Que dia longo, completo e perfeito! Tomar o pequeno-almoço logo à abertura, às 7:00, já que há uma longa viagem pela frente. Sabe tão bem como na véspera, melhor ainda, já que o senhor da tosse não está lá.
Terminada a refeição é só passar pelo quarto para apanhar as mochilas. Adeus quarto, fui feliz aqui. Depois, deixar a chave na recepção e encontrar o carro ainda inteiro e no mesmo lugar.
O dia está limpo. Promete. Começar a conduzir, rolando uns poucos quilómetros até chegar ao desvio para a P16, a estrada que atravessa o mar de sal de Chott El Djerid. À saída da cidade o trânsito está intenso, mas logo fico sozinho no asfalto.
O mar não é tão impressionante como se pode imaginar observando o Google Maps. É mais um deserto do que um mar. Está basicamente seco. Depois de rolar uns quilómetros procuro o autocarro abandonado. Nem sei o que é, apenas reparei na marca no mapa, como uma atracção. Ora coisas abandonadas é comigo. Pensei que deveria ser interessante. Contudo, ao chegar ao ponto assinalado, nada. Um pedaço de estrada igual a todos os outros.
Depois de muito coçar a cabeça conclui que provavelmente a carcaça da viatura foi removida e já não existe nada para ver. Então, de repente, reparei num ponto, lá longe no horizonte, no meio do deserto de sal. Será aquilo? Faz sentido. Parece seguir para lá um estradão pelo solo seco. Deve ser. Depois de um momento de hesitação (ainda é uma boa distância e o tempo num dia assim tem de ser gerido), a caminho!
Um passeio interessante, em passo rápido, a fazer lembrar a visita ao C-47 despenhado na Islândia. E lá está ele, ao fundo, a ganhar contornos e depois a tornar-se bem definido. O autocarro abandonado. Como terá vindo aqui parar e porquê? Bem, uma série de boas fotografias, especialmente a preto e branco e depois regressar, até mais depressa, que se levantou vento a ficou algo desagradável.
A paisagem é deslumbrante. O deserto. Plano, vazio, seco. Mais à frente paramos num “ponto turístico”. Há pequenas lojas e um café. Tudo encerrado. Do lado de lá da estrada uma espécie de miradouro artificial no topo do qual ondula a bandeira tunisina. Há também uma curiosa escultura, parcialmente destruída. Um local muito fotogénico.
A seguir há uma paragem planeada. Tentar encontrar uma geocache, que teimará em não aparecer. Mas o local é fascinante. Trata-se da antiga Zaafrane, uma série de casas em ruína avançada que se encontram semi submersas em areia fina. Um cenário de filme, com palmeiras perfeitas espalhadas por pequenas dunas que envolvem esta antiga aldeia.
A viagem prossegue. Os quilómetros vão sendo vencidos, um após outro. No total serão quase 400.
Paramos numa aldeia que nos surge pela frente. Parece fascinante e mais tarde descubro que de facto é uma atracção turística. Chama-se Tamezret. Está calor, não se passa nada. Alguns homens conversam, sentados na paragem de autocarro. Subimos até ao ponto mais alto, onde se pode ver uma mesquita. De facto, muito interessante. E quando chegamos ao topo, uma surpresa: um grupo de uns 15 cicloturistas franceses refresca-se depois do que poderá ter sido uma refeição tomada no café-restaurante que ali se encontra.
Prosseguimos. Mais à frente um autocarro de turismo encontra-se parado junto a uns edifícios. Aprendi em Lanzarote a parar onde outros turistas param. Geralmente há algo que eu não sei mas que vale a pena ver. Aqui é um grupo de casas trogloditas. As primeiras que vejo. Espero pacientemente que os muitos turistas regressem ao seu autocarro e depois subo para obter uma perspectiva elevada do complexo.
Matmata foi uma desilusão. Esperava que fosse muito turístico, e era. Mas também esperava que tivesse mais substância. Afinal tudo o que de significativo encontrei foi um dos principais locais de filmagens.
Infiltrei-me numa excursão de franceses para entrar e fotografar o hotel onde Luke Skywalker vivia. Uma boa opção a pagar a taxa de fotografia pedida. O local não precisa de muito tempo, é mais do tipo de olhar em redor e voltar a sair.
Mais para a frente havia outra geocache a procurar, a segunda que não foi encontrada, mas tal como na primeira, valeu a pena. A sua localização é fantástica, junto à estrada, com vista sobre a aldeia de Toujane.
Fantástico. Na falta da cache bebemos um chá na pequena cafetaria existente no local. O dono deve viver próximo e quando vê turistas ali monta-se na motorizada e aparece rapidamente para ver se pode fazer negócio. A bebida não estava especialmente agradável, mas foi um um bom bocado ali passado.
E a seguir, ainda mais uma cache. Esta sim, encontrada, apesar das circunstâncias adversas: não havia rede de telemóvel no local mas encontrei-a, às cegas, usando um pouco de lógica. Um pequeno milagre e finalmente uma caixinha encontrada.
Foi no ksar Al Halluf. E foi um momento mágico. Ninguém no local. Uma tarde que avança, o calor mais brando, um ambiente especial. Deu para explorar aquele lugar com história nas calmas, tirar boas fotografias. E depois trepar a colina ali por detrás onde me lembrava de ter visto que se localizava a tal cache. Uma vez lá em cima, encontrei-a facilmente. Fabuloso.
Já não estávamos longe do nosso destino para hoje, Chenini. Na realidade não será feita mais nenhuma paragem. Mais uns 50 km e estaremos em casa.
Chegamos a Chenini pouco antes do pôr-do-sol. Depois de atravessar Tataouine são mais uns 15 km, passamos pela nova Chenini e chegamos ao ponto assinalado. Mas agora não sabemos onde fica o nosso alojamento. Ficamos ali meio perdidos, meio zonzos pela beleza do local, pela sorte de termos descoberto este sítio para pernoitar. E enquanto estamos ali assim, aparece um tipo que se apresenta como o gerente do “nosso” AirBnB. Pronto, não encontrámos, fomos encontrados.
Agora é subir até lá, já com as mochilas, tendo deixado o carro parqueado um pouco mais abaixo.
Inicialmente fiquei um pouco decepcionado porque, erro de principiante, tinha a ideia que tinha reservado um pequeno apartamento, ou seja, com cozinha. Mas não, era “só” um quarto. Mas que quarto! O local loge eliminou qualquer resquicio de frustração. Que maravilha! Um alojamento troglodita, escavado na rocha, tudo pintado de branco, rústico e espartano mas visualmente maravilhoso.
Havia mais hóspedes nessa noite: um jovem casal de franceses e uns belgas que tinham vivido na Tunísia.
Mas agora chegava um momento especial: elevava-se no céu o chamamento para a oração que se segue ao pôr-do-sol. A aldeia está dormente, a luz é dourada e a magia daquele som paralisa, dá arrepios. É uma altura que sempre aprecio neste tipo de locais. Lembro-me de algo semelhante em Mardin, no Curdistão Turco.
Um homem passa por um dos caminhos que conduzem à mesquita. Vai atrasado para a sua obrigação de muçulmano, passo rápido. E o dia aproxima-se do fim.
Haverá ainda o jantar, um repasto digno de reis, não muito diferente do que comemos em Sousse. Mas um pouco mais económico. É servido no restaurante do alojamento, um pouco afastado. Apenas nós e os dois casais que estão a pernoitar em Chenini. Um belo jantar com conversa entre as mesas. Fechar com chave de ouro este dia.