O que é um hostel? Bom, certamente é um estabelecimento de hotelaria. Ou seja, as pessoas pagam para dormir neles. É quase a única coisa consensual. São tidos como económicos, mas em alguns países são caros como o diabo. Há pessoas que imaginam que ficar num hostel implica partilhar o meu espaço com desconhecidos. Em alguns casos é, noutros nem por isso. Há os que incluem pequeno-almoço no preço e os que não o fazem. Os modernos a apelar para o mercado jovem e os pirosos. Os enormes e os pequenos. Na realidade é quase impossível definir o que é isto, em termos finais. O melhor é mesmo aderir aos lugares comuns, aquilo que a maioria das pessoas pensa que é um hostel: é barato, vocacionado para o viajante jovem e descontraido, e a opção mais económica é mesmo o “dormitório” ou “camarata”, em inglês o vulgo “dorm“. Com quantas mais camas mais barato. Geralmente em beliche, chegam a haver quartos com capacidade para mais de 30 hóspedes. Mas a média, diga-se em abono da verdade, é bem inferior… 8 ou 10 pessoas, talvez. Quase todos têm uma cozinha à disposição dos clientes e os mais agradáveis dispôem de um ou mais espaços de convivio.
E porque é que têm saída? Já disse que são as opções mais em conta? Pois. São baratos. E quando são caros é porque o hotel comum ou a pensão o são ainda mais. Mas há quem adore o conceito e por mais rico que fosse continuaria a escolher ficar em hostel. Depois, a localização, que por artes mágicas tende a ser no centro, naqueles sítios de onde depois se vai a pé a quase todo o lado. E há algo de especial nesta coisa de chegar a um espaço onde existem grandes probabilidades de nas próximas horas os desconhecidos com que o vamos partilhar se tornem amigos ou, vá, pelo menos conhecidos.
Chega-se. Alguns preferem fazer a marcação com antecedência, e para esses o meio de reserva é na maioria dos casos o www.hostelworld.com, o website dominante no que toca a procurar e escolher hosteis. Mas o www.booking.com também inclui muitos estabelecimentos deste tipo e por vezes as condições oferecidas são melhores. Outras, não. É sempre melhor consultar ambos os websites, só para ter a certeza que conseguimos o melhor negócio. Há muita malta, mais amiga do improviso, que simplesmente bate à porta e pergunta se há camas livres, e geralmente há.
Tratada da papelada, alguém nos há-de mostrar as instalações. O quarto, os espaços comuns. Há que aprender as condições gerais… se há chá e café de borla, se o frigorifico pode ser usado. Como é com os cacifos? A porta do quarto fecha-se ou deve-se deixar aberta? Cada um terá o seu guião, os espaços e as ofertas de que se orgulham. Pode ser um jardim interior, um terraço no telhado, uma colecção de videos e de livros. E pronto, chegada a esta fase estamos por nossa conta. Depois, é fazer contactos, se nos apetecer, ou sair para a rua, explorar a cidade sem limites.
Chega a hora da deita e potencialmente os problemas. Os vizinhos de quarto podem ser barulhentos. Ou os do quarto ao lado. Podem, mas geralmente não são. Depois de muitos e muitas noites passadas em dormitórios, apenas uma vez ou outra fui incomodado, geralmente de forma bem acidental e por um curto espaço de tempo. O mais incomodativo pode ser o ressonar, nada que uns tampões de ouvido não resolvam. Mas apesar destes problemas, que têm sido mais potenciais do que reais, continuo fã incondicional do ambiente de hostel. Adoro aquele trocar de impressões e de informação constante. De onde vieste? Para onde vais? Como é aquilo lá? A sério!? Porreiro… e algum sítio que não possa perder? Ah… OK… OK…. óptimo… olha, obrigadão, não me vou esquecer. Ou então os longos serões de volta de uma garrafa de vinho, a conversar sobre as coisas da vida e do mundo com perfeitos desconhecidos, só pelo prazer de o fazer. Há sempre algo a ganhar deste contacto com outros viajantes. Ideias, informação e mesmo alguns bens… aquele mapa que já não é preciso mas a mim vai dar jeito, o bilhete de transportes públicos que ainda está válido por mais dois dias.
E depois, há os próprios colaboradores do hostel, fontes importantes de conhecimento local, geralmente prontos a resolver qualquer problema, a obter detalhes sobre isto ou sobre aquilo caso não detenham a informação de momento.
É curioso observar a que a cultura de hostel muda, ligeiramente, de país para país, e muito mais de continente para continente. Em Portugal são casos sérios, levados a sério pelos seus proprietários, sempre nos prémios dos melhores hosteis do mundo, dominando pela qualidade. Vai-se para a Ásia e tornam-se em pequenos hotéis económicos, com dormitórios mas também quartos que são a preços tão baixos que se tornam padrão.
Se gosto de hosteis? Sim, gosto. Gosto de poupar, de poupar de tal forma que o que deixo de gastar em hóteis, apartamentos, guesthouses e afins, me dá para pagar a viagem seguinte. Gosto de conhecer pessoas e fazer amizades. De ter informação de qualidade. Do ambiente jovem e descontraido. Das diferentes personalidades de cada hostel. De forma que em artigos vindouros vos narrarei algumas das experiências mais interessantes que tive pelos hosteis desse mundo fora.