Não me canso de dizer isto: Chenini é imperdível, é um daqueles locais que marca, que fica na memória, mesmo daqueles que andam por esse mundo fora vendo as coisas mais incríveis.
Cada minuto passado aqui foi bem aplicado. E além de tudo é também uma boa base para passeios na região, como veremos hoje.
O dia começou com o pequeno-almoço, bom, servido na mesma sala. Do nosso anfitrião nem sinal. Apenas uma mulher jovem, que viemos a saber ser a sua irmã. Comeu-se bem e depois da refeição deu-se início às andanças, que começariam ali mesmo, com a exploração da parte antiga de Chenini, onde ainda vivem algumas pessoas.
No início um guia propôs-nos os seus serviços, mas a resposta é sempre a mesma, preciso do meu espaço. Sem insistir o senhor regressou e ficámos com o local por nossa conta. Não estava por ali mais ninguém.
Foi um calcorrear de recantos, metendo o nariz no interior de casas abandonadas, imaginando a vida que um dia ali ocorria. Alguns dos edifícios estavam em melhores condições e era mesmo possível ver traços mais sólidos da sua utilização: embalagens antigas, recipientes em barro.
Há mais do que uma rua. O cenário é quase labiríntico, apesar das vias serem lineares. A questão é que só se consegue passar de um para outro nível em pontos específicos.
Lá em baixo as crianças dirigem-se para a escola. A quietude envolve Chenini. Do ponto mais alto vê-se a planície e, mais atrás, as montanhas. Um carro evolui na estrada que aqui conduz, um pequeno ponto em movimento, sem som.
Está na hora de dar por concluída esta exploração. Vamos regressando calmamente. Voltamos a passar junto à mesquita e descemos para o carro. Está na hora de bater a zona. A ideia é visitar as outras duas aldeias históricas que por aqui existem: Doiret e Guermassa.
Começamos pela primeira, seguindo pela estrada que aqui nos trouxe, mas no sentido oposto. É um troço tranquilo, não sei mesmo se me cruzei com alguém. São 27 km que se vencem num instante, por entre paisagens magníficas.
Passamos primeiro pela aldeia moderna, tranquila, deserta. Há galinhas e crianças. É a única vida à vista.
Umas centenas de metros mais à frente ergue-se imponente a cidadela da antiga aldeia, com a mesquita mais abaixo, quase ao nível da estrada.
O carro é parqueado no bem arranjado espaço preparado para o efeito. Só mais uma viatura se encontra por ali e os seus ocupantes estão de partida. Vamos ter Doiret só para nós.
Primeiro uma subida até à mesquita. Dali continuamos a subida e só lá em cima percebemos a grandeza da aldeia. Há uma longa estrada a meia encosta e está ladeada de casas abandonadas.
Vamos andando por ela, chegamos a um local que seria o centro da aldeia: há um poço, uma palmeira que resiste, bancos e uma mesquita com um pequeno minarete que se pode subir.
No regresso ao carro passamos por um casal que caminha com o seu guia privado. O calor começa a apertar. Vai ser um dia quente.
A próxima paragem será o ksar Ouled Soltane, recomendado pelo nosso anfitrião em Chenini. Para lá chegar há que passar por dentro de Tatouine e depois fazer mais um par de quilómetros.
Há uma pequena aldeia em redor do ksar, onde o carro descansa tranquilamente enquanto exploramos o local. É diferente do que vimos até agora: alguns dos edifícios do ksar têm múltiplos pisos. Não se encontra ninguém por lá para além de dois homens, um, dormindo no interior de uma janela, com um pé de fora. O outro, pintando. O primeiro deve ser um guia ou então o funcionário do café que está aberto e vazio.
Agora é seguir para a última paragem do dia, a aldeia antiga de Guermassa, não muito longe de Chenini. Passaremos de novo por Tatouine, observando um funeral que ocorre numa aldeia a meio caminho. Muita gente, vestes tradicionais, uma longa fila de homens que sobe em direcção a um pequeno ksar, no topo de uma colina próxima.
Também em Guermassa existe uma nova aldeia, que atravessamos até chegar ao que parece ser o acesso à antiga parte da localidade. Ainda vai ser uma bela subida a pé, e afinal, uma vez a meio da colina, percebe-se que existe uma acesso mais conveniente, que permite trazer o carro quase até às portas da cidade fantasma.
O bastião, bem no topo da colina pedregosa, é impressionante. Domina as imediações, tem ares de inexpugnável.
Para lá chegar há que caminhar por um trilho preparado para os visitantes, com algumas partes bem ingremes e com pedra solta. Esse caminho deixa-nos junto à antiga mesquita e daí é explorar livremente. E tanto que há para explorar!
As surpresas ainda não acabaram: na face oposta da colina há uma longa estrada, tal como em Doiret, ao longo da qual se encontram antigas casas, hoje em ruínas. Opto por subir mais, até porque acima se encontra uma geocache, que encontrarei. Não consigo contudo atingir a cidadela, ainda mais elevada e com um acesso indeterminado. Depois, é descer, regressar ao carro e regressar a Chenini.
Os dias da Tunísia estão a acabar. Este foi o verdadeiro último dia. Haverá ainda outra noite, mas já de preparação, de aproximação ao regresso.
Para voltar a Chenini tomei uma estrada não indicada no Google Maps. Foi uma excelente aposta. Piso novo, directo à aldeia, encurtando e muito a distância. Carro deixado no local de sempre e descansar.
Hoje não jantamos. Tínhamos pedido uma tigela, comemos cereais na casa da caverna. Mais tarde iremos ao restaurante beber um chá e conversar com os nossos vizinhos belgas, um longo serão de fértil conversa sobre as coisas do mundo e das viagens.