Esta viagem começou com preparativos fora do comum. Nem me recordo de onde veio a ideia de ir a Amesterdão em Abril, depois de um par de anos a adiar uma visita, sempre com o temor da insuportável chuva, ideia bem reforçada pelos sorrisos conhecedores dos “amsterdamers” com que falei: “Quando é que chove menos? Tanto faz, está sempre a chover”. E com isto derrocou a minha vontade de visitar a cidade dos mil canais. Só que um dia, passei os olhos pelo historial metereológico de Amesterdão, que vejo eu? Que Abril é o mês menos chuvoso, e precisamente, o mês onde eu queria encaixar uma viagenzita qualquer. Depois, foi descobrir que as passagens aéreas estavam a preços muito amigáveis, e juntar uns bónus ao menu: porque não passar por Newcastle e visitar o meu amigo Danny antes de seguir para Amesterdão? E assim como assim, que tal ir por Edinburgh, que é mesmo lá ao lado e passar lá um par de dias? E já agora, apanhar um autocarro e dar um salto a Glasgow. Mas… os bilhetes de Newcastle para Oslo são a… 15 Euros? Irresistível! Então, Noruega, antes de finalmente chegar a Amesterdão.

E foi assim que uma ideia simples se converteu num plano elaborado envolvendo cinco destinos principais em três países. Só que assim como se levantou, assim se desmoronou. Oslo foi a primeira a cair, descartada por problemas de planeamento. Depois, de surpresa, foi-se a Escócia, vítima de umas infames dores de estômago que atacaram na véspera do vôo e me mantiveram acordado até altas horas da noite, na incerteza de uma esperada melhoria para o dia seguinte. Fiquei em terra, pela segunda vez na vida (ironicamente a primeira tinha sido num fim-de-semana que se esperava passado em… Oslo, abortado devido a uma tempestade de neve e temperaturas na ordem dos 20 graus negativos).  E não só me vi privado de travar conhecimento com a Escócia como tive que abrir os cordões à bolsa e comprar uma alternativa de emergência: um vôo directo Faro-Newcastle por 85 Euros.

Se as previsões de tempo não eram famosas para os dias escoceses, sai de Portugal com uma razoável esperança para Newcastle: chuva ligeira na manhã do dia seguinte, e apenas isso. Já para Amesterdão, anunciava-se um pequeno milagre, com sete dias de sol e mais sol à vista.

Como sempre, fui dos últimos passageiros a entrar a bordo. Mal acreditando na sorte, encontrei uma fila virgem de cadeiras. Imaginei-me logo com uma relaxante viagem pela frente, espaço com fartura, sossego… sentei-me com os livrinhos em redor e então vejo dois retardatários aproximarem-se. Se se podiam sentar… credo… a provação que me esperava. Não só me vi privado do meu querido espaço vital como os invasores eram dois portugueses do mais brenho que há, de tão brenho que assim que um topou o vinho tinto no catálogo da EasyJet, saltaram-lhe os olhos das órbitas e só descansou quando conseguiu chamar a atenção da hospedeira e lhe transmitiu, por gestos, os seus desejos.

Não chovia em Newcastle e o processo de me deslocar do pacato aeroporto até à estação de metro que serve a casa do Danny foi relativamente pacífico. Não fosse eu ter-me enganado a tirar o bilhete, adquirindo um de duas zonas quando se exigia o de três. SMS para o Danny a inquirir das probabilidades de encontrar revisores. Não eram muitas. Não eram muitas mas aconteceu, e mesmo ao cair do pano, no percurso para a última estação. E então sucedeu um milagre. Por alguma razão o meu bilhete satisfez o funcionário que acenou, alegre.

Caminhada de mais de um quilómetro, para encontrar o meu amigo em pulgas para ir beber um copo, o que significou mais uma caminhada de dois ou três quilómetros para cada lado, a troco de um copo de “ale”, que o pub fechava às onze horas e faltava um minuto para tal quando lá chegámos. Não fosse a estafa que me castigou quando já estava até bastante cansado, e diria que foi positivo. Nunca tinha experimentado “ale”, essa espécie de cerveja tão inglesa, e estava cheio de vontade. Não é fácil de descrever o líquido. Uma cerveja mole, servida a pouco menos do que a temperatura ambiente, mas com um gosto genuinamente mais agradável e cativante do que a cerveja convencional. O Daniel escolheu-me “ale” preto, ideia que me arrepiou porque não gosto de cerveja escuro, mas não disse nada. A coisa marchou, mas no dia seguinte, ao provar “ale” claro, percebi o que tinha perdido. Aquele sim, cativou-me, com o seu sabor agradável, a fazer-me lembrar ligeiramente vinho branco. O pub era agradável, com uma funcionário reconchudinha simpática, que nos serviu para além da hora e nos deu um tempo bastante razoável para acabar a bebida, numa mesa do espaço exterior – por nossa opção – com vista sobre o vale. O público que se encontrava por lá era jovem, intelectual. Numa sala contígua, tocava-se música tradicional, com muito violino envolvido.

1 COMENTÁRIO

  1. Bom dia Ricardo,

    Foi com agrado que descobri o seu blog (se bem que o PapaLéguas me soar a conhecido) pois estou a preparar a minha próxima viagem, aqui a Amsterdão.

    Obrigado pelas dicas,

    E parabéns pelo blog. É do mais completo e diversificado que encontrei!

    Também tenho um blog mas em vez de fotos vou colocando desenhos que faço nos meus Diários Gráficos
    Neste momento estou a relembrar Barcelona pelos desenhos

    Dê uma olhadela por lá

    Melhores cumps
    Miguel Antunes

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