17 de Maio de 2024

Um dia especial com um evento pouco comum nas minhas viagens: uma tour! Tinha que ser. Sabem, aquela imagem que vem à mente quando se pensa na Namíbia, de um deserto sem fim a tocar um oceano imenso? Pois a verdade é que essa visão dificilmente é alcançada na vida real. Essas áreas são inalcançáveis, não existem estradas.

Mas para o comum dos mortais há uma hipótese: uma tour a Sandwich Harbour, com partida de Swakopsmund ou Walvis Bay. Não é barato. Uns 120 Euros por pessoa para meio dia de passeio. Sou notoriamente forreta com estas coisas. Pensei, hesitei, matutei. E acabei por decidir ir, quando já estava na Namibia. Fiz o agendamento através do local onde fiquei alojado e não me arrependi. A agência da tour, Desert, Dunes & Dust Tours esteve impecável. Excelente condutor-guia, tudo bem organizado, sempre a pensar no cliente.

Flamingo em Walvis Bay

O ponto de encontro era um café em Swakopsmund. Onze horas. E exactamente nessa altura, chegou a viatura. Estava dentro do café a gozar o fresco do ar condicionado, paguei à pressa e juntei-me ao grupo já formado. Eu era o último elemento. Havia um viajante escocês e duas moças dinamarquesas. E o condutor, claro. Olhei para ele, aperto de mão seco e vigoroso e veio-me logo à ideia um nome: Crocodilo Dundee. O dia prometia!

Conversa boa ao longo do percurso até Walvis Bay. São cerca de 30 km que separam as duas cidades. Ia atrás, ao lado do escocês, e conversámos sobre as nossas experiências na Namíbia. Depois, uma paragem na sede da empresa, pagamento, carregamento dos nossos almoços (sim, está incluído no valor da tour) e partimos para uma observação breve da vasta colónia de flamingos ali mesmo, na marginal da cidade.

E depois começa a aventura a sério. Primeiro, por estradas de sal. É um piso com muito sal, onde se rola melhor que na terra batida mas que pedem algum cuidado adicional pois a aderência é mais reduzida.

Chega o ponto em que acaba a estrada e entramos no ambiente dunar. O trilho é agora de areia. Os pneus já foram convenientemente vazados para não haver atolamentos. Rolamos quase em coluna, com muitos outros veículos de diferentes agências. Este é um passeio popular, gostaria que houvesse menos pessoas, mas não afectou assim tanto a experiência.

Vamos rolando junto ao mar. Parece uma auto-estrada de viaturas TT. Há uma paragem no ponto que marca a entrada no Parque Nacional. Dali para a frente a condução só é permitida a condutores e viaturas autorizadas. Há muita gente ali, a tirar fotografias. Sinto-me ligeiramente irritado e o meu condutor sentiu isso, meteu conversa. “It’s a bit crowded”, disse-lhe. Prometeu que dali para a frente a multidão se dissolveria. E de facto foi verdade.

Em certo momento deixamos a orla, saímos da praia, entramos pelas dunas. A perícia do tipo do volante é admirável. Qualquer pessoa teria atolado a viatura à muito tempo, mas com ele (e com todos os outros profissionais que ali andam) as coisas são diferentes.

Nesta parte da viagem senti uma certa pressão na paragem. O tempo dado foi um pouco curto. Mas sei porquê. Não é por mal, mas os condutores têm que contar com as marés, pois a única entrada e saída de Sandwich Harbour é pela praia, e quando a maré sobe, não há praia.

Portanto aquele momento único para apreciar o ponto onde o deserto toca o Atlântico foi mais curto do que desejaria, mas é mesmo assim.

A paragem seguinte foi já no destino final. O topo de uma duna com vista panorâmica para Sandwich Harbour.

Hoje é apenas uma paisagem deslumbrante. Mas ali existiu outrora uma pequena cidade, desaparecida às mãos dos elementos. Foi o núcleo de povoamento de toda esta região, a partir da base de pesca que ali se estabeleceu. Mas o local revelou-se demasiado isolado e acessível quase apenas pelo mar. Aos poucos foi sendo abandonado até que a última casa desapareceu. Eram construções de madeira, daí a ausência de vestígios.

O nosso guia-condutor mostrou-nos no telemóvel imagens antigas dessa última estrutura e no regresso indicou-nos onde existia. É fácil de saber pois estava junto aos únicos arbustos existentes na área.

Os condutores – eram dois carros da mesma agência em coluna – desceram para perto do mar e prepararam a mesa para os clientes. Fomos descendo a duna quando nos deram sinal e apreciámos a ligeira mas saborosa refeição. E estava na hora do regresso.

Passado o ponto crítico onde a maré poderia apertar o carro contra as dunas, ficou tudo mais calmo. Ainda havia tempo e o nosso condutor deu-nos a escolher entre observação de animais e condução nas dunas. Por mim, indiferente. Os companheiros de aventura escolheram as dunas e na realidade recebemos as duas, pois também vimos alguma bicharada.

Não foi a minha primeira vez nestas andanças em dunas mas foi bem divertido. A mestria do condutor veio aqui totalmente ao de cima, criando um momento do tipo montanha russa. E, sabedor do ofício, levou-nos a locais onde vimos antílopes. E que bizarro é avistar estes animais no meio de um deserto que se estende até onde a vista alcança…

E estava a fechar a jornada. A viagem de regresso foi mais silenciosa, com os passageiros já cansados. Mas conversa sempre boa, se bem que mais serena. Muita informação passada pelo guia, alguns assuntos mais pessoais, como informação sobre a vida na Namíbia, custo de vida, ordenados, passado e futuro. Coisas assim. Uma paragem num posto de abastecimento, encher o depósito, nivelar os pneus para o asfalto e de regresso a Swakopmund.

Aproveitei para descer mais próximo de casa. Mas ainda parei no restaurante indiano para um lassi, que era bem saboroso. Estava a acabar a vista a esta cidade costeira da Namíbia. Mais um passeio, o último, ao pôr-de-sol, observando as casas privilegiadas que se encontram na praia. E o serão descansado, no lar de passagem.

 

 

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