Último dia com o Flo. Tenho pena de mudar, senti-me aqui muito bem, pelo ambiente intimista, quase feito à minha medida, mas também pelo anfitrião, pela localização priviligiada, pelo accesso Internet rápido. É Sábado, e à tarde ele vai até à sua cidade natal, jogar uma partida de basquetebol com velhos amigos. Mas antes disso visitaremos juntos Schönbrunn, o antigo palácio imperial que associarei sempre à figura de Sissi, a imperatriz encarnada por Rommy Schneider no filme com o mesmo nome, quando ela diz: “Vamos voltar para Schönbrunn, onde fui tão feliz.” Antes disso contudo visitarei o museu militar, já que ontem se encontrava encerrado.Tento acordar cedo para tirar o máximo partido do dia, mas só parcialmente o consigo.
Chego ao museu pouco depois da sua abertura e compro o ingresso e um suplemento para poder fotografar – sem flash – o que desejar. Custa-me cerca de €6,50. A visita revela-se algo decepcionante. A decoração do palácio onde se encontra a exposição é riquissima, mas as salas são demasiado amplas para o conteúdo que lhes é confiado. As peças encontram-se assim esparsas, deixando-me uma sensação de vazio. Por outro lado a inexistência de legendas em inglês não ajuda em nada a melhorar a imagem que o museu me vai deixando. Quando saio para o exterior, em busca do parque de tanques, a decepção antinge o nível máximo: não encontro ali veículos do exército alemão da II Guerra Mundial, como era referido no Guia American Express. O material ali depositado está ao abandono, assemelhando-se em alguns casos a amontoados de ferro velho, sem qualquer atavio ou brio. Uma lástima. A visita só não é considerada como tempo e odinheiro perdido porque mesmo assim me são dadas a ver algumas peças com interesse relacionadas com a II Guerra Mundial. Quando saio do museu o tempo já não é muito.
Apresso-me em direcção a Schönbrunn onde o Flo me aguarda às 11 horas. Mas perco-me na transição do eléctrico para o metropolitano e acabo por me atrasar vinte minutos. De início encontro-me algo decepcionado com o palácio. Visto de perto, não parece grande espingarda. É ao afastar-me que ele ganha majestosidade, e os seus jardins amplos e recheados de atracções são com toda a justiça considerados Património Mundial. Calcorreamos tudo aquilo, percorrendo quilómetros e quilómetros. Encontramos a velha fonte que deu o nome ao palácio, a passamos por zonas repletas de esquilos. Na extremidade oposta ao palácio, encontramos muitos turistas, incluindo um vasto grupo de portugueses. Vai-se fazendo tarde e temos que regressar: ele tem que se encontrar com um amigo que lhe dará boleia, e eu deverei ir recolher as minhas coisas para me encontrar com o Thomas pelas 15:00 na estação de metro de Ottakring. Deixo o palácio para trás, com uma certa pena de não lhe poder dedicar o tempo que gostaria. Para além de estar com o Flo, o dia e a hora são de demasiados turistas. Gostaria de respirar o romantismo que guardo na minha memória associado aos filmes da série Sissi que tiveram este local como cenário. Talvez uma próxima vez…
Tento adaptar-me à minha próxima residência. O ambiente aqui é evidentemente mais liberal: estão lá dois marmanjos, um de saida, e outro com o qual terei que partilhar o sofá. Dois brancos de rasta, um alemão e um grego. Saem para uma volta pela cidade pouco depois de eu chegar. E passado um bocado sigo-lhes o exemplo. Sinto-me bem, e caminho com gosto pelas ruas. O tempo continua excelente. Aproveito para me aproximar de uma das inúmeras zonas nobres da cidade, áreas que habitualmente evito para fugir às multidões de turistas, mas que em Viena são incontonáveis. A sumptuosidade é de tal forma que se torna irresistível. Apesar de trazer comigo nesta viagem um guia de Viena, o ritmo a que tudo sucede é tão elevado que não há a menor hipótese de planear as visitas, nem sequer de me aperceber exactamente o que estou a ver. Numa praça da cidade vejo um monumento aos soldados soviéticos que aqui tombaram em combate na II Guerra Mundial, algo de majestoso, criado por detrás de uma fonte que jorra uma cortina de água impressionante. Tudo isto, muito próximo do palácio de Belvedere, que não terei a oportunidade de visitar no decorrer da minha estadia.
Antes de chegar aqui encontrei por mero acaso um detalhe magnífico: num jardim de um pequeno palacete observo com curiosidade um pincel gigante, que se encostava a uma palete de cores, baseada num arbusto sobre o qual se encontravam grupos de flores; mesmo ali ao lado, de novo formadas por vegetação verde, estão as telas, pintadas a flores. Soube mais tarde, pelo Thomas, que se tratava da sede da associação de jardineiros da cidade. O sol põe-se e o telefone toca… é o meu anfitrião a dar-me indicações sobre a melhor forma para chegar até eles. Vamos tomar um copo, comer qualquer coisa antes. Escolhemos um restaurante israelita, bastante informal. A comida é excelente, e, uma vez mais, bastante mais barata do que seria em Portugal. Pago por uma soberba “pita” recheada até ao limite com ingredientes vegetarianos algo como €3,30. Depois, para acabar a noite vamos até um bizarro bar, bastante bem composto, onde encontramos uma mesa livre mesmo à justa. É o final de mais um dia.