assalto

As viagens são assim, muitos momentos bons, outros “assim assim” e alguns realmente maus. Desta vez aconteceu. Depois de dez anos nestas andanças, quatro continentes visitados, seis dezenas de países percorridos, fui assaltado. Sem glória nem dramatismo. Já passei por bairros proibidos na Albânia, já tive AK-47 apontadas na Síria, mas o momento do assalto, estava escrito, seria sereno. Durante o sono. Acordei e as coisas não estavam lá.

Sucedeu em Cabo Verde, na cidade da Praia. O que é irrelevante, é apenas um marco, um apontamento. Foi ali, podia ter sido em qualquer outro lado. Aliás, há poucos anos passei exactamente pela mesma experiência em Vilamoura, dessa feita com mais perdas, que na realidade não o foram porque na ocasião o seguro cobriu tudo. E por falar em seguros… vejam lá que agora que lhes ganhei o gosto tenho feito seguros de viagem para todas as saídas e desta vez… beh… Cabo Verde, povo irmão, aqui tão perto, só duas semanas… não fiz e saiu-me a fava.

Faltavam apenas duas noites para regressar a Portugal, fui apanhado por pouco. Fui dormir cerca da meia-noite. Às quatro e pouco da manhã um telefone tocou lá em casa, chamada desligada sem se pensar no assunto… e de manhã, ao acordar, bem cedinho como sempre em Cabo Verde, do computador que estava à carga restou o carregador, ligado à parede, uma extremidade solta como cordão umbilical cortado.

Procurar o computador, onde é que se terá metido o raio do computador… não, não está cá em casa. Será que a amiga Sueli o colocou em algum lado por alguma razão? Não, a casa é simples, percorre-se com os olhos facilmente, não está cá. É preciso telefonar-lhe! Mas… do estojo do telefone não sai nada. Levaram o telemóvel também, agora é quase oficial, a casa foi assaltada!

A Sueli “tripou”. “Impossível” dizia ela antes de rematar: “Vou já para aí”. Chegou poucos minutos depois. “Já liguei à polícia e à Judiciária”. O piquete acabou por chegar, tomou conta da ocorrência. Quatro rapazes de físico impressionante, semblante sério, trato correcto, exemplar mesmo. “Agora”, disseram, “é irem à Judiciária apresentarem queixa”.

E fomos. Atendimento impecável e profissional. A ocorrência foi participada, assinado o relatório. Boleia de regresso a casa com os senhores do CSI de Cabo Verde que analisaram a cena do crime. E pronto… acabou, agora é tentar relaxar. Não pensar muito, até porque os prejuízos não foram de fim do mundo: uns 200 Eur para o computador e uns 70 Eur para o telemóvel. Ossos do ofício, despesas de trabalho. Nada que ensombre os dias fantásticos passados neste pequeno grande país habitado por gente de primeira qualidade.

E como aconteceu? Por escalada, durante a noite, já se vê, até ao segundo andar. A Sueli tinha dito que a janela estava sempre aberta, que era o segundo andar, ninguém viria. Grande erro! Depois de casa roubada, trancas na porta, ou, no caso, depois é que olhei com olhos de ver: o primeiro andar está todo gradeado e a proteção dos outros oferece uma escada perfeita para quem queira subir um pouco mais acima. Subir até ao apartamento é uma brincadeira de crianças. Mas o assalto tem contornos fabulosos: a parte do computador entende-se bem, mesmo defronte da janela aberta, a vitima perfeita… agora, com tanta coisa pela casa, porque é que o tipo deu a volta ao colchão, tão perto de mim, para ir buscar o telemóvel, retirando-o da bolsa e desprezando o dinheiro mesmo encostado e a Nikon D90 mesmo ao lado é algo de verdadeiramente misterioso. Outra estranheza: às 4 e pouco da manhã ligou duas vezes para o meu contacto mais frequente. Vá-se lá entender….

Entretanto, dois dias depois, já o inspector responsável pelo caso tinha visto as gravações da câmara de segurança do banco ali perto. Avistava-se um pezinho malandro a trepar e nada mais. E já sabia que número de telefone é que estava a usar o meu ex-telefone e em que bairro parava o mariola. Fabuloso! Uma polícia a trabalhar de forma exemplar. E, segundo me consta, uma semana e meia depois, estavam engavetados os dois meliantes e o meu telefone recuperado.

E pronto, esta foi a história do precalço e da actuação modelar da polícia de Cabo Verde.

P.S. – Duas semanas depois o telefone estava recuperado e a polícia tinha uma pista sobre um terceiro elemento que estaria na posse do computador.

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