto experiência. E contou com uma última cereja no topo do bolo: ainda na senda dos cafés históricos fizemos um pequeno desvio até ao Cafe Havana, local de conspiração de Fidel Castro e Che Guevara e pouso habitual de figuras como Gabriel Garcia Marquez.
Como desvio que é, pos-me um bocado nervoso. É só sair do Paseo e as ruas ficam desertas, sentimo-nos vulneráveis.
Mas, claro, não aconteceu nada, e a escapadela à roda mais óbvia valeu-nos uma visita a mais um café cheio de história onde bebemos um chocolate quente antes de concluirmos a caminhada.
Voltámos já noite cerrada, mas por outro lado com mais pessoas nas ruas e andámos por algumas artérias por onde não tínhamos passado e onde não regressaríamos nos dias que ainda passámos na Cidade do México.