Durante boa parte do meu planeamento procurei um lugar para ficar em Baden. Não encontrei nada dentro de valores aceitáveis e acabei por combinar com o primeiro anfitrião voltar para ficar com ele também esta noite. Mas o interesse em visitar a cidade permaneceu.
Mas começando pelo princípio do dia. Acordei lá no apartamento do Marcin. Tinha-o sentido sair, bem cedo, pelas sete da manhã. Mas fiquei a dormir até acordar naturalmente. Depois, consciente de que tinha o dia todo pela frente e apenas um objectivo modesto a cumprir, deixei-me ficar na preguiça. Com muita calma, apreciando o espaço e a solidão.
Fui escolhendo um comboio, nas calmas, com passagem por Zurique. Estava decidido. Bilhete comprado. Agora era começar a preparar para sair. A estação, mesmo ali em frente. Simples. Tomei um duche, certifiquei-me de que não ficava nada esquecido, saí e deixei a chave na caixa do correio.
Mudança de comboio em Zurich Hauptbahnof, mais uns quilómetros e estou em Baden. Viagem curta e rápida, desembarque no centro da pequena cidade. Muito simpática. Gostei logo e pus-me a magicar que se calhar podia dar-me ao luxo de pagar um alojamento e usufruir de um dia completamente a solo. Saquei do telemóvel e, sem o esperar, encontrei um lugar ideal nos arredores de Baden… pensei que não sabia como me tinha escapado quando tinha procurado… acho que era recente, devia ter sido acrescentado ao AirBnB há poucos dias. Só que… era uma pessoa particular, não estava a contar com uma reserva e tinha que trabalhar… só me poderia receber pelas 19 horas. Pois assim não. Para além de não me estar a ver entretido pelas ruas até essa hora, o frio começaria a apertar assim que o sol desaparecesse. Voltando ao primeiro plano então.
Em Baden fui encontrar uma simpática cidade de ruas tranquilas, casas tradicionais, com muita cor e características locais. Comecei por caminhar na direcção oposta ao centro histórico e cheguei ao casino, instalado num palacete rodeado por um belo jardim. Dali desci para a margem do rio Linmat. Há um passeio sombreado com frondosas árvores que acompanha o curso do rio. Vejo bancos para repouso dos passeantes e pessoas que por ali caminham. Não muitas. A água corre célere, azulada, límpida. Um café encerrado para a época, uma fonte que brota água.
Na margem oposta vejo uma antiga fábrica convertida em complexo habitacional. Chego ao fim natural daquele trilho, espreito algumas ruas antigas e atravesso a antiga ponte, feita de madeira e totalmente coberta. Vejo uma formação rochosa que se eleva, majestosa, do outro lado e verifico no mapa que existe um trilho que me conduzirá até lá.
É exigente. Por estranho que pareça o calor aberta, a uma escala suíça, mas estou bem agasalhado e suo muito. São muitos degraus por ali acima mas a vista vale a pena. Num banco, no banco em que planeava sentar-me um pouco, já se encontrava um homem, com o olhar perdido no horizonte urbano.
Agora volto ao centro, passando por uma outra ponte, mais moderna, que oferece o melhor ângulo para fotografar o tabuleiro coberto da antiga.
Deixo-me perder pelas ruas, fazendo os possíveis para que no fim não me escape nenhum. Dizer que me apaixonei por Baden seria algo exagerado, mas gostei imenso desta pequena cidade.
Vejo pacatas ruelas, pequenas praças onde se elevam árvores que nesta altura do ano se pintam das cores dourados de Outono.
Descubro a torre do relógio, uma estrutura impressionante, pelas suas dimensões majestosas e pela riqueza da decoração do próprio relógio. Passo sob ela, pois uma rua cabe debaixo da torre, e chego a uma praça mais moderna, muito concorrida. Parece, de certa forma, o início da nova Baden, apesar da diferença não ser assim tão drástica.
Sento-me num banco e como algumas bolachas de aveia, os últimos vestígios dos abastecimentos que trouxe de Portugal para me ajudarem a enfrentar os famigerados preços suíços. E afinal para nada: encontrei supermercados com produtos de muita qualidade e, procurando com algum cuidado, valores por vezes mais baixos do que em Portugal (caso das uvas, Nutella, yogurtes, para dar apenas alguns exemplos).
Depois encontro uma casa de banho pública, um património valioso para o viajante que passa o dia a cirandar numa cidade.
A tarde já vai longa. Sente-se a descida de temperatura. É hora de ponta, vísivel no aumento do número de pessoas nas ruas. Está talvez na altura de subir ao castelo, ou melhor, às ruínas do castelo. Sei onde se inicia a ascensão, tinha visto uma indicação.
Um trilho urbano delicioso. Começa por ser um lance de escadas ladeadas por paredes. Depois mais escadas, algumas rampas. De um lado e de outro há pequenas casas, espaços ajardinados, alguns de aspecto abandonado, que parecem ser lugares privados onde os proprietários vão apreciar as vistas, como um jardim particular em tamanho reduzido.
Continuo a subir, aproximo-me das primeiras ruínas. Há uma capela, passo por debaixo de um arco de pedra e estou na zona do castelo. Há várias pessoas por ali, algumas falando entre si em inglês. Namorados, amigos. Um grupo de três homens de mais idade, talvez na casa dos setenta, chega, marchando, em grande estilo, hikers de longa distância e longa data, com canas robustas em vez dos modernos sticks de caminhada.
Fico por ali um pouco, a recuperar do esforço da subida e a sentir o ambiente. No torreão mais alto três jovens acendem um charro. Mesmo ao seu lado o outro trio, o dos veteranos, parece não se importar nada.
Dali vejo a cidade toda. Uma perspectiva de 360 graus, incluindo a complexa estação ferroviária, com muitas linhas. Dali a instantes estarei numa daquelas plataformas, preparando-me para embarcar para Zurique.
Já vão sendo horas. Baden está vista e o meu anfitrião de Zurique espera-me. Tenho tudo combinado e coordenado. É um timing perfeito. À hora marcada, claro, arranca a composição. Mudança de plataforma na estação central de Zurique e logo estou a caminhar em direcção a casa.
As coisas não vão correr especialmente bem. O Raphael não está muito comunicativo no Whatsapp e acabo por levar uma seca de 45 minutos. Era suposto ir ter ao escritório, mas sem resposta tinha decidido seguir para casa e ali fico, sentado numa mesa do restaurante encerrado, enquanto a noite cai. Não me causa especial desconforto para além da percepção da falta de consideração. Mas pronto. Mais um serão sem grande piada, com alguma conversa circunstacial.